
Cidade
Caos nas ruas: motoristas estacionam irregularmente e mais de 100 mil infrações são registradas em Salvador
Condutores e pedestres relatam dificuldades de trafegar nas vias da capital baiana, com carros amontoados em locais inapropriados

Foto: Filipe Luiz Metropress
Não é preciso muito esforço para se lembrar quando foi a última vez em que você se sentiu imprensado em alguma via de Salvador. A sensação não é falsa. O aglomerado de veículos nas ruas vai além dos que estão seguindo o fluxo, e se concretiza nos tantos parados em lugares nenhum pouco convenientes. Calçadas, ruas e até mesmo faixas de pedestres, fogem da sua finalidade e abrigam carros, como se fossem estacionamentos públicos.
A realidade sentida no trânsito da capital baiana reflete nos números. Segundo dados divulgados pela Superintendência de Trânsito do Salvador (Transalvador), foram registradas 124.990 infrações de estacionamento irregular somente no primeiro semestre de 2023.
As multas aplicadas para quem comete a ilegalidade podem chegar até R$194, que não inclui o valor do guincho, mas aparentemente nem “sentir no bolso” motiva os condutores a mudarem de comportamento. No levantamento enviado ao Metro1, a Transalvador detalha que entre as quase 125 mil infrações, 85.241 correspondem a estacionamento rotativo; 8.057 a veículos aglomerados no passeio e calçada; 1.438 em ponto de embarque e desembarque de transporte coletivo; 1.418 em ciclovia e ciclofaixa e 1.304 carros parados em fila dupla.
Pernambués
A Avenida Thomaz Gonzaga, localizada no bairro de Pernambués, com certeza faz parte da lista dos itinerários mais estressantes para os condutores. É unânime: todos que precisam trafegar pela principal via da região se queixam da quantidade de veículos amontoados, que impedem a circulação até das motos.
O caminhoneiro Mário Castro é expert no assunto. Por conduzir um veículo de grande porte, suas reclamações são ainda maiores, já que falta espaço que comporte o tamanho do automóvel. Segundo ele, no início da manhã, antes mesmo do horário de pico, o trânsito na região já está causando transtornos.
“É muito horrível. Diariamente eu dirijo caminhão nessa avenida, e como é um carro grande para transitar, é muito ruim aquele acesso que vai para o final de linha [de Pernambués], tem carros parados por todos os cantos. Muitos carros ficam naquela, então trava tudo. Se colocar dois caminhões, um de cada lado, ninguém passa. Até quando encontro um ônibus já é horrivel”, relatou.
Mussurunga, Liberdade e Santa Cruz
Do pesadelo de se esbarrar com carros na tentativa de buscar passageiros, o motorista de ônibus Daniel Tavares entende bem. Em entrevista ao Metro1, o profissional destacou o Setor H, localizado no bairro de Mussurunga, como o pior trajeto já feito por ele no quesito mobilidade.
A rua funciona em mão dupla, ou seja, os carros circulam nos dois sentidos. No entanto, há veículos estacionados em ambos os lados, sobrando apenas uma liberação estreita da rua.
“Quando você entra só tem uma via, porque está tudo cheio de carro e o retorno é um grande estacionamento. Nós precisávamos criar pontos estratégicos e vez ou outra também colocavam carros lá. Sem contar nos tantos carros estacionados em frente ao ponto do final de linha. Ou seja, muitas vezes ficamos presos lá dentro, dependendo da cooperação dos outros para retirarem os veículos”.
Apesar de mais grave, Daniel ressaltou que o problema não é exclusivo do bairro de Mussurunga. Para o motorista, a compra desenfreada de veículos pela população, sem disposição de lugares corretos para estacionar e/ou garagens, unida com a falta de educação, é “o câncer de Salvador”.
“De vez em quando precisamos pedir ajuda ao pessoal da Transalvador para multar os veículos. Na Liberdade, o pessoal coloca o carro até nas calçadas. Perdi as contas de quantas vezes precisei retornar de ré no Engenho Velho da Federação porque está tudo congestionado, o mesmo no final de linha de Santa Cruz. O pessoal começou a comprar carros e precisam colocar em via pública obstruindo a passagem”, completou.
Questionada sobre soluções para o problema, a Transalvador disse que “realiza rondas e ações de ordenamento para fiscalizar e coibir o estacionamento irregular”, e orienta que a população denuncie as irregularidades no Disque Salvador 156.
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