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"Pais e mães não deixam o filho ver o morto", critica o médico Neif Musse

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"Pais e mães não deixam o filho ver o morto", critica o médico Neif Musse

O médico cardiologista Neif Musse falou durante o programa especial Entre Páginas desta terça-feira (28), que trata sobre a morte, sobre as escolhas que precisou fazer como profissional, ainda jovem. [Leia mais...]

"Pais e mães não deixam o filho ver o morto", critica o médico Neif Musse

Foto: Tácio Moreira / Metropress

Por: Stephanie Suerdieck no dia 28 de julho de 2015 às 17:52

O médico cardiologista Neif Musse falou durante o programa especial Entre Páginas desta terça-feira (28), que trata sobre a morte, sobre as escolhas que precisou fazer como profissional, ainda jovem. “Naquela época, quando eu era mais novo, começou-se a destruir os serviços públicos de saúde. Constatou-se a morte cerebral de uma menina. Ela ficou sob os meus cuidados. Fiquei a noite toda com ela. Mas naquela noite, apareceu um pai de família necessitando do mesmo aparelho que ela estava. Tive que fazer uma escolha de Sofia. Era ela ou o homem. Ela já estava morta. Eu tive que tomar uma decisão. Eu tinha apenas 24 anos, era um médico inexperiente”, lembrou, afirmando que uma das coisas que doem são essas histórias.

“Porque cada um de vocês teme a morte. Bom, quando morre uma pessoa e você ainda vai ao velório, a morte é ligada ao transcendental, a algo que não conseguimos lidar. A pessoa foi para outro lugar. Isso é um sustentáculo para diminuir a nossa dor. Quando vemos um morto, pensamos na nossa dor”, disse o médico, ao pontuar que o transcendentalismo vem caindo nos últimos tempos pelo fato das pessoas estarem cada vez mais individualistas. “Cada vez há mais individualismo. É possível chegar no shopping com dez amigos e cada um ficar no iPhone. Esse individualismo tira os pilares do transcendentalismo. Essas pessoas param de sofrer ao mencionar a morte, a tal ponto de negá-la. Todos nós nos lembramos e muitos que estão aqui sabem que as pessoas morriam em casa, junto dos seus familiares. Servia-se bolo, café, possivelmente, acarajé aqui na Bahia, e as pessoas passavam a noite toda ao lado do morto. Hoje, a primeira pneumonia que tem a pessoa já é levada para um hospital. Muitos estudantes de medicina só vão conhecer um morto no necrotério da faculdade, porque os pais e as mães não deixam o filho ver o morto. Então a criança nasce, cresce e torna-se um adolescente sem saber o que é um morto. É uma forma de negação. Negá-la é uma forma de escondê-la, jogá-la de baixo do tapete”.