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Pesquisador avalia mercado da droga e seus impactos em Salvador

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Pesquisador avalia mercado da droga e seus impactos em Salvador

Antônio dos Santos Lima faz análise de como o tráfico possui sua ramificação na capital baiana e no restante do estado

Pesquisador avalia mercado da droga e seus impactos em Salvador

Foto: Metropress

Por: Matheus Simoni no dia 16 de fevereiro de 2021 às 13:19

O pesquisador e escritor Antônio dos Santos Lima, doutor pela Universidade Federal da Bahia (2019), atuando principalmente nas áreas de violência urbana, crime e criminalidade urbana, comentou como estão espalhadas as organizações criminosas que atuam no tráfico de drogas na Bahia, mais precisamente na capital Salvador. Em entrevista a Mário Kertész hoje (16), durante o Jornal da Metrópole no Ar da Rádio Metrópole, ele comentou que a iniciativa de estudar o tema partiu de uma pesquisa de mestrado, que deu origem ao livro escrito por ele.

"Comecei minha trajetória com esse tipo de pesquisa estudando criminalidade urbana, crime e violência, com direitos humanos e direitos fundamentais da pessoa humana, além de processos de cidadania. Eu comecei com uma pesquisa de mestrado, na verdade, que resultou no livro Rastros de Fogo e Sangue. Estudo Sobre a (Des)Centralização de Um Mercado Varejista de Drogas na Grande Salvador. O mercado foi centralizado e depois descentralizado no processo de formação desses grupos criminais que atuam hoje na Bahia. A minha pesquisa se referia a um dos principais na época", afirmou o especialista. 

Ele comentou a atuação de organizações criminosas baianas e disse os grupos não chegam a ter a mesma estrutura que outras que atuam no restante do país, como Comando Vermelho, Primeiro Comando da Capital (PCC) ou Família do Norte.
"Normalmente o que se faz com o dinheiro que se ganha com droga tem uma parte que é investida em bens móveis e outra parte em bens imóveis. Com as fontes que obtive ao longo da pesquisa, eu consegui fazer uma análise minuciosa disso. O que se produz no mercado de droga normalmente é consumido no próprio local onde essas drogas são vendidas. É bom pensar esse mercado como um mercado em nível de varejo. Se vende localmente e o grande fluxo de dinheiro, na verdade, ele não fica na periferia. Existe uma consignação e fica um percentual de, no máximo, 25% naquela região onde o mercado está operando. Mas esses recursos eles voltam para uma outra fonte", declarou.

Ainda segundo Antônio, houve uma reformulação na forma de se vender drogas no estado. "Na Bahia, se compra maconha produzida em determinadas regiões da Bahia. A droga hoje quando é comprada, ela passa por contatos. A figura do contato comercial se sobrepôs ao vendedor direto, o vendedor avulso, o que vai no local comprar. Às vezes, determinados operadores dos mercados de drogas não sabem nem a proveniência, se veio de Pernambuco ou da região da Bahia. Normalmente essa droga vem de um contato, o intermediário. É a droga que no Brasil se planta", afirmou o escritor

Na avaliação do especialista, o tráfico de drogas também se desenvolveu a ponto de ter um próprio órgão julgador em seu sistema. Segundo Antônio dos Santos Lima, há uma mudança profunda provocada pela criminalidade em relação aos locais onde ocorre a instalação desses grupos criminosos. "O sujeito que está associado a tal organização mora numa determinada região onde atua uma facção contraposta. Esse processo de construção de um estatuto e um ambiente normativo que tenha a capacidade de sancionar a população e o sujeito que termina se envolvendo com uma facção rival, ele ainda está em processo de formação. É uma estrutura como os tribunais do crime, em São Paulo, onde há acusação, uma testemunha de defesa, uma pessoa que vai acusar e uma pessoa que vai ouvir uma videoconferência é raro na Bahia", declarou o pesquisador.

"Às vezes o sujeito morre por muito pouco, morre por um comentário, um gesto numa redes social e a pessoa viu esse gesto na rede social, numa área onde a simbologia seja 'tudo 2' ou 'tudo 3', ela se expõe. Com essa exposição, ela pode ser levada à morte sem passar necessariamente por um julgamento, que tenha a mesma diferenciação de um tribunal do crime", acrescenta.