
Bahia
Chapada: Falta de articulação entre prefeituras deixa brigadistas sem estrutura
Há mais de 20 dias o Parque Nacional da Chapada Diamantina, um dos maiores parques de preservação do país fora da região Amazônica, morre, aos poucos, por causa do fogo. O incêndio — que pode ter motivações criminosas — já consumiu mais de 15 mil dos 152 mil hectares de mata, destruindo espécies só encontradas no local. [Leia mais...]

Foto: Dimitri Argolo Cerqueira/Divulgação
Há mais de 20 dias o Parque Nacional da Chapada Diamantina, um dos maiores parques de preservação do país fora da região Amazônica, morre, aos poucos, por causa do fogo. O incêndio — que pode ter motivações criminosas — já consumiu mais de 15 mil dos 152 mil hectares de mata, destruindo espécies só encontradas no local.
Além da importância natural do espaço, a Chapada é também um dos principais roteiros turísticos da Bahia, com rios e cachoeiras que podem estar com os dias contados por conta do avanço do fogo. “A gente vai ter também uma escassez hídrica até que se recomponha boa parte da vegetação, assim também até que as chuvas se façam presente”, afirma o doutor em biologia e professor da Universidade Estadual da Bahia (Uneb), Arthur Gomes.
Para tentar conter as queimadas que avançam, moradores de cidades como Lençóis, Ibicoara, Mucugê, Palmeiras e de toda a região se uniram e mudaram suas rotinas para tentar salvar o local onde nasce o Rio Paraguaçu, responsável pelo abastecimento de água da região e que fornece 60% da água consumida em Salvador. Sem infraestrutura adequada e com a falta de apoio necessário, a união popular tem feito a diferença para tentar salvar a Chapada. É esta a história que a Metrópole conta agora.
Boa vontade, mas pouca estrutura
Há sete dias o empresário Daniel Moreira, de 34 anos, deixou o trabalho para trás e se juntou ao Grupo Brigada de Resgate Ambiental de Lençóis (Bral), de voluntários que tentar conter o avanço do fogo. Ele lamenta não ter como fazer mais. “Os nossos recursos já estão defasados. Tem tempo que a gente não recebe material de segurança, como botas, coturnos e luvas para combater o incêndio. Precisamos muito de equipamentos. Temos mais brigadistas do que equipamentos”, afirma.
Segundo Daniel, o grupo tem se mantido com a ajuda da população. “Sem eles, a gente não conseguiria fazer esse trabalho. A população civil acaba cobrindo essa lacuna que deveria ser papel do poder público”, cobra.
Rui pede ajuda da fab; foram R$ 7 mi em investimentos
No último domingo, cerca de 15 dias após o início do incêndio, o governo conseguiu, junto ao Ministério da Defesa, o envio de duas aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) para atuar na região. “Este ano, já investimos cerca de R$ 7 milhões para combater esse tipo de ocorrência, mas o trabalho precisa ser articulado entre os diversos poderes e segmentos da sociedade, e é isso que temos buscado”, disse o governador.
Os aviões Hércules da FAB se juntaram a quatro aviões Air Tractor e dois helicópteros enviados anteriormente pelo governador. Os brigadistas pedem apoio aéreo também à noite e de madrugada. “Precisamos de ajuda, porque as aeronaves só estão combatendo o fogo de manhã e de dia, em um curto horário, e a nossa brigada é mais efetiva durante a noite e a madrugada, pois o sol não está quente, temos uma temperatura mais amena e nesse horário não temos o apoio das aeronaves”, conta Daniel Moreira.
Prefeituras dão pouco ou nada
Para o conselheiro ambiental de Lençóis e membro da brigada de voluntários, Diego Serrano, falta articulação entre as prefeituras da região para intensificar as ações de combate. “A gente praticamente não vê nenhuma mobilização. O secretário [de meio ambiente de Lençóis] a gente praticamente não viu. Não tem a participação da Prefeitura”, reclama.
Apesar de não dialogarem entre si, segundo Serrano, a prefeitura de Mucugê é a que tem dado mais apoio às mobilizações e buscado formas para solucionar o problema. “A de Lençóis está superomissa. Pedimos uma doação e deram R$ 100. Depois, viram que a situação estava realmente fora de controle e deram mais R$ 300. A ajuda da Prefeitura foi essa“, conta.
“Profunda investigação”
O governador sobrevoou na última terça-feira (17) as áreas afetadas pelo incêndio e, com a possibilidade de ter motivações criminosas, pediu “uma investigação profunda”. “Vou falar com o secretário da Segurança Pública, Maurício Barbosa, para enviar agentes da Polícia Civil para investigarmos a fundo esses incêndios. Eles acontecem todo ano, mas os dois maiores focos do incêndio aconteceram à margem da BA-242 e há indícios de que foram provocados intencionalmente. Isso não pode acontecer”, disse. O governador reconheceu o trabalho que tem sido feito pelos brigadistas e prometeu apoio contínuo. “Quero, desde já, agradecer em nome do povo da Bahia a esses voluntários, que trabalham não só [no combate ao] incêndio [...] ao longo do ano”, afirmou.
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