Faça parte do canal da Metropole no WhatsApp >>

Quinta-feira, 25 de abril de 2024

Home

/

Notícias

/

Bahia

/

'Brasil não assume sua verdadeira identidade', diz Lazzo Matumbi sobre casos de racismo

Bahia

'Brasil não assume sua verdadeira identidade', diz Lazzo Matumbi sobre casos de racismo

Artista compara tensões raciais entre Brasil e EUA: 'Aqui, o inimigo está do lado da gente e está abraçando, podendo apunhalar ao mesmo tempo'

'Brasil não assume sua verdadeira identidade', diz Lazzo Matumbi sobre casos de racismo

Foto: Metropress

Por: Matheus Simoni no dia 26 de novembro de 2020 às 12:52

O cantor Lazzo Matumbi comentou o assassinato de João Alberto Silva Freitas, homem negro assassinado no supermercado Carrefour, em Porto Alegre-RS. O artista lembrou como questão racial ainda é um problema no Brasil.

"A gente está num país em que isso ainda vai perdurar por muito tempo, porque esse país não assume sua verdadeira identidade. Desde sempre o Brasil sempre negou suas origens. Então, enquanto o Brasil continuar negando suas origens, a gente vai continuar a ter essas mazelas. Nós, sociedade, é que vamos ter que reciclarmos e redescobrirmos para poder entender isso e lutarmos juntos, porque fica parecendo que é uma questão só da comunidade negra. E não é, é uma questão da sociedade brasileira", afirmou o músico, em entrevista a Mário Kertész e Malu Fontes no Jornal da Metrópole no Ar da Rádio Metrópole de hoje (26). 

Questionado sobre a naturalização do racismo no país diante das falas das autoridades públicas, como o vice-presidente Hamilton Mourão e o presidente Jair Bolsonaro, Lazzo falou que não se surpreende. Ele também destacou as diferenças entre Brasil e Estados Unidos ao abordar o papel da população negra.

"Isso não me assusta. Se você mergulhar um pouco na história do Brasil, ele sempre negou suas origens. Isso para mim não é novidade. Sempre que converso com meus amigos, digo que isso estava encubado e guardado em cada um dos brasileiros, principalmente entre aqueles que tentam continuar mantendo seus privilégios e ainda têm aqueles resquícios do colonialismo", afirmou o cantor.

"Me lembro que, quando eu combatia lá atrás, as pessoas diziam que eu que era racista e que racismo existe nos EUA. É mesmo? Engraçado isso. O grande problema lá é que a gente conhece o inimigo. Aqui, o inimigo está do lado da gente e está abraçando, podendo apunhalar ao mesmo tempo em que está abraçando. É uma característica do Brasil negar isso sempre", comentou. 

Lazzo Matumbi também citou o papel da população em geral no combate ao racismo. Em resposta a Malu Fontes, o artista afirmou que é uma missão de todos ser antirracista. "A mudança só vai vir a partir de nossa mobilização como sociedade civil. Não adianta esperar do poder público porque ele é conveniente. O fato do tráfico de drogas, ele é conveniente para muita gente que está fora do tráfico. É muito fácil e conveniente apontar a culpa para o tráfico de drogas", apontou.

"Conversando com um amigo meu, o grande traficante de drogas ele tem muito dinheiro mas fica em sua casa no morro, tendo dentro de sua comunidade a melhor casa e o melhor carro. Se prevalece daquilo em detrimento aos outros semelhantes que são tão iguais. Mas quem se beneficia disso não está lá. É nossa sociedade que precisa, nós os excluídos e as pessoas que tenham sensibilidade e que sentem a necessidade de construção de um mundo melhor, aí sim, poder naturalmente mudar isso. Minha esperança são os jovens", disse Lazzo.