
Bahia
Fábio Vilas-Boas avalia experiência pessoal com a Covid-19 e rebate defesa por tratamento precoce: 'Desastre'
"Faz mal para a sociedade e faz com que as pessoas achem que tem alguma coisa que possa lhes proteger", disse secretário de Saúde da Bahia

Foto: Metropress
O secretário estadual de Saúde, Fábio Vilas-Boas, comentou sua experiência pessoal com a Covid-19 após se curar do coronavírus. O gestor chegou a precisar ocupar um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), mas se curou e retornou às atividades na pasta neste mês. Em entrevista a Mário Kertész hoje (9), durante o Jornal da Bahia no Ar da Rádio Metrópole, ele comentou que ele apresentou febre e muitos problemas respiratórios. Vilas-Boas chegou a precisar de oxigenação suplementar para se recuperar.
"A doença começa a causar uma piora entre o sétimo e o décimo segundo dia. Eu internei no sétimo, começando a piora da doença. Ao longo das 48h, eu não conseguia manter a saturação acima de 92%, mesmo fazendo uso de oxigênio suplementar. A decisão foi utilizar uma medicação bloqueadora de inflamatório, já que o corticoide não estava resolvendo", disse o gestor, que também relatou ter sofrido problemas musculares.
"Você fica encharcado de suor, camisa, lençol e coberta. O corpo parece que se desfaz, a carne vai se desfazendo com o suor. Junto com a dificuldade respiratória vem a fraqueza muscular. Você tem o que chamam de sarcopenia, que é uma destruição e uma liquefação dos músculos. Eu olho para minhas pernas, eu que faço exercício, e não acredito que esses cambitinhos eram as pernas que eu tinha há um mês atrás. Estou tentando recuperar", afirmou.
Questionado por Mário Kertész sobre a defesa de médicos e autoridades do chamado tratamento precoce, Fábio Vilas-Boas comentou que não se pode avaliar o atual momento da pandemia com o que foi defendido nos meses iniciais da proliferação do vírus. O secretário citou uma fala dele tirada de contexto no ano passado, onde ele confirmou a compra de medicamentos que não tinha eficácia comprovada contra o coronavírus.
"A verdade de abril de 2020 não é a verdade de março de 2021. Naquela época, não estávamos preconizando nada. Nós disponibilizamos, facultamos, autorizamos e compramos os medicamentos. Os médicos estavam dizendo que acreditam em cloroquina e hidroxicloroquina, não tinha nenhuma evidência científica naquela época. O que o estado fez: compramos, colocamos nos hospitais e autorizamos que os médicos prescrevessem para pacientes internados, não ambulatoriais", disse Vilas-Boas. "Depois veio uma avalanche de estudos mostrando ausência de benefício e um potencial risco, tanto para hidroxicloroquina quanto para ivermectina, o vermífugo que muitas pessoas acreditam, mas com muitos relatos de falência hepática e transplante hepático de urgência por dose excessiva", acrescentou.
Ainda de acordo com o gestor, a defesa desenfreada por esses medicamentos traz uma onda de desinformação para a população. "Essa preconização e defesa que vem sendo feita por grupos políticos, o que é um absurdo, tendo o presidente à frente, é muito ruim. É diferente de preconizar algo que tenha alguma eficácia quando você preconiza algo que não funciona. Mesmo que não faça mal, o indivíduo acredita, vai tomar aquele medicamento e não vai pegar a doença. É a tal da pílula da Aids. Poucas pessoas sabem, mas se o sujeito toma o comprimido na sexta-feira, for para a balada, passar o final de semana fazendo uma orgia sexual, ele não pega. Aqui, se você fizer isso, você pega. A pessoa toma ivermectina, vai para uma festa clandestina, acha que está se protegendo e acaba se contaminando e contaminando outras pessoas", declarou Fábio Vilas-Boas.
"A defesa dessa tese de que existe um tratamento precoce ou algo profilático é um desastre. Faz mal para a sociedade e faz com que as pessoas achem que tem alguma coisa que possa lhes proteger. A única coisa que pode proteger é máscara, distanciamento social e higiene das mãos", finalizou.
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