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Falso canil vende filhotes de Golden Retriever doentes e com pedigree falsificado

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Falso canil vende filhotes de Golden Retriever doentes e com pedigree falsificado

Ao menos 30 pessoas foram vítimas e se reúnem em grupo de WhatsApp para processar a vendedora; à esquerda uma cadela Golden de oito meses vendido sem pedigree e à direita uma cadela mestiça da mesma idade vendida como se fosse Golden

Falso canil vende filhotes de Golden Retriever doentes e com pedigree falsificado

Foto: Montagem / Foto do Leitor

Por: Rodrigo Meneses no dia 31 de março de 2022 às 20:53

O sonho de ter um cão da raça Golden Retriever trouxe uma série de transtornos e frustrações para um grupo de, ao menos, 30 pessoas que adquiriram os animais através do canil Demais Filhotes. Uma mulher identificada como Ingrid Teixeira de Oliveira se apresenta como a responsável pelo canil, que, na realidade, não existe. Segundo as pessoas enganadas, ela vende os cães através das redes sociais e fornece um pedigree falso, ou seja, não há comprovação da origem e raça do animal.

Para ludibriar as pessoas, Ingrid pega fotos de cães nas redes sociais para dizer que são os pais dos filhotes vendidos por ela. Um desses cães foi a Zara, que tem um perfil no Instagram com mais de 10 mil seguidores. A cadela pertence à advogada Raphaela Brito. “Uma amiga que foi comprar um filhote recebeu a foto de Zara, como se fosse a mãe e me enviou. Minha cadela é castrada. Nunca quis colocar para cruzar”, conta.

A advogada disse que tentou contato com Ingrid pela página do canil Demais Filhotes no Instagram e pelo WhatsApp, mas nunca obteve retorno. “Eu denunciei a página no Instagram no final de janeiro. Nesta semana, a página foi reativa com outro o nome”, conta. A página agora está com o nome Império do Filhotes (imperiofilhotes_oficial), na qual informa que envia para todo o Brasil e que diz apresentar fotos originais dos cães.

Raphaela Brito avalia qual medida judicial vai tomar em relação ao uso das fotos de Zara. “Estou avaliando o que vou fazer, para que ela (Ingrid) não use mais as fotos de zara para enganar as pessoas e vender filhotes sem origem comprovada”, declara.

 

Doentes - Além da fraude sobre a procedência, muitos cães negociados estavam debilitados ou adoeceram logo no dia seguinte. Foi o que aconteceu com o filhote que a advogada Alana Ramos ganhou de presente do namorado em agosto do ano passado. Ela conta que inicialmente percebeu que a cadela que recebeu não era tão parecida como a da foto apresentada pelo WhatsApp. O pior veio três dias depois.

“Percebi que a cadela estava apática. Levei no veterinário e só em olhar para a cara da cachorra a veterinária percebeu que ela não estava em boa situação. Fez os exames e verificou que estava com anemia, giardia (parasita) e vermes”, relata Alana.

Depois de adquirir o animal por R$ 2.500 e gastar outros R$ 1 mil com exames, remédios e vacinas para tratá-lo, Alana procurou saber de Ingrid quem eram os filhotes da ninhada de sua cadela Maya e as informações do pedigree. Segundo a advogada, Ingrid passou um telefone informando que era de sua irmã e que poderia obter as fotos com ela. No entanto, ao ligar, descobriu que o número era do dono da cadela que pariu Maya.

“A pessoa informou que não era parente de Ingrid, que não era de canil e que havia vendido os filhotes para ela. Enviou as fotos da mãe verdadeira de Maya e do pai. Os dois são Golden, mas não possuem pedigree”, conta. “No documento do pedigree de Maya dizia que a mãe se chamava Mel. Na verdade, o nome da mãe é Gamorra e o pai é Charles. Conseguimos falar com os donos dos animais e ainda descobrimos que Maya nasceu no dia 10 de agosto e no cartão de vacina fornecido por Ingrid havia a data de nascimento como 22 de julho de 2022”, completa.

Processo - Alana descobriu que havia sido enganada e tentou contato com Ingrid, mas ela parou de responder. A advogada reuniu provas e entrou com uma ação contra Ingrid por danos morais e materiais. No último dia 16 de março, ocorreu uma audiência e as partes chegaram a um acordo no valor de R$ 3.800,00. A vendedora já pagou R$ 3.400 e ainda resta quitar R$ 400.

“A gente ficou sem dormir por causa do medo da cachorra morrer. Ela destruiu o sonho de muita gente. Graças a Deus, conseguimos tratar Maya e hoje ela está bem saudável”, conta Alana.

Mesmo após a ação judicial, Ingrid continuou com a mesma prática. Na última semana, ela vendeu uma filhote de Golden Retriever para o designer de jóias Marcelo Correa. No dia seguinte após receber o filhote, o animal começou a evacuar com sangue. “Levei no veterinário e já gastei mais de R$ 2.000 com exames e remédios e ainda vou gastar mais R$ 1.500. A cadela está com anemia profunda. Achei que poderia ter dado azar, mas depois descobri que Ingrid já fez isso com várias pessoas”, conta Marcelo, que comprou a cadela por R$ 1.700.

Uma enfermeira, que prefere não se identificar, comprou um cão há oito meses por R$ 2.700 e agora tem certeza que o animal é mestiço com Labrador, apesar de ter sido vendido com o documento do pedigree. “Eu sempre sonhei em ter um Golden. Devido aos custos, nunca tive condições financeiras de ter um. No momento em que eu pude adquirir, acabei sendo enganada. Estou me sentindo frustrada, mas já criei amor pelo cachorro e não vou me desfazer dele”, conta.

A enfermeira faz parte do grupo das pessoas enganadas por Ingrid e disse que as pessoas estudam fazer uma denúncia no Ministério Público.

Após ligações não atendidas, o Metro1 entrou em contato com Ingrid pelo WahtsApp e ela informou desconhecer qualquer denúncia contra ela, apesar de já ter sido acionada no Juizado Especial e ter feito acordo para não ser condenada. Ela ainda disse que”todos os animais que eu eventualmente intermediei, foram entregues nos modos contratados”.