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Bolsonaro e briga de família

Eu mesmo já participei de algumas festas literárias e adoro o movimento que a Flipelô, por exemplo, dá ao Pelourinho e adjacências; porém, como nem tudo são flores e muitas vezes o rigor criativo dá lugar às vicissitudes de produção
Foto: Reprodução
No rastro da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), diversas festas e feiras literárias são realizadas no país inteiro. O que é bom. Umas mais outras menos bacanas, pululam flis-alguma- -coisa promovendo encontros, oficinas, palestras, vendas de livros, debates etc. O que é bom. Eu mesmo já participei de algumas e adoro o movimento que a Flipelô, por exemplo, dá ao Pelourinho e adjacências. Porém, como nem tudo são flores e muitas vezes o rigor criativo dá lugar às vicissitudes de produção, sempre me lembro daquela feira ou festa literária cujo nome, graças a deus, já esqueci (o Google me lembrou: Festival Literário de Poços de Caldas — Flipoços. Talvez pra lembrar fundo do poço), que convidou, em pleno 2013, o poeta Paulo Leminski, morto em 1989, para participar da edição do ano seguinte. Aquele mesmo dos 7x1! Bem humorado, o gestor do perfil do autor de “Catatau” respondeu: “Adoraria, mas, infelizmente, eu morri”.
No último fim de semana visitei em São Paulo aquele que considero o maior poeta vivo (e o mais vivo dos poetas): Augusto de Campos. Sua obra, cada vez mais reconhecida no mundo inteiro, mantém uma juventude arrasadora. Sua presença física e sua conversa, se bem que um tanto envergada pelos 92 anos, também impressionam pelo que têm de jovial. Levei meu filho João, com 9 anos recém completados. E não pude deixar de lembrar que neste 2023 completam-se 70 (eu disse 70!) anos da série “poetamenos”, que Augusto compôs com carbonos coloridos, baseado nas melodias de timbres de Anton Webern, e preconfigurou as atuais telas de LCD usadas nos smartphones como aqueles que meu filho e seus amiguinhos passam o dia futucando sem saber o quanto daquilo devem àquele senhor idoso ali em nossa frente.
Que eu saiba, nenhuma mesa de nenhuma de todas essas festas literárias teve a dignidade de enriquecer seu currículo abordando o legado de “poetamenos”. O pior, para mim, é pensar que, assim como o povo lá da Flipoços não sabia que Leminski morreu, ninguém que organiza tais eventos tenha consciência da vitalidade e/ou sequer da existência do poema. Na música “Anjos Tronchos”, de seu último álbum, Caetano Veloso louva o lado do ambiente digital, das redes sociais, em que “há poemas como jamais ou como algum poeta sonhou”. O poeta é Augusto de Campos. E estou citando Caetano porque sei que muitas vezes esse povo passa tempo demais ouvindo (embora não muito bem) música e lendo pouco livro. E não muito bem. De qualquer forma, meu filho já sabe. E o poeta pulsa, “quer o vejam quer não”, o pulsar quase mudo.
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