
Bahia
Bahia acelera na rota: frota de carros elétricos cresce 3.500% em Salvador em cinco anos
Bahia se consolida como vitrine fora do eixo Rio-São Paulo na revolução dos veículos eletrificados

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O que parecia tendência restrita a capitais do Sudeste virou febre também em Salvador e em outras cidades baianas. A frota de veículos elétricos e híbridos na Bahia deu um salto significativo: eram menos de 700 em 2020, hoje já passam dos 21 mil, segundo o Detran-BA. Só na capital, a arrancada foi ainda mais vistosa — de pouco mais de 300 para mais de 11 mil em cinco anos, um crescimento de 3.500%. A explosão de adesão coloca a Bahia entre os destaques nacionais e transforma o setor automotivo local, impulsionada pela chegada da BYD e pela vontade crescente de motoristas em gastar menos na bomba de gasolina.
Thiago Sugarrara, vice-presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), destacou que a Bahia ocupa a oitava posição entre os estados que mais emplacam veículos eletrificados. “Entre janeiro e agosto de 2025, a Bahia emplacou mais de 6,2 mil carros eletrificados, com destaque para os veículos elétricos e híbridos plug-in, que vêm crescendo ano após ano”.
Do posto para a tomada
Há estudos que mostram que a economia no uso de carros elétricos pode chegar a cerca de 70% em relação aos veículos que utilizam gasolina. E se o preço dos combustíveis já convence os bolsos, a isenção de IPVA para veículos elétricos de até R$ 300 mil é a cereja do bolo. O benefício tributário já atinge mais de 4 mil carros no estado, segundo a Sefaz (Secretaria da Fazendo do Estado).
O comércio e o setor imobiliário também embarcaram na onda e não perdem oportunidade. Shoppings da capital baiana disputam quem tem mais pontos de recarga. O Salvador Shopping, por exemplo, já registra mais de 80 recargas por dia — alta de 70% em um ano. Empreendimentos imobiliários também já são lançados com vagas elétricas (das privadas às coletivas) como atrativos.
Indústria em modo turbo
A instalação da fábrica da BYD em Camaçari, no lugar da planta da Ford, impulsiona não só a venda de carros, mas toda uma cadeia de serviços e empregos diretos e indiretos. Oficinas, concessionárias, arquitetos e até engenheiros elétricos surfam no novo ciclo econômico, que promete multiplicar empregos e mexer com a paisagem urbana. Pesquisas apoiadas pela ONU e desenvolvidas pela Unicamp e pela USP projetam que, até 2050, a eletromobilidade pode dobrar a geração de empregos no país, com renda 85% maior e mais bem distribuída do que a do modelo movido a gasolina. Para a Bahia, vitrine desse setor fora do eixo Rio-São Paulo, o impacto pode ser ainda maior: do chão de fábrica à logística, passando por técnicos, engenheiros e comércio.
“Um dos motivos que pode ajudar a alavancar a implementação e a comercialização de veículos eletrificados é a infraestrutura. É necessário que haja a maior previsibilidade e segurança para o investimento das empresas que querem instalar carregadores em supermercados e shopping centers. Para isso é importante que haja uma legislação equilibrada, com previsibilidade para os investimentos que estão sendo feitos em todo o Brasil”, destacou Sugarra, vice-presidente da ABVE.
Em Salvador, desde março, centros comerciais já são obrigados a instalar pelo menos um terminal de recarga junto às vagas de estacionamento disponibilizadas aos seus clientes. Já novos condomínios e edifícios devem ter no projeto a previsão de terminais de recarga.
Energia garantida
No fornecimento de energia, a Neoenergia Coelba garante que o sistema elétrico atual suporta a demanda crescente e prevê R$ 13,3 bilhões em investimentos até 2027 para expandir subestações e reforçar redes. Mas ainda não há tarifa específica de recarga nem políticas públicas mais amplas para acelerar a mobilidade elétrica. Até lá, a Bahia vai se consolidando como vitrine de uma revolução sobre rodas — silenciosa, mas nada discreta.
Brasil com a bateria pela metade
O Brasil tenta avançar na infraestrutura, mas a tomada nem sempre está tão perto quanto deveria. O país tem hoje 16.880 pontos de recarga, crescimento de 59% em um ano. Parece muito, mas só 23% são do tipo rápido — aqueles que carregam em até 20 minutos. E a distribuição é desigual: quase metade está no Sudeste, com São Paulo disparado na frente, sozinho com 4.678 pontos. Não à toa, o estado concentra também 30,9% da frota de elétricos do país, que chegou a 302.225 unidades em agosto. Enquanto isso, a China olha de longe e deve achar graça: são 16,7 milhões de pontos de recarga para 37 milhões de veículos.
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