Cidade
Ifood é acusado de fraudar documento para não pagar entregador baleado em Salvador
Empresa inseriu em processo planilha que indica cancelamento da entrega; aplicativo do próprio iFood aponta o contrário
Foto: Divulgação
*Matéria atualizada às 13h20 de quarta-feira (10)
O iFood teria adulterado um documento do processo de Yuri de Jesus Monteiro, 24, entregador que teria sido baleado enquanto trabalhava com a empresa, em Salvador. É o que denuncia Vitor Filgueiras, professor de Economia na Ufba e coordenador do projeto Caminhos do Trabalho.
De acordo com Filgueiras, a empresa recusa-se a ter obrigações trabalhistas com o entregador. Para tentar driblar a Justiça, que não só reconheceu o vínculo de trabalho como já determinou que a empresa deve pagar o valor de um salário para Yuri até que ele consiga o auxílio-acidente, uma nova planilha foi inserida no processo.
A planilha aponta que a entrega prevista para acontecer no momento em que o entregador foi baleado havia sido cancelada. “A última entrega se deu às 19h48 e o Reclamante só veio a ser vitimado às 22h36, ao que tudo indica este não faria jus ao pagamento do prêmio da seguradora”, argumentou a o iFood, no processo.
O próprio aplicativo da empresa, porém, mostra o contrário. A plataforma confirma que a entrega foi realizada e marcada como entregue às 20h26, minutos antes de Yuri ser atingido.
Em vídeo divulgado nesta segunda-feira (8), Filgueiras mostra a planilha usada pelo iFood para tentar indicar, na contestação da última determinação feita pela Justiça, que Yuri não estava trabalhando no momento em que foi atingido pelo tiro.
A última decisão antecipou a tutela, o que significa que o iFood tem que pagar o valor determinado a Yuri enquanto o processo corre. A empresa recorreu da antecipação e perdeu no tribunal. Ainda no âmbito da ação, a empresa apresentou a contestação -- na qual o documento foi inserido.
“A nossa equipe tem que se manifestar e, na análise, descobriu essas pérolas. É muito surpreendente porque os documentos estão nos processos. O [documento] que fala do horário, tanto do acidente quanto da entrega, é da própria empresa. Então é uma coisa tosca. Ou criaram ou adulteraram essa planilha para dizer que ele não estava trabalhando”, declarou Filgueiras ao Metro1.
O documento foi analisado pelo projeto Caminhos do Trabalho, coordenado por Filgueiras. Uma parceria da UFBA com o Ministério Público do Trabalho da Bahia (MP-BA), ele auxilia gratuitamente trabalhadores para dar atendimento médico e assessoria jurídica.
Veja o vídeo:
Lembra do entregador do ifood que tomou um tiro trabalhando?
— Vitor Araújo Filgueiras (@VitorArajoFilg1) August 8, 2022
Após sucessivas derrotas, o ifood agora frauda/cria documento para tentar enganar a justiça. A fraude tosca é para negar que ele estivesse trabalhando
Veja planilha adulterada/falsa e os documentos verdadeiros no vídeo pic.twitter.com/PDC0uDyOrB
Procurada, a assessoria do iFood negou que a empresa agiu de má-fé contra o entregador, afirmando que os dados apresentados no processo não foram alterados. Em nota, ela também destacou que "está cumprindo com as determinações liminares dadas antes do julgamento".
Confira a nota do iFood na íntegra:
O iFood é reconhecido na Justiça do Trabalho por sempre cumprir com as determinações e colaborar em todos os processos em que é parte. Neste caso especificamente, o iFood esclarece que não agiu em momento algum de má-fé contra o entregador para alterar os dados apresentados no processo. A empresa destaca que o processo ainda está em fase inicial e que a alegação não foi sequer analisada pelo Juiz, mas que está cumprindo com as determinações liminares dadas antes do julgamento.
Ainda, o iFood esclarece que para casos envolvendo acidentes de entregadores há um seguro contratado e cabe à empresa seguradora fazer a análise do sinistro para pagamento ou não do prêmio em cada situação
📲 Clique aqui para fazer parte do novo canal da Metropole no WhatsApp.