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Praticantes do candomblé, alunas são relacionadas a mal estar de colegas e sofrem ataques

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Praticantes do candomblé, alunas são relacionadas a mal estar de colegas e sofrem ataques

Segundo pai das jovens, elas foram afastadas de escola em Lauro de Freitas e têm recebido ameaças de morte nas redes sociais

Praticantes do candomblé, alunas são relacionadas a mal estar de colegas e sofrem ataques

Foto: Reprodução

Por: Adele Robichez no dia 25 de julho de 2022 às 17:39

Duas irmãs praticantes do candomblé foram apontadas como causadoras de um mal estar geral entre alunos de uma escola de Lauro de Freitas, ocorrido na última sexta-feira (22). O pai das garotas relatou que elas foram vítimas de intolerâcia religiosa, posteriormente proibidas de retornar à escola e alvos de ameaças de morte nas redes sociais.

A situação veio a público nesta segunda-feira (25), após a veiculação na mídia baiana de relatos de pais assustados com o que eles chamaram de "seita demoníaca" na Escola Municipal Dois de Julho -- o que teria feito alunos passarem mal. Em contato com o Metro1, um professor da instituição, que pediu para não ser identificado, afirmou que as histórias são falsas e frutos do preconceito.

O pai das meninas, também candomblecista, expôs à TV Aratu que foi chamado pela escola na última sexta e encontrou ambas as filhas isoladas, enquanto alunos se jogavam no chão e funcionários oravam. 

"Não vi nenhum tipo de seita", afirmou o pai, sem identificação, à reportagem. "Aqui na escola, não teve nenhuma ritualística de Candomblé. O que teve foram alunos dizendo que estavam com espírito entre eles mesmos", disse. Ele denunciou que, após a situação, a diretoria da escola o proibiu de retornar à escola, assim como as suas filhas.

Diante disso, o pai afirmou acreditar que a situação foi motivada por intolerância com a religião de matriz africana. "[Os boatos foram criados] porque nós somos do Candomblé. Quer dizer que eu tenho que renegar as minhas raízes por causa de um motim de alunos? Gente, onde é que vamos parar com isso?", questionou ainda à TV Aratu.

Ao Metro1, o professor confirmou a versão do pai das meninas. "Eu estava lá na sexta-feira e não foi nada daquilo que estão falando, confundiram muita coisa, houve muita distorção. Tivemos aula normal e uma das alunas da escola é seguidora de uma religião de matriz africana, passou por um ritual de iniciação e ela manifestou isso na aula. Como a gente trabalha com um público de 10 a 18 anos, alguns alunos mais novos não compreenderam aquilo e se assustaram", conta.

"O que aconteceu foi uma espécie de histeria coletiva. Alguns alunos passaram mal, foram socorridos, mas não houve nada do que foi colocado ali [nos relatos dos pais dos estudantes]. No periodo pós-pandemia, os alunos estão mais sensíveis, têm tido transtornos emocionais... o que antecedeu isso são alunos deprimidos. Sou professor há 22 anos e isso acontece. Essas distorções [do caso] não ajudam em nada", continua.

Procurada, a Secretaria Municipal de Educação de Lauro de Freitas (SEMED) informou em nota que abriu uma sindicância nesta segunda-feira (25), na qual serão ouvidos estudantes, pais e profissionais da Escola Municipal 2 de Julho. Segundo a pasta, a ação tem como fim apurar o que, de fato, aconteceu.

A SEMED afirmou ainda que as aulas foram suspensas nesta segunda-feira (25) por causa do ocorrido. "A previsão é de que sejam retomadas nesta terça-feira (26), com a presença de psicólogos para fazer o acolhimento dos estudantes", diz a nota.

Na sexta-feira (22), dia do incidente, os estudantes que não se sentiram bem foram encaminhados para a emergência da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Itinga, que fica ao lado da escola. Logo após o atendimento médico, os alunos foram liberados, acrescenta o comunicado.