Bahia
Fake news sobre vacinas esvaziam postos e podem causar o retorno da poliomielite
Notícias falsas relacionam vacinas a casos de autismo e obesidade; especialistas descartam ligação
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
As notícias falsas, as chamadas fake news, divulgadas sobre as vacinas que combatem a febre amarela e a poliomielite dão um exemplo de quão nociva a falta de informação pode ser.
Através de um grupo no WhatsApp, a dona de casa Lourdes Silva recebeu o áudio de uma suposta médica que listava motivos para comprovar que a imunização era “extremamente nociva”. “Ela explicou que as pessoas terão sérios problemas por causa das reações”, comentou sobre a vacina da febre amarela.
Bahia lidera risco de retorno da polio
Dados do Ministério da Saúde mostram que 63 cidades do estado não vacinaram nem metade das crianças que compõem o público-alvo da imunização no ano de 2017. A taxa, segundo o coordenador de Imunização da Secretaria de Saúde do Estado, Ramon Saavedra, tem sido baixa desde 2016.
“A medida em que a cobertura vacinal vai sofrendo queda, o risco vai aumentando. O que mantém livre da doença é o mecanismo de vacinação. No caso da polio, existe uma meta de 95% de vacinação para ser alcançada e, desde 2016, a Bahia não têm conseguido alcançar essa meta”, explicou.
De acordo com a Sesab, em 2017 só 70% do público-alvo foi vacinado no estado. “Em relação a Febre Amarela, a cobertura em 2018 também ficou em 68%. Existe uma linha de ação para tentar combater essas notícias [falsas] que têm colocado a população em risco”, completou Saavedra.
Fake news ligam vacinas a casos de autismo
No Youtube, os vídeos que incentivam a rejeição da imunização contra a polio e Febre Amarela acumulam milhares de visualizações e atribuem casos de autismo e obesidade aos medicamentos. Um deles, intitulado de “A bula assustadora da vacina contra a Febre Amarela” – que tem como fonte “uma enfermeira” que sequer foi identificada – afirma que o medicamento contém uma alta dose de mercúrio e incentiva a substituição por uma pomada à base de andiroba. “Eu não tomei. Estão querendo exterminar a população”, diz um dos comentários .
Boato foi causado por “interesse comercial”
De acordo com a diretora-geral do Hospital Couto Maia, Ceuci Nunes, a relação entre as vacinas e o autismo é fruto de uma farsa já descoberta, mas que ainda circula pela internet. “Em 1998, uma revista conceituada internacionalmente publicou um estudo que associava a [vacina] tríplice viral ao autismo. Em 2010, a própria revista retirou esse estudo, pois era uma fraude. O médico que fez esse artigo tinha interesses comerciais. Então, até hoje as pessoas falam isso [da relação com o autismo]. Mas já foi descartado”, explicou.
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