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Famosa pelo comércio, Baixa dos Sapateiros também foi berço cultural para Salvador

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Famosa pelo comércio, Baixa dos Sapateiros também foi berço cultural para Salvador

Por anos, avenida concentrava os únicos cinemas da cidade

Famosa pelo comércio, Baixa dos Sapateiros também foi berço cultural para Salvador

Foto: Reprodução

Por: Gabriel Amorim no dia 28 de janeiro de 2021 às 10:00

Se para os baianos, Baixa dos Sapateiros é sinônimo de comércio bom e barato, para o mundo a avenida também é símbolo de cultura. “Na Baixa do Sapateiro eu encontrei um dia, a morena mais frajola da Bahia”. Foram esses versos que tornaram ‘a terra da felicidade’ conhecida no Brasil e no mundo. Além de cantar a Bahia, o samba imortalizado por Carmem Miranda e composto por Ary Barroso, que o fez antes mesmo de conhecer o lugar que virou personagem da sua música, tornou famosa uma das vias mais antigas de Salvador.

A presença na música chama atenção para um aspecto talvez esquecido da Baixa dos Sapateiros, que foi, também, berço cultural. “Salvador durante muito tempo era conhecida no mundo por uma via: a Baixa dos Sapateiros. Estar na música mostra muito a relevância desse lugar para cidade, do ponto de vista da sociabilidade, das relações comerciais, entre tantas outras facetas importantes”, avalia o historiador Rafael Dantas.

Quem morou no lugar lembra com carinho de como tudo acontecia. “Tinha um carnaval bom, a rainha do Carnaval passava em minha porta. Era uma festa”, conta a aposentada Esmeralda Araujo, de 87 anos, que teve na Baixa dos Sapateiros o seu primeiro endereço em Salvador. “O carnaval de lá era forte, patrocinado pelos próprios comerciantes, que conseguiam muitas vezes fazer uma festa maior do que o Carnaval da elite, que passava alí pela Rua Chile”, lembra o jornalista Nelson Cadena. 

A folia que lotava a avenida em fevereiro não era, no entanto, a única expressão cultural que passava pela Baixa. No início do século XX, dizem os historiadores, o lugar era um dos principais palcos da cidade para apresentações importantes. Um dos marcos foi o famoso Cinema Jandaia. “O Jandaia chegou a receber companhias de fora, de dança, de música que vinham de fora para se apresentar. Era uma casa de alta categoria. Um teatro e cinema de luxo. Quando vinham turnês estrangeiras para cá era no Jandaia que se apresentavam”, comenta Candena. 

Durante anos, o cinema Jandaia foi o principal cinema de rua do estado, que além de filmes exibia apresentações ao vivo. Segundo os historiadores, o lugar começou a perder prestígio na década de 80, com o surgimento dos cinemas de shopping. Mesmo assim, seguiu exibindo filmes até os anos 90, quando fechou as portas depois de um período com filmes pornográficos e de artes marciais em cartaz. Em 2015, o prédio do Cinema Jandaia foi tombado pelo governo da Bahia. 

“Era sempre muito cheio, muita gente ia. Durante muito tempo os cinemas também serviram para atrair as pessoas e movimentar as vendas”, lembra o comerciante Ivo Fucs, que teve uma loja de artigos para bebês na Baixa dos Sapateiros até o ano passado. Além do Jandaia, a Baixa dos Sapateiros teve ainda o Cinema Pax e o Tupy, também responsáveis por movimentar a cidade.

Agora, o aspecto cultural fica só na memória de quem viu os cinemas lotados, mas ajuda a perceber que a importância da Baixa dos Sapateiros vai além do aspecto comercial. A rua foi, afinal, uma das responsáveis por tornar a Bahia viva na memória do mundo. Como diz a música que leva seu nome, uma Bahia inesquecível, e que ‘não sai do pensamento’.  

Leia a reportagem completa no Jornal da Metrópole desta quinta (28).

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