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Prefeitura de Salvador promove poluição visual com placas redundantes espalhadas pela cidade

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Prefeitura de Salvador promove poluição visual com placas redundantes espalhadas pela cidade

Com recursos do Prodetur, há até placas ao lado de monumentos que já possuem placas em seus pedestais

Prefeitura de Salvador promove poluição visual com placas redundantes espalhadas pela cidade

Foto: James Martins/Metropress

Por: James Martins no dia 27 de novembro de 2023 às 10:35

Atualizado: no dia 27 de novembro de 2023 às 11:13

É claro que a comunicação por placas pode ser útil e muitas vezes faz-se necessária. Há porém, casos em que placas em excesso não só não comunicam, como atrapalham a vida urbana, promovendo poluição visual e obstruindo a funcionalidade das sinalizações indispensáveis. Imagine, por exemplo, que diante do inconfundível Elevador Lacerda, em cuja fachada está escrito em letras garrafais “ELEVADOR LACERDA”, ainda se colocasse mais uma placa em meio às tantas que já estão lá, dizendo novamente “Elevador Lacerda”. Em vez de informação, teríamos mera poluição e redundância em um ambiente já saturado.

Pois é o que temos de fato, não apenas ali, onde a prefeitura decidiu informar com uma placa enorme o que já está muito bem informado a todos, como em diversas partes da cidade, que ganharam repentinamente placas, placas e mais placas redundantes. “Eu queria saber quem é que, chegando aqui, ainda precisa ler na placa que aquele é o Elevador Lacerda. É pra rir ou pra chorar?”, questiona o comerciante Jaime Menezes, enquanto espera no ponto de ônibus.


Placas diante do Elevador Lacerda, só promovendo poluição visual.


Ou essa sinalização não é suficiente?
 

O historiador Jaime Nascimento, gestor do Forte da Capoeira, no Largo de Santo Antônio Além do Carmo, explicou, em conversa com o Metro1, por que barrou a instalação das placas diante do mesmo. “O fato é que as placas em si não têm sentido nenhum, porque não trazem grande informação. Elas são concebidas de forma que têm uma foto enorme do monumento, três linhas de texto sobre ele e um QR code. E são, em geral, colocadas de forma arbitrária, justamente criando poluição visual e obstaculizando a visão do monumento ou espaço histórico em si”, disse.

Exemplos do que disse o professor podem ser constatados em muitos lugares, como na frente do Cine Glauber Rocha, na Praça Castro Alves, onde as placas apenas repetem, em estruturas enormes, o que já está sinalizado de outras formas. 

Mas, há casos mais agudos de redundância e consequente poluição, pois decidiu-se instalar placas ao lado de monumentos (bustos, estátuas) que já trazem placas em seus pedestais - e com mais informações que nessas posteriores. Assim na homenagem a Lázaro L. Zamenhof, criador do esperanto, no Largo de São Bento, bem como nos bustos de Dodô & Osmar, na Praça Castro Alves, e no monumento a Zumbi dos Palmares, na Sé.


Do tamanho do próprio monumento, a placa não diz nada.


Quem se esforçar muito, quase consegue ver o Zumbi atrás da placa.


O monumento do monumento, para atrair turistas...?

Porém, não são totalmente inúteis as placas que repetem o que já foi dito, às vezes em estruturas maiores que o próprio objeto referido. Os usuários de crack, os famosos sacizeiros que circulam pelo centro da cidade, já começaram a dar-lhes serventia. “Os sacizeiros serraram uma placa em plena Praça Municipal e ninguém nem deu falta da suposta informação…, pra se ter uma ideia”, denuncia Jaime. E completa: “As estruturas são de alumínio! Só na cabeça dessa gente da prefeitura isso iria funcionar”.


Observem os pés serrados...


...sacizeiros já começaram a dar finalidade aos trambolhos.

Foram surrupiadas (e já devem estar derretidas, recicladas) placas na ladeira São José de Baixo (que sinalizava a casa arruinada onde morou o Conde da Palma) e no Comércio, que tinha a solene função de poluir visualmente o belo monumento à Batalha de Riachuelo, instalado na praça de mesmo nome.

Enquanto São Paulo criou a Lei Cidade Limpa (Nº 14.223), visando coibir ações poluentes desse tipo, por parte da iniciativa privada, aqui é a própria prefeitura que enche a cidade de traquitanas plenamente dispensáveis. Só na Praça Municipal são mais de 10 placas (contando a roubada) com fotos banais dos monumentos que obstruem e informações também banais, muitas vezes, como dissemos, já sinalizadas no mesmo local.


Bela vista do Largo do Pelourinho, onde o turista não saberia estar.

As plaquinhas foram instaladas pela Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, com recursos do Prodetur (Programa Nacional de Desenvolvimento e Estruturação do Turismo), do governo federal, voltado para iniciativas que fortaleçam o poder de atração das cidades e estados. “Não vejo como essas placas podem fazer isso”, rebate Jaime Nascimento.


Fechado em dia útil, mas pelo menos multi-sinalizado.


Disputando espaço com a placa da loja, parece piada. 


Ou seria uma obra de arte?
 

Por outro lado, há o caso da carência real de informação, de interesse turístico-cultural. Sabemos, por exemplo, que Dorival Caymmi nasceu na rua do Bângala, na Mouraria. A casa, porém, não está sinalizada, e deveria. Talvez, quando se tornar uma instituição batizada de Casa de Dorival Caymmi, com o nome gravado na fachada, aí sim a prefeitura resolva colocar em sua frente uma placa dizendo: “Casa de Dorival de Caymmi”.