Faça parte do canal da Metropole no WhatsApp >>

Quinta-feira, 25 de abril de 2024

Home

/

Notícias

/

Cultura

/

Com ‘Brasileiro’, Silva evita ser ‘primo pobre da Beyoncé’

Cultura

Com ‘Brasileiro’, Silva evita ser ‘primo pobre da Beyoncé’

Cantor recorre a Darcy Ribeiro e Anitta para dar vida a novo álbum

 Com ‘Brasileiro’, Silva evita ser ‘primo pobre da Beyoncé’

Foto: Divulgação

Por: Alexandre Galvão no dia 01 de junho de 2018 às 18:30

Prestes a completar 30 anos, o cantor Silva lançou na última semana o seu quinto álbum, “Brasileiro”. A produção, como o nome indica, fala dos ritmos e do povo tupiniquim. Ele, que até então flertava muito com ritmos estrangeiros, decidiu trabalhar com sons locais.

“Comecei a brincar mais com isso. As batidas do candomblé, o ijexá, coisas que eu comecei a achar lindo e entender musicalmente. Foi um processo muito divertido imergir na nossa música”, contou, em entrevista ao Metro1.

Silva buscou referências também na literatura para compor o novo trabalho. “Eu li Darcy Ribeiro e isso mudou demais a minha cabeça. Com certeza influenciou o disco e essa vontade de ser mais brasileiro. A gente fica querendo imitar demais o que vem lá de fora e fica sendo o primo pobre da Beyoncé. Não vejo problema em ouvir música estrangeira, não vou cuspir no prato que comi, mas a gente tem que se reconhecer”.

Confira a entrevista completa:

M1Você acabou de vir de um CD muito bem recebido pela crítica, que foi o “Silva Canta Marisa” e apresentou agora “Brasileiro”. O nome do CD se refere ao passeio que você faz nos ritmos do nosso país?

S – Eu acho que a turnê cantando Marisa Monte me trouxe coisas legais de público. Isso foi caminhando para chegar no Brasileiro, que são minhas referências, deixando claro as coisas que gosto, explorar os ritmos brasileiros, que é uma coisa que eu explorava pouco. Comecei a ficar apaixonado pelo ritmos. Só na Bahia, você vai ficar muito meses estudando para entender o que rola. Não vou falar que fiz o dever de casa todo, mas comecei a brincar mais com isso. As batidas do candomblé, o ijexá, coisas que comecei a achar lindo e entender musicalmente. Foi um processo muito divertido de emergir na nossa música.

M1O que deu esse start na sua percepção de que o novo trabalho deveria ser por aí?

S – Foi um processo de amadurecimento, pois sou um músico que começou pela internet. Tinha 22 anos quando lancei as primeiras músicas. Faço 30 esse ano. Fui amadurecendo, me aproximei mais do violão. Comecei a estudar mais, praticar mais. Fui amadurecendo como músico, fazendo mais shows. Esse da Marisa me exigiu mais cuidado com a voz, estudo com a música. Isso foi me deixando melhor como cantor. Acho que foi isso. Chegou nessa coisa, nesse momento que a gente está.



M1O Brasil passa por um momento conturbado na política, na economia, e isso tudo bagunça nossa o cotidiano. O CD tem reflexos disso ou é mais uma fuga do caos?

S – Ele reflete essa questão de ser brasileiro, com algumas críticas, mas sutil. É meu jeito de ser. Eu gosto de dar bom dia para as pessoas no elevador, gosto de tratar as pessoas iguais. Agora, não é por estarmos em um momento difícil, que vou usar uma guitarra distorcida e colocar a língua pra fora. Meu protesto é mais sereno. Quis falar de coisas importantes, como o amor, talvez seja a hora que a gente tem que mais que exercitar o amor.

M1No canto da capa do CD tem uma data, que é a data do nascimento de Darcy Ribeiro. Foi uma influência para o trabalho?

S – Exatamente isso. Achei que seria mais difícil de descobrir (risos). Ler o Darcy mudou a minha vida. Eu não tinha muita cultura nesse tipo de leitura e um amigo me deu para ler. Isso mexeu demais na minha cabeça. Várias coisas ele coloca ali de uma forma didática e ensina. Mexeu muito comigo de alguns meses para cá. Com certeza influenciou o disco e essa vontade de ser mais brasileiro, a gente fica querendo imitar demais o que vem lá de fora e fica sendo o primo pobre da Beyoncé. Não vejo problema em ouvir música de fora, não vou cuspir no prato que comi, mas a gente tem que se reconhecer.


 

M1Você é multi-instrumentista, além de compositor. Isso ajuda o seu trabalho a ter mais sua cara?

S – Ajuda muito. Quando vem um produtor de fora, ou uma pessoa que não é você, trabalha nas suas composições, vai influenciar no processo. Não que isso seja ruim. Vários artistas têm casamento com o produtor. Como tenho essa autonomia, sei o piano, o violão, o violino… Essas coisas ajudam, pois a ideia vem na minha cabeça e sei executar. Se você se concertar bem, fica mais a sua cara.

M1Você tem uma formação musical muito voltada para a música clássica. Quem ouvir o seu novo CD também encontra traços do passado musical?

S – Ouve uma coisa assim. Sempre tive apego com melodia. Sempre foi a coisa mais importante, mais que letra. Meu irmão, que é quem compõe comigo, sempre foi o cara da literatura. Sempre foi de ler muito. Li muito menos que ele e sempre fui de escutar música, sempre gostei muito de melodia. Eu acho que isso [da melodia] tem nos outros trabalho, com outra roupa, outras estéticas, e fui mantendo esse carinho.

M1 – Sobre as faixas do CD, você tem como música de trabalho “A Cor é Rosa”. O que te levou à escolha?

S – É uma música muito alegre, diferente de tudo que lancei nos últimos tempos. O último single foi “Beija Eu”, que é de amor, mais intensa, tem uma pegada meio soul. E essa “A Cor é Rosa” tem um ritmo, que nem sei descrever, meio baiano. Tem um pouco do congo do Espírito Santo, tem uma mistura diferente e é muito alegre. Quis chegar desse jeito, cor de rosa, alegria. Esse disco foi feito no verão, comecei em janeiro. Tem essa positividade. Esse sol.

M1 E como surgiu o trabalho com Anitta?

S – A Anitta veio de uma vontade que eu tinha de participação no disco. Veio no final do disco, quase sendo gravado, e aí eu, meu irmão e meu melhor amigo, que faz a minha parte visual, pensamos em uma participação. Coloquei quem eu admiro como brasileiro e ela era o primeiro nome. Para mim, era inacessível, eu pensei que não iria rolar. O não eu já tinha. Mandei a música, ela gostou muito, já me escreveu no primeiro dia, trocamos WhatsApp e começamos a planejar. Ela mandou vocal, começamos a falar de clipe, foi ótimo trabalhar com ela, que é tão grande, mas trabalha tanto.

M1Na faixa “Milhões de Vozes” parece que você fala muito do fenômeno de manada na internet. É isso?

S – Essa música foi composta pelo Arnaldo Antunes e eu adoro ele. Ele tinha essa coisa comigo. A gente se encontrou algumas vezes, tava nessa promessa de trabalho junto, mandei a melodia, ele me mandou dois dias depois a música. Fiquei emocionado, pois ela diz tudo que eu queria dizer. Achei legal. Foi um presente. Reflete muito esse momento do país.

M1Para a gente finalizar, queria te colocar em uma enrascada. Qual sua faixa favorita do CD?

S – Prova dos Nove. Eu acho que é uma música... me sinto muito bem tocando, ouvindo, me deixou muito feliz de ter feito. Fico muito feliz com ela.