Faça parte do canal da Metropole no WhatsApp >>

Domingo, 31 de março de 2024

Cultura

Duda Beat aposta em 'sofrência pop', rechaça título indie e vê afinidade com Pablo do Arrocha

Eleita artista revelação do ano pela APCA, cantora e compositora se apresenta neste domingo em Salvador; leia entrevista

Duda Beat aposta em 'sofrência pop', rechaça título indie e vê afinidade com Pablo do Arrocha

Foto: Divulgação / Vidafodona

Por: Juliana Rodrigues no dia 14 de dezembro de 2018 às 06:00

Pela primeira vez na capital baiana, onde se apresenta neste domingo (16) no pátio do Goethe-Institut / ICBA, a cantora e compositora Duda Beat pretende trazer ao público um novo jeito de "sofrer dançando". Em seu disco de estreia, "Sinto Muito", lançado em abril de 2018, a artista pernambucana se inspira na própria vivência para cantar amores frustrados em roupagem que mistura brega, reggae, rap e música latina. O trabalho foi listado entre os 50 melhores álbuns do ano segundo a Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), além de levar Duda a ser escolhida como Artista Revelação pelo mesmo júri.

Em entrevista ao Metro1, Duda fala sobre a "sofrência pop" presente em seu trabalho, comenta as expectativas para o primeiro show em Salvador e revela o desejo de cantar com dois ícones da música baiana: Pablo e Ivete Sangalo. Confira:

Metro1: Como foi o processo de produção e elaboração do disco "Sinto Muito"? Como surgiu esse conceito de traduzir as suas dores em relação à sofrência, aos amores que você viveu?

Duda Beat: Isso foi um pouco doloroso para mim, porque em vários momentos durante o processo eu tive que revisitar as minhas dores. As coisas que eu vivi, as tristezas pelas quais eu passei. E ao mesmo tempo foi muito prazeroso, porque era uma coisa que eu queria muito realizar, e eu tinha um time exemplar ao meu lado, então foi muito bom. O processo todo durou dois anos, mas de produção mesmo, do disco, foi um, mais ou menos. Como eu não tinha dinheiro, eu tive que trabalhar para pagar cada coisa, então foi um pouco demorado por conta disso. Mas no final saiu do jeito que eu queria, do jeito que nós queríamos. 

M1: Você diria, então, que foi um processo de cura através da arte? 
DB: Totalmente. Eu acho que quando a gente se machuca com alguma coisa, com alguém, e a gente consegue transformar esse sentimento em alguma coisa palpável para a gente, para a nossa vida, que transforme a nossa vida e a vida de outras pessoas, isso já é um sintoma de cura. E eu acho que o disco não só me curou como curou muitos dos meus ouvintes. Eu recebo muitas mensagens e relatos de pessoas que ouviram o disco, que o disco mudou a vida delas, que estavam se recuperando de um relacionamento que teve fim, então eu tive muita sorte de conseguir tanto ajudar os outros como me ajudar, de certa forma, com esse disco.

M1: O que te levou a escolher "Bixinho" como primeiro single? Você achava que seria uma música que traduziria bem a ideia do álbum para o público?
DB: Eu na verdade escolhi a "Bixinho" como single porque ela é uma faixa diferente das outras. Em todas as outras eu tô um pouco sofrida, e nessa faixa eu experimento o amor não-romântico, o amor desapegado, que é uma coisa muito atual, então acabou que, no envolvimento, no calor, assim... Acho que foi um pouco de feeling também, meu e do Tomás [Troia, produtor do disco], de escolher essa música como single, porque é uma música latina, uma música que estava em alta, uma música gostosa de se ouvir, e é uma música que sai um pouco da rota do disco, então preferimos trabalhar com ela. 

M1: Algumas críticas classificam o seu trabalho como "sofrência indie", e também há quem te defina como representante da "nova MPB". Dentre essas definições que foram dadas, com qual você concorda mais? Como você definiria o seu trabalho?
DB: Eu defino o meu trabalho como sofrência pop. Eu acho que indie me coloca em um nicho em que, primeiro, eu não quero estar, e segundo, porque me limita um pouco, e eu acho que meu disco é pop. Meu disco tem uma faixa que é um brega, uma faixa que é um reggae, outra que é um trap, uma faixa que é uma música mais latina, e isso já dialoga com vários públicos diferentes. Então, se isso não é pop, é o quê, né? (risos) Para mim é isso, para mim ele é pop, porque eu dialogo com diversos públicos, e ao mesmo tempo é universal. A minha letra é universal, é fácil de ser absorvida, não é uma letra difícil. Eu não uso termos rebuscados e não deixo a minha música "nichada". Pelo contrário, eu a abri ao mundo. Então, é sofrência sim, óbvio que é sofrência, eu estou sofrendo mesmo, a não ser na "Bixinho", mas eu tô sofrendo e eu concordo totalmente, mas eu acho que ela é pop, porque ela dialoga com diversos públicos.  

M1: Você já teve algum contato com a produção musical de "sofrência" da Bahia? O arrocha, Pablo, Silvano Salles...
DB: Amo. Amo o Pablo. Curto muito.

M1: Você conseguiria traçar algum tipo de paralelo ou ligação entre a sua música e o arrocha? No quê a sua música se aproxima e se distancia desse tipo de "sofrência"?
DB: Eu acho que se aproxima... Os próximos singles, eles são todos meio brega, meio arrocha, meio forró, é uma misturinha de Recife e Bahia que se aproxima bastante, que é a sofrência para dançar. Eu acho que se aproxima nisso. Mesmo se a pessoa está se lamentando, ela está dançando com aquilo. Eu acho que dialoga bastante, achei uma ótima comparação, na verdade, porque cada vez mais eu quero ir para esse lado mesmo. E esse lado é um lado pop da música, é um lado diferente, mas é pop. Então eu acho que tem tudo a ver. Eu gravaria com Pablo, sem sombra de dúvida. Acho que a gente tem tudo a ver. Tanto sonoramente, principalmente nas próximas faixas, como de letra, mesmo, e melodia, a gente se parece muito. Eu não vejo nem muita coisa contra, não. Eu vejo até mais coisas correspondentes. 

M1: Quando você fala em próximos singles, você quer dizer outras músicas do disco que você vai lançar como single? Ou tem coisa nova vindo por aí?
DB: Não, é coisa nova, já tem coisa nova, eu sou rapidinha (risos). Eu já tenho uns três "feats" [participações especiais] aí pra lançar, tem uma música minha que é uma versão da Lana del Rey, que eu já canto em shows, que se chama "Chapadinha na Praia", que é um forrozão. Tem muita coisa vindo por aí, e é tudo meio forró, pop, brega, é uma mistura. Latino... Minhas coisas são meio assim. Latino, pop, brega, eu acho que estou circulando por aí, por esse universo. Não tenho previsão de lançar ainda, mas já, já, sai. Daqui para o início, meio do ano que vem.

 

M1: Uma coisa que dá para perceber no seu disco é que as letras não só tratam da sofrência, como também trazem uma tomada de atitude, uma reação à pessoa que te fez mal. Isso aparece muito em "Pro Mundo Ouvir", "Bolo de Rolo" e "Egoísta". Foi uma preocupação para você colocar essa postura nas letras?
DB: Exatamente. É o revés do fundo do poço. A gente chega no fundo do poço e depois a gente precisa se levantar, precisa ter força. Tem gente que fica um tempo lá, eu respeito o tempo de cada um, mas eu fui no fundo do poço e eu precisei subir. Eu precisei subir porque eu precisava ser respeitada, entendeu? Eu até brinco que esse disco nasceu de uma necessidade de ser respeitada. E ainda bem que eu senti essa necessidade. Eu hoje até agradeço às pessoas que me fizeram sofrer, porque deu um start na minha vida, de uma coisa que eu já queria há muito tempo e que eu não tinha feito. Existe um empoderamento nas minhas letras. "Bolo de Rolo" é um hino de empoderamento. "Eu não vou buscar a felicidade em mais ninguém"... É realmente um grito de independência, mesmo, é muito importante esse momento que está acontecendo, então, não falar disso ia ser um absurdo. Ainda bem que falei disso, também, e pretendo falar mais, cada dia mais.

M1: Você foi premiada como Artista Revelação pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e também chegou a ser indicada para a categoria de melhor álbum. Seu disco também aparece em várias listas de melhores do ano. Como você vê essa repercussão?
DB: Olha, eu vejo de uma forma muito positiva. Eu costumo dizer que prêmio é uma coisa meio penosa, assim, porque eu não acredito que tem como você comparar um talento a outro e botar isso em disputa, sabe? Eu acho até um pouco desleal, eu acho que cada pessoa tem sua particularidade e seu lugar nessa situação, nesse meio. Mas é óbvio que eu me sinto muito lisonjeada, é um reconhecimento maravilhoso, é um prêmio que passa por críticos, pessoas que estão envolvidas em música há muito tempo. Então, eles me considerarem como um dos 50 melhores álbuns do ano no país é incrível. No fundo a gente espera por isso. Mas ao mesmo tempo eu acho uma coisa um pouco desleal, porque cada pessoa tem seu valor.

M1: Neste domingo você faz seu primeiro show em Salvador. Como está a expectativa?
DB: Desde criança eu sonho em conhecer a Bahia, nunca fui. Então eu estou com a expectativa a mil, eu estou ansiosíssima. Quero que chegue logo o dia, quero ir no Pelourinho, quero ver as pessoas da Bahia. É um lugar que as pessoas me pedem muito para ir, e eu já estava devendo isso há muito tempo. Então, quando surgiu essa oportunidade, a gente agarrou com unhas e dentes, porque eu sempre quis tocar aí, e eu tenho certeza que o povo vai ser muito caloroso comigo, como no Nordeste inteiro está sendo. Eu não espero menos da Bahia. Ainda mais porque eu vou participar com meu irmãozão de estrada, Hiran, que é baiano, que é maravilhoso, vocês ainda vão ouvir falar muito dele. É um orgulho da Bahia esse menino. 

M1: E quem sabe você não realiza seu desejo de fazer uma parceria com o Pablo...
DB: Isso, isso. Meu Deus, aí eu morro (risos). Porque parceria com o Hiran vai rolar. Com Pablo da sofrência, meu Deus do céu, eu vou morrer. Olha, meus sonhos de "feat"... Ele é um grande sonho, agora Ivete Sangalo, também... Meu sonho é que ela me descubra, ela ainda não me descobriu (risos). Eu até fico brincando... "Pelo amor de Deus, Ivete, estou aqui, I love you!" (risos).