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Sarney diz que delação da Odebrecht é "metralhadora" e cita negociação de Temer

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Sarney diz que delação da Odebrecht é "metralhadora" e cita negociação de Temer

O ex-presidente da República e ex-senador José Sarney(PMDB-AP) afirmou que a delação premiada da empreiteira Odebrecht, investigada pela Operação Lava Jato, é uma "metralhadora ponto 100". De acordo com reportagem do jornal Folha de S. Paulo, que revelou conversas entre o peemedebista e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, ambos discutiam que a oposição no Congresso estava resistindo à ideia de apoiar uma transição com Michel Temer na Presidência da República e que um apoio só foi aceito após "certas condições", que não foram detalhadas nas conversas gravadas pelo empresário.[Leia mais...]

Sarney diz que delação da Odebrecht é "metralhadora" e cita negociação de Temer

Foto: José Cruz/Agência Brasil

Por: Matheus Simoni no dia 25 de maio de 2016 às 19:30

O ex-presidente da República e ex-senador José Sarney(PMDB-AP) afirmou que a delação premiada da empreiteira Odebrecht, investigada pela Operação Lava Jato, é uma "metralhadora ponto 100". De acordo com reportagem do jornal Folha de S. Paulo, que revelou conversas entre o peemedebista e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, ambos discutiam que a oposição no Congresso estava resistindo à ideia de apoiar uma transição com Michel Temer na Presidência da República e que um apoio só foi aceito após "certas condições", que não foram detalhadas nas conversas gravadas pelo empresário.

De acordo com Sarney, a resistência foi vencida após uma intervenção do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). "Nem Michel eles queriam, eles querem, a oposição. Eles aceitam o parlamentarismo. Nem Michel eles queriam. Depois de uma conversa do Renan muito longa com eles, eles admitiram, diante de certas condições", disse Sarney a Machado, que assinou um acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR). Confira as conversas reveladas pelo jornal Folha de S. Paulo:

Primeira conversa
Sarney ­ Olha, o homem está no exterior. Então a família dele ficou de me dizer quando é
que ele voltava. E não falei ontem porque não me falou de novo. Não voltou. Tá com dona
Magda. E eu falei com o secretário.
Machado ­ Eu vou tentar falar, que o meu irmão é muito amigo da Magda, para saber se
ele sabe quando é que ela volta. Se ele me dá uma saída.
Machado ­ Presidente, então tem três saídas para a presidente Dilma, a mais inteligente...
Sarney ­ Não tem nenhuma saída para ela.
Machado ­...ela pedir licença.
Sarney ­ Nenhuma saída para ela. Eles não aceitam nem parlamentarismo com ela.
Machado ­ Tem que ser muito rápido.
Sarney ­ E vai, está marchando para ser muito rápido.
Machado ­ Que as delações são as que vem, vem às pencas, não é?
Sarney ­ Odebrecht vem com uma metralhadora de ponto 100.
Machado ­ Olha, acabei de sair da casa do nosso amigo. Expliquei tudo a ele [Renan
Calheiros], em todos os detalhes, ele acha que é urgente, tem que marcar uma conversa
entre o senhor, o Romero e ele. E pode ser aqui... Só não pode ser na casa dele, porque
entra muita gente. Onde o se nhor acha melhor?
Sarney ­ Aqui.
Machado ­ É. O senhor diz a hora, que qualquer hora ele está disponível, quando puder
avisar o Romero, eu venho também. Ele [Renan] ficou muito preocupado. O sr. viu o que o
[blog do] Camarotti botou ontem?
Sarney ­ Não.
Machado ­ Alguém que vazou, provavelmente grande aliado dele, diz que na reunião com
o PSDB ele teria dito que está com medo de ser preso, podia ser preso a qualquer
momento.
Sarney ­ Ele?
Machado ­ Ele, Renan. E o Camarotti botou. Na semana passada, não sei se o senhor viu,
numa quinta ou sexta, um jornalista aí, que tem certa repercussão na área política, colocou
que o Renan tinha saído às pressas daqui com medo dessa condição, delações, e que
estavam sendo montadas quatro operações da Polícia Federal, duas no Nordeste e duas
aqui. E que o Teori estava de plantão... Desculpe, presidente, não foi quinta não. Foi
sábado ou domingo. E que o Teori estava de plantão com toda sua equipe lá no Ministério
e que isso significaria uma operação... Isso foi uma... operação que iria acontecer em dois
Estados do Nordeste e dois no sul. Presidente, ou bota um basta nisso... O Moro falando
besteira, o outro falando isso. [inaudível] 'Renan, tu tem trinta dias que a bola está perto de
você, está quase no seu colo'. Vamos fazer uma estratégia de aproveitar porque acabou. A
gente pode tentar, como o Brasil sempre conseguiu, uma solução não sangrenta. Mas se
passar do tempo ela vai ser sangrenta. Porque o Lula, por mais fraco que esteja, ele ainda
tem... E um longo processo de impeachment é uma loucura. E ela perdeu toda... [...] Como
é que a presidente, numa crise desse tamanho, a presidente está sem um ministro da
Justiça? E não tem um plano B, uma alternativa. Esse governo acabou, acabou, acabou.
Agora, se a gente não agir... Outra coisa que é importante para a gente, e eu tenho a
informação, é que para o PSDB a água bateu aqui também. Eles sabem que são a
próxima bola da vez.
Sarney ­ Eles sabem que eles não vão se safar.
Machado ­ E não tinham essa consciência. Eles achavam que iam botar tudo mundo de
bandeja... Então é o momento dela para se tentar conseguir uma solução a la Brasil, como
a gente sempre conseguiu, das crises. E o senhor é um mestre pra isso. Desses aí o
senhor é o que tem a melhor cabeça. Tem que construir uma solução. Michel tem que ir
para um governo grande, de salvação nacional, de integração e etc etc etc.
Sarney ­ Nem Michel eles queriam, eles querem, a oposição. Aceitam o parlamentarismo.
Nem Michel eles queriam. Depois de uma conversa do Renan muito longa com eles, eles
admitiram, diante de certas condições.
Machado ­ Não tem outa alternativa. Eles vão ser os próximos. Presidente: não há quem
resista a Odebrecht.
Sarney ­ Mas para ver como é que o pessoal..
Machado ­ Tá todo mundo se cagando, presidente. Todo mundo se cagando. Então ou a
gente age rápido. O erro da presidente foi deixar essa coisa andar. Essa coisa andou
muito. Aí vai toda a classe política para o saco. Não pode ter eleição agora.
Sarney ­ Mas não se movimente nada, de fazer, nada, para não se lembrarem...
Machado ­ É, eu preciso ter uma garantia
Sarney ­ Não pensar com aquela coisa apress... O tempo é a seu favor. Aquele negócio
que você disse ontem é muito procedente. Não deixar você voltar para lá [Curitiba]
Machado ­ Só isso que eu quero, não quero outra coisa.
Sarney ­ Agora, não fala isso.
Machado ­ Vou dizer pro senhor uma coisa. Esse cara, esse Janot que é mau caráter, ele
disse, está tentando seduzir meus advogados, de eu falar. Ou se não falar, vai botar para
baixo. Essa é a ameaça, presidente. Então tem que encontrar uma... Esse cara é muito
mau caráter. E a crise, o tempo é a nosso favor.
Sarney ­ O tempo é a nosso favor.
Machado ­ Por causa da crise, se a gente souber administrar. Nosso amigo, soube ontem,
teve reunião com 50 pessoas, não é assim que vai resolver crise política. Hoje, presidente,
se estivéssemos só nos três com ele, dizia as coisas a ele. Porque não é se reunindo 50
pessoas, chamar ministros.. Porque a saída que tem, presidente, é essa que o senhor
falou é isso, só tem essa, parlamentarismo. Assegurando a ela e o Lula que não vão ser...
Ninguém vai fazer caça a nada. Fazer um grande acordo com o Supremo, etc, e fazer, a
bala de Caxias, para o país não explodir. E todo mundo fazer acordo porque está todo
mundo se fodendo, não sobra ninguém. Agora, isso tem que ser feito rápido. Porque senão
esse pessoal toma o poder... Essa cagada do Ministério Público de São Paulo nos ajudou
muito.
Sarney ­ Muito.
Machado ­ Muito, muito, muito. Porque bota mais gente, que começa a entender... O
[colunista da Folha] Janio de Freitas já está na oposição, radicalmente, já está falando até
em Operação Bandeirante. A coisa começou... O Moro começou a levar umas porradas,
não sei o quê. A gente tem que aproveitar ess... Aquele negócio do crime do político [de
inação]: nós temos 30 dias, presidente, para nós administrarmos. Depois de 30 dias,
alguém vai administrar, mas não será mais nós. O nosso amigo tem 30 dias. Ele tem sorte.
Com o medo do PSDB, acabou com ele no colo dele, uma chance de poder ser ator desse
processo. E o senhor, presidente, o senhor tem que entrar com a inteligência que não tem.
E experiência que não tem. Como é que você faz reunião com o Lula com 50 pessoas,
como é que vai querer resolver crise, que vaza tudo...
Sarney ­ Eu ontem disse a um deles que veio aqui: 'Eu disse, Olhe, esqueçam qualquer
solução convencional. Esqueçam!'.
Machado ­ Não existe, presidente.
Sarney ­ 'Esqueçam, esqueçam!'
Machado ­ Eu soube que o senhor teve uma conversa com o Michel.
Sarney ­ Eu tive. Ele está consciente disso. Pelo menos não é ele que...
Machado ­ Temos que fazer um governo, presidente, de união nacional.
Sarney ­ Sim, tudo isso está na cabeça dele, tudo isso ele já sabe, tudo isso ele já sabe.
Agora, nós temos é que fazer o nosso negócio e ver como é que está o teu advogado, até
onde eles falando com ele em delação premiada.
Machado ­ Não estão falando.
Sarney ­ Até falando isso para saber até onde ele vai, onde é mentira e onde é valorização
dele.
Machado ­ Não é valoriz... Essa história é verdadeira, e não é o advogado querendo, e
não é diretamente. É [a PGR] dizendo como uma oportunidade, porque 'como não
encontrou nada...' É nessa.
Sarney ­ Sim, mas nós temos é que conseguir isso. Sem meter advogado no meio.
Machado ­ Não, advogado não pode participar disso, eu nem quero conversa com
advogado. Eu não quero advogado nesse momento, não quero advogado nessa conversa.
Sarney ­ Sem meter advogado, sem meter advogado, sem meter advogado.
Machado ­ De jeito nenhum. Advogado é perigoso.
Sarney ­ É, ele quer ganhar...
Machado ­ Ele quer ganhar e é perigoso. Presidente, não são confiáveis, presidente, você
tá doido? Eu acho que o senhor podia convidar, marcar a hora que o senhor quer, e o
senhor convidava o Renan e Romero e me diz a hora que eu venho. Qual a hora que o
senhor acha melhor para o senhor?
Sarney ­ Eu vou falar, já liguei para o Renan, ele estava deitado.
Machado ­ Não, ele estava acordado, acabei de sair de lá agora.
Sarney ­ Ele ligou para mim de lá, depois que tinha acordado, e disse que ele vinha aqui.
Disse que vinha aqui.
Machado ­ Ele disse para o senhor marcar a hora que quiser. Então como faz, o senhor
combina e me avisa?
Sarney ­ Eu combino e aviso.
[...]
Machado ­ O Moreira [Franco] está achando o quê?
Sarney ­ O Moreira também tá achando que está tudo perdido, agora, não tem gente com
densidade para... [inaudível]
Machado ­ Presidente, só tem o senhor, presidente. Que já viveu muito. Que tem
inteligência. Não pode ser mais oba­oba, não pode ser mais conversa de bar. Tem que ser
conversa de Estado ­Maior. Estado ­Maior analisando. E não pode ser um [...] que não
resolve. Você tem que criar o núcleo duro, resolver no núcleo duro e depois ir espalhando
e ter a soluç... Agora, foi nos dada a chave, que é o medo da oposição.
Sarney ­ É, nós estamos... Duas coisas estão correndo paralelo. Uma é essa que nos
interessa. E outra é essa outra que nós não temos a chave de dirigir. Essa outra é muito
maior. Então eu quero ver se eu... Se essa chave... A gente tendo...
Machado ­ Eu vou tentar saber, falar com meu irmão se ele sabe quando é que ela volta.
Sarney ­ E veja com o advogado a situação. A situação onde é que eles estão mexendo
para baixar o processo.
Machado ­ Baixar o processo, são duas coisas [suspeitas]: como essas duas coisas,
Ricardo, que não tem nada a ver com Renan, e os 500, que não tem nada a ver com o
Renan, eles querem me apartar do Renan...
Sarney ­ Eles quem?
Machado ­ O Janot e a sua turma. E aí me botar pro Moro, que tem pouco sentido ficar
aqui. Com outro objetivo.
Sarney ­ Aí é mais difícil, porque se eles não encontraram nada, nem no Renan nem no
negócio, não há motivo para lhe mandar para o Paraná.
Machado ­ Ele acha que essas duas coisas são motivo para me investigar no Paraná.
Esse é io argumento. Na verdade o que eles querem é outra coisa, o pretexto é esse. Você
pede ao [inaudível] para me ligar então?
Sarney ­ Peço. Na hora que o Renan marcar, eu peço... Vai ser de noite.
Machado ­ Tá. E o Romero também está aguardando, se o senhor achar conveniente.
Sarney ­ [sussurrando] Não acho conveniente.
Machado ­ Não? O senhor que dá o tom.
Sarney ­ Não acho conveniente. A gente não põe muita gente.
Machado ­ O senhor é o meu guia.
Sarney ­ O Amaral Peixoto dizia isso: 'duas pessoas já é reunião. Três é comício'.
Machado ­ [rindo]
Sarney ­ Então três pessoas já é comício.
[...]
*
Segunda conversa
Sarney ­ Agora é coisa séria, acho que o negócio é sério.
Machado ­ Presidente, o cara [Sérgio Moro] agora seguiu aquela estratégia, de
'deslegitimizar' as coisas, agora não tem ninguém mais legítimo para falar mais nada.
Pegou Renan, pegou o Eduardo, desmoralizou o Lula. Agora a Dilma. E o Supremo fez
essa suprema... rasgou a Constituição.
Sarney ­ Foi. Fez aquele negócio com o Delcídio. E pior foi o Senado se acovardar de uma
maneira... [autorizou prisão do então senador].
Machado ­ O Senado não podia ter aceito aquilo, não.
Sarney ­ Não podia, a partir dali ele acabou. Aquilo é uma página negra do Senado.
Machado ­ Porque não foi flagrante delito. Você tem que obedecer a lei.
Sarney ­ Não tinha nem inquérito!
Machado ­ Não tem nada. Ali foi um fígado dos ministros. Lascaram com o André
Esteves.. Agora pergunta, quem é que vai reagir?
[...]
Machado ­ O Senado deixar o Delcídio preso por um artista.
Sarney ­ Uma cilada.
Machado ­ Cilada.
Sarney ­ Que botaram eles. Uma coisa que o Senado se desmoralizou. E agora o Teori
acabou de desmoralizar o Senado porque mostrou que tem mais coragem que o Senado,
manda soltar.
Machado ­ Presidente, ficou muito mal. A classe política está acabada. É um salve­se
quem puder. Nessa coisa de navio que todo mundo quer fugir, morre todo mundo.
[...]
Sarney ­ Eu soube que o Lula disse, outro dia, ele tem chorado muito. [...] Ele está com os
olhos inchados.
[...]
Sarney ­ Nesse caso, ao que eu sei, o único em que ela está envolvida diretamente é que
ela falou com o pessoal da Odebrecht para dar para campanha do... E responsabilizar
aquele [inaudível]
Machado ­ Isso é muito estranho [problemas de governo]. Presidente, você pegar um
marqueteiro, dos três do Brasil. [...] Deixa aquele ministério da Justiça que é banana, só
diz besteira. Nunca vi um governo tão fraco, tão frágil e tão omisso. Tem que alguém dizer
assim 'A presidente é bunda mole'. Não tem um fato positivo.
[...]
Sarney ­ E o Renan cometeu uma ingenuidade. No dia que ele chegou, quem deu isso
pela primeira vez foi a Délis Ortiz. Eu cheguei lá era umas 4 horas, era um sábado, ele
disse 'já entreguei todos os documentos para a Delis Ortiz, provando que eu... que foi
dinheiro meu'. Eu disse: 'Renan, para jornalista você não dá documento nunca. Você fazer
um negócio desse. O que isso vai te trazer de dor de cabeça'. Não deu outra.
Machado ­ Renan erra muito no varejo. Ele é bom. [...] Presidente, não pode ser assim,
varejista desse jeito.
[...]
Sarney ­ Tudo isso é o governo, meu Deus. Esse negócio da Petrobras só os empresários
que vão pagar, os políticos? E o governo que fez isso tudo, hein?
Machado ­ Acabou o Lula, presidente.
Sarney ­ O Lula acabou, o Lula coitado deve estar numa depressão.
Machado ­ Não houve nenhuma solidariedade da parte dela.
Sarney ­ Nenhuma, nenhuma. E com esse Moro perseguindo por besteira.
Machado ­ Tomou conta do Brasil. O Supremo fez a pedido dele.