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Segunda-feira, 25 de março de 2024

Política

'Brasil não é levado a sério em nenhum lugar do mundo', avalia Rubens Ricupero

Ex-ministro e diplomata critica projeto de 'destruição' promovido pelo governo de Jair Bolsonaro

'Brasil não é levado a sério em nenhum lugar do mundo', avalia Rubens Ricupero

Foto: Metropress

Por: Matheus Simoni no dia 15 de julho de 2020 às 09:24

O diplomata e ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero, analisou, em entrevista à Rádio Metrópole hoje (15), a imagem do país, em meio ao governo Jair Bolsonaro, no exterior. Conversando com Mário Kertész, ele afirmou que a situação nacional nunca esteve "tão negativa".

"O patrimônio que acumulamos ao longo de décadas, muito consolidado no período democrático faz 35 anos, foi dilapidado em muito pouco tempo. Esse governo tem um ano e meio, mas na área internacional, a obra de destruição avançou muito. Varia conforme as áreas de governo. Infelizmente esse governo não tem propriamente um projeto de construção. O presidente declarou mais de uma vez que é preciso desconstruir, destruir para depois construir alguma coisa. Esse governo é um projeto de demolição de tudo o que se construiu. Em algumas áreas é mais difícil. A Constituição Federal resiste e algumas instituições são mais sólidas. Outras, infelizmente, foram entregues a pessoas que avançaram para completar a obra de destruição", disse, durante o Jornal da Bahia no Ar.

Ainda segundo Ricupero, os setores onde a destruição é mais nítida são o Itamaraty, o Ministério da Educação, o Ministério do Meio Ambiente e Direitos Humanos. "Há cinco ou seis setores onde o avanço da destruição é muito grande. A prova é que hoje, infelizmente, o Brasil não é levado a sério em nenhum lugar do mundo, nem no continente com nossos vizinhos, que teriam por nós algum tipo de admiração. É uma política baseada numa visão do mundo equivocada, uma visão de uma facção sectária e lunática. No Itamaraty, se promovem seminários semanalmente com pessoas que são retiradas de um anonimato que nunca se ouviu falar para propalar as teorias mais absurdas que se pode imaginar. É um panorama triste. Nossos parceiros se resignaram a esperar por dias melhores. Infelizmente não vejo nenhuma perspectiva positiva enquanto essa orientação persistir", avaliou o diplomata. 

Questionado por MK sobre alguma relação do atual momento com o período da ditadura militar, Rubens Ricupero afirmou que há mais diferenças do que semelhanças. "O regime militar foi muito heterogêneo. Houve cinco presidentes militares e cada governo obedeceu a orientações que se distinguiam das anteriores e posteriores. Havia no governo militar um certo pensamento e uma direção que hoje não existe", apontou.

Sobre a eleição presidencial no Estados Unidos, previstas para novembro de 2020, Ricupero declarou que o Brasil pode se ver perdido no âmbito das relações internacionais. De acordo com o diplomata, a aproximação do país com a gestão de Donald Trump não tenta construir uma aliança duradoura com os Estados Unidos. "No momento atual, se as eleições fossem realizadas nos EUA, quase seguro que o presidente Trump teria perdido as eleições. Não sei como será em novembro, temos que esperar até ali. Mas tudo indica que a vantagem que o candidato democrata está ampliando dia-a-dia nas pesquisas seja difícil de eliminar. Se os democratas voltarem ao poder, o Brasil vai ficar numa situação difícil porque os democratas tomaram nota de que o governo brasileiro, não é que tenha se aproximado dos EUA, se aproximou do presidente Trump e tomou partido inclusive na política interna americana", afirmou.