Bahia
'Brasil não assume sua verdadeira identidade', diz Lazzo Matumbi sobre casos de racismo
Artista compara tensões raciais entre Brasil e EUA: 'Aqui, o inimigo está do lado da gente e está abraçando, podendo apunhalar ao mesmo tempo'
Foto: Metropress
O cantor Lazzo Matumbi comentou o assassinato de João Alberto Silva Freitas, homem negro assassinado no supermercado Carrefour, em Porto Alegre-RS. O artista lembrou como questão racial ainda é um problema no Brasil.
"A gente está num país em que isso ainda vai perdurar por muito tempo, porque esse país não assume sua verdadeira identidade. Desde sempre o Brasil sempre negou suas origens. Então, enquanto o Brasil continuar negando suas origens, a gente vai continuar a ter essas mazelas. Nós, sociedade, é que vamos ter que reciclarmos e redescobrirmos para poder entender isso e lutarmos juntos, porque fica parecendo que é uma questão só da comunidade negra. E não é, é uma questão da sociedade brasileira", afirmou o músico, em entrevista a Mário Kertész e Malu Fontes no Jornal da Metrópole no Ar da Rádio Metrópole de hoje (26).
Questionado sobre a naturalização do racismo no país diante das falas das autoridades públicas, como o vice-presidente Hamilton Mourão e o presidente Jair Bolsonaro, Lazzo falou que não se surpreende. Ele também destacou as diferenças entre Brasil e Estados Unidos ao abordar o papel da população negra.
"Isso não me assusta. Se você mergulhar um pouco na história do Brasil, ele sempre negou suas origens. Isso para mim não é novidade. Sempre que converso com meus amigos, digo que isso estava encubado e guardado em cada um dos brasileiros, principalmente entre aqueles que tentam continuar mantendo seus privilégios e ainda têm aqueles resquícios do colonialismo", afirmou o cantor.
"Me lembro que, quando eu combatia lá atrás, as pessoas diziam que eu que era racista e que racismo existe nos EUA. É mesmo? Engraçado isso. O grande problema lá é que a gente conhece o inimigo. Aqui, o inimigo está do lado da gente e está abraçando, podendo apunhalar ao mesmo tempo em que está abraçando. É uma característica do Brasil negar isso sempre", comentou.
Lazzo Matumbi também citou o papel da população em geral no combate ao racismo. Em resposta a Malu Fontes, o artista afirmou que é uma missão de todos ser antirracista. "A mudança só vai vir a partir de nossa mobilização como sociedade civil. Não adianta esperar do poder público porque ele é conveniente. O fato do tráfico de drogas, ele é conveniente para muita gente que está fora do tráfico. É muito fácil e conveniente apontar a culpa para o tráfico de drogas", apontou.
"Conversando com um amigo meu, o grande traficante de drogas ele tem muito dinheiro mas fica em sua casa no morro, tendo dentro de sua comunidade a melhor casa e o melhor carro. Se prevalece daquilo em detrimento aos outros semelhantes que são tão iguais. Mas quem se beneficia disso não está lá. É nossa sociedade que precisa, nós os excluídos e as pessoas que tenham sensibilidade e que sentem a necessidade de construção de um mundo melhor, aí sim, poder naturalmente mudar isso. Minha esperança são os jovens", disse Lazzo.
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