Bahia
Prefeitura de Palmeiras remove quilombolas de sede para abrigar nova secretaria da Cultura: "Contrassenso"
Local é ocupado por loja de artesanato da comunidade há oito anos
Foto: Divulgação
A comunidade quilombola do Corcovado, em Palmeiras, na Chapada Diamantina, recebeu mais uma má notícia nos últimos dias. A loja de artesanato do Corcovado será removido de sua atual sede, na Praça Dr. José Gonçalves, central no município, para dar espaço à nova Secretaria de Cultura e Turismo.
De acordo com nota de repúdio, o local é ocupado pelos quilombolas há oito anos, após pacto celebrado entre a Prefeitura de Palmeiras e a comunidade. No espaço cedido, é feita a exposição e comercialização dos produtos confeccionados a partir da extração sustentável da palha do licuri e do cipó.
"Estamos perplexos porque a justificativa para a remoção do Corcovado é abrir espaço à recém-criada Secretaria de Cultura e Turismo. É um paradoxo, um contrassenso, uma piada de mal gosto que para abrir as suas portas, a secretaria de cultura tenha de jogar pra escanteio os poucos que ainda resistem produzindo cultura no município", afirma nota assinada pelo Projeto de Desenvolvimento do Território Quilombo de Corcovado.
Segundo o projeto, o prefeito Ricardo Guimarães havia prometido, no início deste ano, enviar um projeto de lei de autoria do Executivo para a Câmara Municipal com a intenção de regularizar a cessão do imóvel ao Corcovado.
"A comunidade, porém recebeu a notícia sem indignação, nem perplexidade. O Corcovado está acostumado a ter seus direitos sistematicamente sonegados e violados pelos poderes públicos, inclusive - e sobretudo - pelo poder municipal: direitos como o acesso sistema de abastecimento de água, à energia elétrica, que só chegaram em 2015; direitos como o acesso a educação, à saúde e ao direito de ir e vir, sonegados até hoje por ausência de equipamentos públicos de qualidade e pela existência de uma estrada que é motivo de desonra e de vergonha para toda a cidade", diz nota.
A estrada citada é a que liga o Corcovado à sede de Palmeiras, que chega a ter o acesso bloqueado pelo lixão da cidade.
"A maneira como a prefeitura trata a questão da estrada, aliás, é muito emblemática do tratamento desigual que ela destina aos seus cidadãos: para a Estrada do Capão, a Prefeitura realiza consulta pública sobre o modelo da pavimentação; para a do Corcovado, a prefeitura destina apenas as sobras, deposita o lixo de toda a cidade que se acumula a tal ponto de interditar o acesso à comunidade", afirmam.
Ainda segundo os quilombolas, tentaram conversar com o prefeito antes de divulgar nota de repúdio, e a resposta recebida foi que os artesãos não vão ficar desamparados. "O Corcovado não precisa nem nunca precisou do amparo da Prefeitura. O que o Corcovado quer e merece é respeito", diz representante.
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