
Brasil
Defesa de taxista diz que cantora “interpretou de forma equivocada” a agressão
O número é assustador: por mês mais de mil e cem mulheres denunciam violência física na Bahia, segundo dados da secretaria de Segurança Pública do estado. A média é de quase quarenta mulheres agredidas diariamente. Isso, quando elas criam coragem pra denunciar, como foi o caso da cantora baiana Aiace Felíx, que no último final de semana sofreu agressão física por parte de um taxista no bairro do Rio Vermelho, em Salvador [Leia mais...]

Foto: Reprodução/Rede Bahia
O número é assustador: por mês mais de mil e cem mulheres denunciam violência física na Bahia, segundo dados da secretaria de Segurança Pública do estado. A média é de quase quarenta mulheres agredidas diariamente. Isso, quando elas criam coragem para denunciar, como foi o caso da cantora baiana Aiace Félix, que no último final de semana foi agredida pelo taxista Antônio Ricardo Rodrigues Luz no bairro do Rio Vermelho, em Salvador.
Após a prisão em flagrante do taxista, a jovem se disse aliviada, mas relata a angústia e todo o transtorno que tem passado. “Eu sinto primeiro um peso muito grande nas costas por ter que estar carregando tudo isso. Embora eu saiba que muitas mulheres passam por isso todos os dias. Mas ao mesmo tempo, sinto um alívio por saber que ele foi preso. Tem sido, de fato, muito cansativo. Depois da agressão eu não parei, entrando em delegacia, indo a médico. Por conta de tudo isso, eu ainda não consegui retomar a vida. Tive que cancelar compromissos profissionais”, contou à Metrópole.
Segundo o delegado Antônio Fernando, que está à frente do caso, Ricardo vai responder pelos crimes de tentativa de homicídio, lesão corporal e injúria “Primeiro, tivemos dificuldade quanto a localização dele, já que ele evadiu-se. O indiciamos após ouvir as vítimas e entendemos que ele praticou esses dois delitos, até porque, a moça realizou o exame de corpo de delito e todos viram como ficou a face dela, totalmente deformada. Após tentar o atropelo, ainda partiu para a agressão física”, disse o delegado.
"Se ele quisesse agredi-la realmente, o estrago seria muito maior"
Após a audiência de custódia realizada na manhã da última terça-feira (5), o advogado do acusado, Rafle Salume, afirmou que o juiz decidiu pela prisão preventiva do taxista e, contestando o delegado, declarou que a decisão foi baseada apenas no clamor popular. “Nós queríamos a concessão da liberdade provisória e isso não foi efetivado o juiz converteu em preventiva pelo clamor social, o que na minha concepção não é fundamento idôneo para justificar tamanha medida. Estamos antecipando uma pena. O inquérito policial foi pautado apenas na versão da suposta vítima que chegou a delegacia e contou a sua história. Não há anexado aos autos exame de corpo de delito ou nenhum outro conjunto provatório que corroborasse com a versão dela. Há apenas o seu depoimento e tão somente. Meu cliente foi flagranteado sem a possibilidade de se manifestar. A prisão dele foi convertida a preventiva de forma ilegal. Ele hoje está preso pelo clamor social”, reclamou o advogado.
Ainda segundo Salume, a vítima “interpretou de forma equivocada” a agressão e seu cliente, em nenhum momento a agrediu. “Ela interpretou de uma forma equivocada. Veio até o seu carro [do taxista], em nenhum momento ele pronunciou nenhum assédio, qualquer ofensa a suposta vítima. Inclusive, os vidros estavam fechados, estava chovendo naquela noite. Ela bateu no vidro dele e ele questionou se ela queria uma carona. Ela, visivelmente alterada, começou a questionar se ela era propriedade dele e ele sem entender questionou: ‘Do que você está falando?’. Ela arremessou o copo de cerveja para dentro do veículo. Indignado, obviamente, ele retirou o seu carro da fila e saiu para questionar o que estava acontecendo. Um grupo de amigos dela a retirou da proximidade e houve a discussão. Mas em nenhum momento ele a agrediu, tanto é que ele pesa 130 quilos, tem quase 1,90 m. Se, por ventura, ele quisesse agredi-la realmente, o estrago seria muito maior. Ela se machucou na confusão com 7 ou 8 amigos a puxando”, argumentou o advogado.
Delegado diz que “agressão é evidente”
Apesar da justificativa da defesa, o delegado afirma que não há dúvida sobre a violência sofrida pela cantora. “Ele nega o óbvio. A lesão todo mundo viu, tanto que o olho dela tava daquele jeito. Ele diz, inclusive, que foi ela que agrediu ele. Mas o fato não foi bem assim, porque nós tivemos o cuidado de localizar os dois rapazes que na hora interviram e até pegaram luta com ele, porque ele é muito forte. Aquele soco que ela tomou foi o cidadão puxando ele, se ele pega de jeito, teria acabado com o rosto da moça”, disse o delegado.
Segundo o advogado do taxista, a defesa vai continuar trabalhando para que o acusado responda o processo em liberdade. “E assim não antecipamos a culpabilidade de alguém”, afirmou.
“Gostosa não é elogio, é assédio”
Antônio Ricardo Rodrigues Luz já foi encaminhado ao presídio. Agora, Aiace disse que espera por justiça e recomenda que outras mulheres tenham a atitude de denunciar em situações como esta. “Dá um alento muito grande ver que hoje as pessoas estão mais atentas a esse crime. O machismo é um crime, o machismo mata. Isso pode mudar, não pode ser assim. Um ‘psiu’, um ‘gostosa’, não são elogios, isso é assédio, isso é crime”.
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