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Cemitério de escravizados começa a ser escavado nesta quarta-feira em Salvador
A data escolhida não é por acaso: marca os 190 anos da execução dos mártires da Revolta dos Malês

Foto: Silvana Olivieri
As primeiras escavações no antigo cemitério de pessoas escravizadas, localizado sob o estacionamento da Pupileira, em Salvador, começam nesta quarta-feira (14). A data escolhida não é por acaso: marca os 190 anos da execução dos mártires da Revolta dos Malês, ocorrida na capital baiana em 1835. Segundo a arquiteta e urbanista Silvana Olivieri, responsável pela descoberta do local, alguns dos insurgentes foram enterrados ali. A informação é do g1.
A existência do cemitério veio à tona durante a pesquisa de doutorado de Silvana na Universidade Federal da Bahia (Ufba). A partir da sobreposição de mapas históricos com imagens de satélite, ela conseguiu identificar com precisão onde ficava a antiga área de sepultamento. A escavação acontece quase dois séculos após a revolta, considerada a maior insurreição de africanos escravizados na história da Bahia. O movimento reuniu cerca de 600 homens, majoritariamente muçulmanos. O termo "malê" vem do iorubá e significa "muçulmano".
A rebelião de 1835 foi deflagrada em janeiro, com o objetivo de libertar um líder malê preso pelas autoridades. O levante foi reprimido, resultando em dezenas de mortos, além de prisões, julgamentos e penas severas — incluindo execuções. É justamente esse grupo de insurgentes que, acredita-se, pode ter sido sepultado no local.
Há também indícios de que outras figuras históricas, como participantes da Revolta dos Búzios (1798) e da Revolução Pernambucana (1817), possam ter sido enterradas no mesmo espaço. Registros históricos apontam ainda o descarte de corpos de indígenas, ciganos e pessoas pobres, que não tinham recursos para custear um enterro convencional.
O número de indivíduos sepultados ali segue indefinido. Antes do início das escavações, previstas para as 14h, será realizado um ato religioso em memória dos que ali foram enterrados.
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