Fundador do Ilê diz que ganhou apelido de 'Vovô' aos nove anos e lembra racismo em avião

O fundador e presidente do Ilê Ayiê, Antonio Carlos dos Santos, contou, em entrevista à Rádio Metrópole, na manhã de hoje (3), como ganhou o apelido de “Vovô”, que acabou ganhando o complemento do nome do primeiro bloco afro do Brasil.

“Tenho desde que tinha nove anos de idade. Eu estudava na Escola Parque e, um dia, chovendo, eu tinha paletó com calça curta. Aí os caras começaram a falar 'meu avô', dizendo eu parecia um velho. (...) Até os professores não me chamavam de Antônio Carlos, me chamavam de vovô. Minha irmã brigava, mas depois não teve jeito. Depois, com o Ilê Ayiê, incorporou”, lembrou. 

Vovô também criticou a dificuldade do povo baiano de reconhecer o racismo em si mesmo e relembrou um episódio de racismo que passou, ao retornar para o Brasil depois de uma viagem para os Estados Unidos, a convite do governo americano. 

“Quando pego avião de Miami para vir para aqui e entrei, fez aquele silêncio. Me chamaram de 'Bob Marley' e olhei para trás. Depois ‘rumaram’ uma almofada em mim. Aí eu peguei a almofada e fui até na frente olhar, todo mundo baixando a cabeça. Sentei do lado de uma mulher branca e começaram a chamar a mulher pra saber se estava tudo bem. Eu estava cansado e quando acordei, já tinham tirado ela”, recorda.

Pré-candidato a prefeito de Salvador pelo PDT, Vovô disse que pretende chamar atenção para a importância da representatividade, já que a cidade só teve até o momento um gestor negro. 

“Eu sou um dos pré-candidatos, mas eu não estou muito preocupado. Eu quero na verdade, não é criar racismo ao contrário nem criar novo apartheid, nada disso. Agora não é possível que uma cidade com quase 500 anos só teve Edvaldo Brito, prefeito tampão, que foi nomeado. Então estamos tentando sensibilizar os partidos. Eu não estou falando que vou ser. O objetivo não é sair vários candidatos, é concentrar”, ponderou.