
Cidade
Virou Carma: moradores do Santo Antônio reclamam de aglomerações no bairro
Moradores reclamam de som alto, cheiro de urina e festas que avançam pela madrugada nas ruas do bairro

Foto: Reprodução
Texto originalmente publicado no Jornal da Metropole em 10 de fevereiro de 2022
Ter algumas das festas mais disputadas da cidade na porta de casa, à primeira vista, pode parecer um privilégio, mas, na verdade, tem transformado em pesadelo a vida dos moradores do Santo Antônio Além do Carmo, no Centro Histórico de Salvador.
Moradora do bairro há 21 anos, a artista plástica Márcia Abreu viu mudar muita coisa nos últimos meses. Da porta de casa, na Cruz do Pascoal, as aglomerações são apenas um dos problemas.
“As pessoas não entendem que o Santo Antônio é uma via e que você fica preso. Às vezes você fica presa dentro de casa e, às 2h da manhã, tem gente fazendo xixi na nossa porta. Fora o barulho e a gritaria”, reclama.
Sobre as festas que tomaram conta das ruas do bairro, Márcia tem uma opinião bastante definida. “Às vezes são bons shows, de artistas bons, já tive privilégio de ter boa música na porta da minha casa, mas o problema é que tudo se transforma em festa de largo. O conceito de um evento pequeno não existe em Salvador”, diz.
Em meio à pandemia, as aglomerações causam não só transtornos, mas geram também perigo com a possibilidade de aumentar a infecção do coronavírus.
Ao todo, a capital baiana já registrou 271.663 infecções pelo coronavírus. Destas, 6.001 encontram-se ativas no momento. Desde o começo da pandemia, 8.290 pessoas tiveram óbito confirmado pela doença em Salvador. A taxa de ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) adulto está em 64% e o de UTI pediátrica em 77%.
Questionada pela reportagem, a prefeitura de Salvador afirmou estar atenta ao movimento intenso no bairro, apostando em fiscalizações constante e implantação de ações especiais, como distribuição de máscaras e testes rápidos.
MAIS FISCALIZAÇÃO
Presidente da Associação do Centro Histórico Empreendedor (Ache) e morador do Carmo há 3 anos, José Iglesias acredita que é preciso intensificar o controle e ser mais rigoroso na fiscalização.
“O poder público precisa intervir, precisa controlar. Agora qualquer um coloca mesas na calçada e abre um bar. Parece uma cidade sem lei, onde cada um faz o que quer. Os moradores precisam ser respeitados. Não dá mais para acordar 2h da madrugada com gente gritando e pulando na porta de casa. O cheiro de cigarro, da cerveja, invade nossas casas”, diz.
Pelos números da própria prefeitura, as reclamações de som alto e outras situações inconvenientes têm crescido muito. Segundo dados da Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedur), no ano de 2021, foram 195 vistorias no bairro para atender reclamações dos moradores.
Outubro do ano passado, justamente no período que a pandemia desacelerou (antes da chegada da ômicron), foi o mês com o maior número de reclamações: 32 registros. Em janeiro de 2022, já são 28 denúncias e, neste começo de fevereiro, já são 12. Longe de avistar o controle desejado, muitos moradores têm partilhado o desejo de contratar um caminhão de mudança.
“Moro aqui desde a infância e não pensei nunca que iria sair. Mas agora, com as coisas como estão, já é algo que passa pela minha cabeça. Não fiz nada ainda por conta do apego mesmo, mas já sei de pelo menos duas vizinhas que já tão chamando corretor”, diz a aposentada Ana Maria Santos, de 57 anos.
Mudança, inclusive, é algo que os moradores do bairro experimentam desde muito antes do início da pandemia.
“Tem sido algo paulatino, de uns anos para cá. Teve um movimento de crescimento e alguns períodos de redução. Mas nunca tinha chegado nesse nível, nessa loucura que tem sido os últimos tempos. De ter vizinho que não consegue acessar a própria casa por conta da quantidade de carro estacionado. Por conta do tanto de gente na rua”, explica Márcia, dando exemplo com uma situação presenciada por ela.
“Um dia desses um homem que passeava com o cachorro foi vaiado por quem estava no bar. Os bares avançaram para o meio da rua e quem tá no bar acaba se sentindo dono do espaço. E são os moradores que perdem tudo”, completa.
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