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Dendê na mesa: entenda por que comida baiana faz parte do almoço de Semana Santa no estado

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Dendê na mesa: entenda por que comida baiana faz parte do almoço de Semana Santa no estado

Uma explicação para a popularização do consumo de comida baiana na Sexta-feira da Paixão é que a maioria dos pratos não possui carne vermelha, mas há outro fator que fortaleceu esta tradição

Dendê na mesa: entenda por que comida baiana faz parte do almoço de Semana Santa no estado

Foto: Mateus Pereira/GOVBA

Por: Leticia Alvarez no dia 29 de março de 2024 às 10:31

Atualizado: no dia 29 de março de 2024 às 11:48

Sexta-feira Santa em Salvador garante, quase sempre, um almoço embebido em dendê. Com vatapá, farofa, abará e camarão seco, por vezes um caruru completo é posto à mesa de vários baianos durante a data religiosa. Engana-se, no entanto, quem acredita que a tradição é seguida por todos “a ferro e fogo”.

A Sexta-feira da Paixão, como também é chamada a data simbólica na doutrina cristã, encoraja a abstenção da carne vermelha por parte dos fiéis, como forma de jejuar em respeito ao sacrifício feito por Jesus na crucificação. E é aí que a comida com dendê entra na história do feriado, pelo menos na Bahia.

Uma explicação para a popularização do consumo de comida baiana na Sexta-feira da Paixão é que a maioria dos pratos não possui carne vermelha, já que os frutos do mar são a principal fonte de proteína destas receitas, então elas se tornaram alternativas mais que bem-vindas para compor o cardápio daqueles que celebram a data.

Há também outra versão para justificar essa prática: a importação de crenças e hábitos alimentares da África Ocidental, região que engloba países com influência direta na história de Salvador e do Recôncavo, como Nigéria, Senegal e Guiné-Bissau. Ao Metro1, o professor da Escola de Nutrição e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Vilson Caetano explicou a ligação. 

Durante o período de colonização, os africanos foram obrigados a cumprir os gostos do catolicismo português, inclusive, segundo o antropólogo, a aderir a obrigatoriedade de não consumir carne às sextas-feiras e dias santos, como Natal, Corpus Christi, entre outros. O professor explicou que, mesmo assim, quando eles começaram a elaborar “comidas para fazer memória da morte de Jesus, fizeram a partir do seu sistema culinário”.

“Os africanos que estavam no litoral se beneficiaram com o que estava disponível nos mangues, mares e rios, criando uma alimentação profundamente ligada às suas tradições com a predominância do azeite de dendê e outros produtos como a pimenta, gengibre e o coco”, afirmou Vilson Caetano.

“O que assistimos na Sexta-feira da Paixão nada mais é do que uma grande celebração africana. Eles não acreditam na morte nem como passagem, nem como fim e sim como continuidade. Está se rememorando a entrada de Jesus no mundo dos antepassados e isso é feito com comidas de azeite e bebidas”, acrescentou.