Cidade
Quase uma década depois, quiosques novos ainda não existem na Orla de Salvador
Até 2010, as folgas da comerciária Janete Bitencourt tinham um destino certo: aproveitar as praias de Salvador. E não faltavam opções: eram 480 barracas onde o banhista encontrava, além da cervejinha gelada, um petisco, a comodidade de um banho para tirar o sal do corpo e um banheiro. [Leia mais...]
Foto: Tácio Moreira/Metropress
Até 2010, as folgas da comerciária Janete Bitencourt tinham um destino certo: aproveitar as praias de Salvador. E não faltavam opções: eram 480 barracas onde o banhista encontrava, além da cervejinha gelada, um petisco, a comodidade de um banho para tirar o sal do corpo e um banheiro.
Mas, desde a decisão do juiz Carlos D’Ávila, da 13ª Vara da Justiça Federal, que determinou a derrubada de todas as barracas da Orla da cidade, Janete e milhares de banhistas ficaram sem a estrutura que os atraía à praia. “Hoje a gente tem que ficar exposto ao sol o tempo todo. Tudo ficou ruim. Eu venho agora de mês em mês à praia. Quando venho”, reclama.
O problema tinha data para acabar: verão de 2014. Este foi o prazo dado pela Prefeitura de Salvador para a entrega de 120 quiosques de Tubarão até Stella Maris — não mais na areia, mas nos calçadões que margeiam a praia. No projeto apresentado com euforia pelo prefeito ACM Neto (DEM), os espaços teriam até 100 m² com estrutura de madeira e alvenaria, cozinha, banheiros, e toda a infraestrutura necessária. Até agora, nada mudou.
Procurado pelo Jornal da Metrópole, o prefeito ACM Neto não quis comentar a demora na entrega de um das suas principais promessas de campanha. Por meio de sua assessoria de imprensa, a Prefeitura afirmou que, até dezembro, ao menos 60 barracas devem ser entregues.
Enquanto a morosidade toma conta do processo, gente como a ambulante Juscélia Lins, que vende cangas e biquínis nas areias de Salvador há 35 anos, vê a situação ficando mais difícil. “Os turistas sumiram desde que tiraram as barracas. Na maré boa eu vendia 300, 400 biquínis. Hoje, quando vendo um, eu agradeço a Deus”, afirma.
Barraqueiro da praia de Jaguaribe há oito anos, Miguel Souza passa boa parte do dia sentado embaixo de um sombreiro à espera de consumidores que aparecem com cada vez menos frequência. Segundo ele, a situação era totalmente diferente quando as barracas ainda estavam de pé. “Era 100% melhor. A gente tinha condições para oferecer. Agora não. Eu ganhava R$ 200, R$ 300 por dia, hoje ganho R$ 20“, lembra.
O secretário de Cultura e Turismo do município, Érico Mendonça, culpa a burocracia pelo atraso. “Estou aguardando que a Superintendência do Patrimônio da União (SPU) dê a autorização para a implantação. As licitações já foram feitas para a implantação, só falta a SPU aprovar”, disse. Segundo o secretário, o prefeito ACM Neto ainda nem decidiu que secretaria ficará responsável de fato pelos quiosques. “Estou aguardando o prefeito determinar para que secretaria vai ser conduzido. Provisoriamente, eu estou cuidando”, diz.
Apesar de não cumprir o primeiro prazo, Mendonça crê que as barracas vão fazer parte da Orla no verão de 2015. “A expectativa é a de que, em mais uma semana, a gente já tenha recebido a formalização. E aí é imediato, porque a licitação já foi feita e os locais, definidos. Em três meses, vamos estar com os primeiros funcionando. Daria tempo tranquilamente para o verão”, prometeu.
A confusão da requalificação da Orla começou ainda em 2006, quando o então secretário de Serviços Públicos, Arnando Lessa — hoje PT, à época no PSDB — encabeçou um acordo com as cervejarias Ambev e Schincariol para o financiamento das novas barracas de praia. O Ministério Público do Estado da Bahia, porém, encontrou irregularidades no processo.
A ação do MP causou uma crise na gestão João Henrique, que acabou causando a demissão de Lessa.
Posteriormente, o juiz Carlos D’Ávila Teixeira ordenou que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) conduzisse o licenciamento das obras de reforma da Orla, retirando esta tarefa da Prefeitura. A medida, então, travou a requalificação planejada por João Henrique, o que culminou na demolição das barracas em 2010.
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