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Vozes da Linha de Frente: as primeiras vacinas

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Vozes da Linha de Frente: as primeiras vacinas

Profissionais de saúde contam o misto de sentimentos com a chegada da vacina e a expectativa para o fim da pandemia de coronavírus

Vozes da Linha de Frente: as primeiras vacinas

Foto: Arquivo Pessoal

Por: Geovana Oliveira no dia 28 de janeiro de 2021 às 14:00

No dia 17 de janeiro, dia do Senhor do Bonfim, enquanto a imagem de Santa Dulce dos pobres deixava o santuário em Salvador, a primeira brasileira foi vacinada contra a Covid-19 em São Paulo. Dois dias depois, em cerimônia realizada no Hospital Santo Antônio, das obras sociais da mesma Irmã Dulce, foi a vez dos primeiros baianos receberem a vacina Coronavac. "Uma dose de esperança", define o médico socorrista Elmar Dourado.

Desde então, mais de 100 mil baianos já receberam a vacina. Destes, a maioria expressiva é de profissionais da saúde que trabalham na linha de frente contra o coronavírus. Eles sabem que o imunizante não vai melhorar o cenário da pandemia imediatamente - segundo o infectologista Fábio Amorim, existe inclusive a chance de a vacina dar uma “falsa sensação de proteção” e elevar ainda mais o número de casos. Mas após dez meses de trabalho exaustivo, não há como conter a alegria de receber a vacina.

“Eu morro de medo de tomar injeção, mas estava ansiosa para tomar essa”, brinca a técnica de enfermagem Cristiane Galvão, plantonista na UTI do Hospital Ernesto Simões. Nesses meses de pandemia, ela desenvolveu uma hipertensão, chegou a trabalhar 6 horas seguidas sem poder beber água, se alimentar ou ir ao banheiro, perdeu colegas para a Covid-19, e viu outros se afastarem com sequelas psicológicas, além de acompanhar as mortes de pais, mães e filhos de outras pessoas. “Foi a pior sensação que tive na minha vida até hoje”. 

Cristiane conta que no início da pandemia chegava em casa e não conseguia dormir porque sonhava com o que acontecia no hospital.  “Quando não sonhava, não dormia, porque ficava pensando”. Ela não consegue falar sobre o que passou e o que viu nos hospitais sem chorar. 

Por isso, no último domingo, quando Cristiane foi vacinada, não importava se gostava de agulhas ou não. Até questionaram se o processo dói, ao que ela respondeu: “Dói menos do que ver gente morrendo”.

A médica recém-formada, Marina Tínel, explica que a vacina Coronavac é intramuscular, o que deixa o braço um pouco dolorido depois da aplicação. Mas é só isso. Um dia depois, passou. Marina recebeu a vacina ainda no dia 19, primeiro dia de aplicação em Salvador. Ela se formou em junho, durante o pico da pandemia no Brasil, e chegou a trabalhar 80 horas por semana em emergências de UPAs, hospitais públicos e privados, além de Gripários. 

“É uma coisa que dá esperança, é uma sensação muito boa. Não só eu, mas todo mundo que tomou ficou feliz. Há muito tempo a gente não tinha essa sensação de esperança, de que pode realmente agora estar chegando perto de uma resolução, de um controle efetivo”, conta sobre a vacinação. 

Vacina não é cura 

Apesar da emoção que sentiram ao receber a vacina, os profissionais alertam: “vacina não é cura”. Cristiane conta que para ela nada mudou após receber a injeção. Segue mantendo protocolos como distanciamento, uso de máscara e higienização das mãos. Ao chegar em casa, continua tirando os sapatos. “Eu estou imunizada, meu esposo ainda não está. Então é esperar... os casos estão aumentando”. 

Cristiane se emociona ao falar sobre as pessoas que zombam da vacina ou das medidas de prevenção. “Toda vez que eu vejo alguém sem máscara, que eu vejo alguém zombando dos protocolos, burlando tudo isso… eu digo: ‘meu trabalho foi em vão’”, conta com a voz embargada. “Só eu que sofri por isso? Não é possível”.

O Dr. Fábio Amorim explica que a quantidade de vacinas que chegou na Bahia é ínfima para imunizar a população. Segundo ele, o processo não é simples. “A gente vê pelos números de outros países, que têm a vacinação ocorrendo há mais tempo. Continua em crescente o número de casos. Vacinada parte da população, e mesmo assim as pessoas continuam adoecendo”.

Com isso, resta esperar e manter os mesmos cuidados. “Ainda vai demorar. E para realmente comprovar a eficácia, ver que imunizou, ainda vai ser um processo. Mas há esperança. Eu tenho esperança de que a gente consiga ver os números abaixando aos poucos, assim como a gente vê aumentando dia a dia”, afirma a Dra. Marina.