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Executivos da Vale foram avisados sobre risco em barragens antes do desastre de Brumadinho

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Executivos da Vale foram avisados sobre risco em barragens antes do desastre de Brumadinho

Revelação foi publicada pelo estadunidense "The Wall Street Journal"

Executivos da Vale foram avisados sobre risco em barragens antes do desastre de Brumadinho

Foto: Corpo de Bombeiros de Minas Gerais

Por: Juliana Almirante no dia 05 de novembro de 2019 às 06:49

Executivos da Vale receberam um e-mail anônimo com advertências sobre a segurança das barragens da companhia duas semanas antes do desastre com rejeitos de mineração de Brumadinho, em 25 de janeiro deste ano, que deixou 270 mortos.

A revelação foi publicada pelo estadunidense "The Wall Street Journal". O texto do e-mail levou o executivo-chefe da empresa a procurar a identidade do autor e chamar essa pessoa de "um câncer", conforme um documento da polícia.

Autoridades avaliam a resposta do então executivo-chefe da Vale, Fabio Schvartsman- que deixou o posto em março-, enquanto investigam se uma cultura de retaliação na companhia contribuiu para o colapso da mina, localizada na região de Córrego do Feijão.  

O e-mail foi enviado no dia 9 de janeiro deste ano, a Schvartsman, ao atual executivo-chefe, Eduardo Bartolomeo, ao diretor financeiro, Luciano Siani Pires, e a outros executivos.

No texto, havia o alerta de que as barragens da companhia estavam "em seu limite", segundo um resumo de 15 páginas que consta no interrogatório a Schvartsman feito por policiais e promotores, ao qual o jornal teve acesso.

Um porta-voz afirmou que o e-mail era genérico e não trazia evidências, além de rejeitar a existência de uma cultura de retaliação na companhia.

Diretores-executivos da mineradora nunca tiveram conhecimento sobre um risco crítico ou iminente na barragem antes do colapso, de acordo com o porta-voz.

O advogado de Schvartsman também disse que seu cliente sempre atuou quando era CEO diante de reclamações quando elas incluíam informações concretas, mas este e-mail não teria fatos específicos. Bartolomeo e Pires não foram encontrados para comentar.

O e-mail anônimo, intitulado "A Verdade", foi reproduzido em parte no documento policial. O trecho não menciona a barragem que ruiu em Brumadinho cerca de duas semanas depois.

"Nós estamos enfrentando grandes desafios pela frente, nossas operações não têm o nível mínimo adequado de investimento, estamos com falta de pessoal nas áreas de operação, manutenção e engenharia e eles são mal remunerados...o equipamento está quebrando, as barragens estão no seu limite", declarou a pessoa na mensagem.

No domingo seguinte após receber o e-mail, Schvartsman enviou e-mails a três colegas, para determinar que descobrissem quem havia escrito a mensagem.

O então executivo queria "olhar olho no olho" do autor, segundo ele disse a investigadores. No entanto, Schvartsman não determinou uma investigação sobre problemas citados no e-mail e disse a autoridades que o autor nunca foi identificado.

Em entrevistas coletivas depois da tragédia, Schvartsman disse que os problemas técnicos relacionados às barragens eram responsabilidade de empregados de nível mais baixo e que todas as informações que ele havia recebido mostravam que as estruturas eram seguras.

No entanto, investigadores do caso apuram se o comando da companhia deliberadamente se blindava de informações que poderiam incriminá-los, a fim de evitar ser responsabilizados, com práticas de táticas de retaliação e intimidação em um setor que a companhia dominava. Promotores preparam acusações criminais contra funcionários da Vale no caso, o que poderiam incluir a alta cúpula de executivos da companhia.