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‘Morte trágica para a nossa própria história’, diz Débora Diniz sobre vítima de Covid-19 após parto na BA

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‘Morte trágica para a nossa própria história’, diz Débora Diniz sobre vítima de Covid-19 após parto na BA

Moradora da região de Trancoso, Rafaela da Silva de Jesus, de 28 anos, morreu no último dia 1º

‘Morte trágica para a nossa própria história’, diz Débora Diniz sobre vítima de Covid-19 após parto na BA

Foto: Divulgação

Por: Juliana Almirante no dia 08 de abril de 2020 às 09:43

A antropóloga e professora da Universidade de Brasília Débora Diniz comentou, em entrevista à Rádio Metrópole, na manhã de hoje (8), a morte da baiana Rafaela da Silva de Jesus, de 28 anos, vítima de Covid-19 após ser internada uma semana depois do parto.

Moradora da região de Trancoso, Rafaela era professora e estudante de pedagogia. A filha dela, recém nascida, também testou positivo para o coronavírus, mas não apresenta sintomas.

“O estado da Bahia, ao que se sabe, foi o que apresentou a primeira história trágica de uma mulher que morreu uma semana após o parto. É uma história dramática. Ela vinha por anos tentando engravidar e, quando ela consegue engravidar, ao que parece, ela foi infectada pelo coronavírus no sistema de saúde após o parto e morreu. Aqui é uma morte que é absurdamente evitável. Uma morte trágica para a nossa própria história”, afirmou.

Ela fez o comentário em uma avaliação sobre os riscos da pandemia do coronavírus às mulheres brasileiras. A antropóloga falou tanto do risco de trabalhadoras quanto de mulheres que estão em uma casa com agressores.

“Se nós tivemos uma mulher que é trabalhadora doméstica e estiver nos ouvindo, ela é a prova de como somos tocadas diferente. Uma mulher caixa de mercado. Quando as políticas de saúde dizem isolamento social e ela vai para uma casa que coabita com uma dezena de pessoas. Caso ela possa se trancar e não morrer de fome, nem fazer com que seus filhos morram de fome, ela pode estar trancada com seu agressor. Vivemos em um país com um dos maiores índices de violência contra a mulher”, alerta. 

Débora diz que a pandemia atinge as mulheres de forma diferente, porque são elas que, muitas vezes, exercem funções de cuidado na sociedade.

“Então porque essa é uma epidemia que toca diferente as mulheres? Porque temos regras abstratas de proteção da população e nós vivemos nossos corpos e nossas relações. As mulheres são as que movem a economia do cuidado, do cuidado doméstico e os trabalhos do cuidado, os quais são considerados essenciais para que as medidas de proteção à população funcionem”, justifica.