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Após nove meses, MPF arquiva denúncias relacionadas às dunas do Abaeté

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Após nove meses, MPF arquiva denúncias relacionadas às dunas do Abaeté

O Ministério Público Federal decidiu arquivar pedido de providências contra intolerância religiosa na execução das obras nas dunas da região

Após nove meses, MPF arquiva denúncias relacionadas às dunas do Abaeté

Foto: Reprodução

Por: Cristiele França no dia 15 de dezembro de 2022 às 18:59

Nove meses após ser iniciada pela Prefeitura de Salvador, através da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Obras Públicas (Seinfra), as obras do criticado projeto de requalificação nas dunas do Abaeté, na Avenida Dorival Caymmi, em Itapuã, continuam avançando. E, contrariando as expectativas de religiosos, ambientalistas e frequentadores do local, o Ministério Público Federal (MPF), através do procurador da República no Estado da Bahia, Ramiro Rockenbach da Silva Matos Teixeira de Almeida, decidiu arquivar o pedido de providências contra a intolerância religiosa na execução do projeto de urbanização. A decisão foi publicada no dia 25 de outubro. 

O documento denuncia que a obra foi solicitada por uma entidade privada neopentecostal, que incentiva adeptos a utilizarem o local como um espaço de oração e que “a execução atinge de forma intensa os praticantes de religiões de matriz africana”. Aponta também que a obra ocorre em trechos, na Área de Proteção Ambiental (APA), sem obedecer a lei que regulamenta o acesso à informação e à transparência. 

A representação é assinada pelo Instituto Odara, Instituto Búzios, Fórum Permanente de Itapuã, Frente Nacional Makota Valdina, Programa a Voz do Axé e Koinonia Presença Ecumênica, ialorixá Jaciara Ribeiro, do Ilê Axé Abassá de Ogum, deputado estadual Hilton Coelho, além dos vereadores Maria Marighella, Sílvio Humberto, Marta Rodrigues e Laina Crisóstomo, co-vereadora do Município de Salvador da Mandata Coletiva Pretas por Salvador.
 
Impactos ambientais
 

A APA das Lagoas e Dunas do Abaeté é Área de Proteção Ambiental desde a década de 80, mas sofre os impactos das ocupações e invasões irregulares nos arredores, bem como de obras públicas e privadas que desobedecem instrumentos legais de ocupação. Desde março, a prefeitura constrói, em cima das dunas, um prédio para a recepção de visitantes, um estacionamento, banheiros, além de um teleférico e uma escadaria. A concretagem gera impactos ambientais, já que a região pertence ao último remanescente do sistema de dunas, lagoas e restingas em Salvador. 

Para pedir o arquivamento da Representação, o procurador Ramiro de Almeida destaca apenas que o assunto está sendo acompanhado diretamente pelo Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA), onde há dois procedimentos instaurados. 

O primeiro está com a 1ª Promotoria de Justiça de Direitos Humanos, que recomendou a suspensão da obra, a remoção do nome “Monte Santo” das placas e a garantia de que a comunidade participe da escolha da denominação do local. A segunda está com a 4ª Promotoria de Meio Ambiente e Urbanismo da capital, que aguarda o envio dos laudos periciais pelos órgãos competentes para a avaliação e a adoção de medidas cabíveis. 

Em nota, a Seinfra alega que a obra está regular, atendendo os parâmetros necessários, como a licença ambiental, o que é refutado por ambientalistas. Segundo eles, o licenciamento ambiental da Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur) proíbe intervenção em trecho da APA, onde o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) reconhece estar avançando a obra. 

Vale lembrar que em setembro, a Defensoria Pública da União (DPU) ajuizou uma ação civil pública contra o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para que finalizasse o processo de tombamento do local, o que ainda não ocorreu. “Nós, das religiões de matriz africana sobrevivemos das águas, das folhas, de tudo que o nosso espaço sagrado nos oferta. Infelizmente essas religiões começaram a partir para cima para tentar destruir as religiões dos povos oriundos de África”, desabafou a Ialorixá Cacau de Sobô, filha do terreiro Mina Jeje Guerebetā Gumé Sogboadã, que vive em Nova Brasília de Itapuã há mais de cinco décadas.