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Pelourinho amanhece de vermelho e branco nesta quinta-feira para celebrar Santa Bárbara
Festa reúne fé católica e tradições do candomblé em cortejo que movimenta o Centro Histórico com caruru, cânticos e o tradicional banho de mangueira

Foto: Secult/Lucas Rosário
O aroma de alfazema que invade o Centro Histórico anuncia o início das homenagens à santa considerada protetora contra tempestades e relâmpagos, figura que, no sincretismo religioso, corresponde a Iansã, orixá dos ventos, das tempestades e do fogo. As ladeiras do Pelourinho amanheceram vestidas de vermelho nesta quarta-feira (4), pela celebração da tradicional Festa de Santa Bárbara, feita desde o século XVII, em homenagem à madrinha do Corpo de Bombeiros e padroeira dos mercados.
A data mobiliza católicos, praticantes do candomblé, turistas e moradores, para agradecer, pedir proteção e prestigiar uma das manifestações mais marcantes da cultura baiana, considerada um dos patrimônios imateriais do estado. O tradicional caruru é servido como parte da celebração, reforçando a presença da culinária afro-baiana em praças e mercados.
Todos os anos, fotógrafos transformam o Centro Histórico em um grande estúdio a céu aberto, registrando rostos emocionados, danças, cânticos e o cortejo que atravessa as ruas de paralelepípedo do Pelourinho. A imagem da santa, hoje abrigada na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, conduz os fiéis em um percurso repleto de simbologias.
A história
Santa Bárbara era filha de um homem rico, que o trancava em uma torre que que não convivesse em uma sociedade considerada corrupta. Mais velho, já na idade em que recebia pretendentes par lá casar, Bárbara decidiu dedicar-se ao cristianismo e foi denunciada às autoridades romanas pelo próprio pai. Ela foi torturada para que negasse Cristo e depois condenada à morte. Ela foi decapitada pelo próprio pai que logo foi atingido por um raio e também morreu. Seria a tempestade como a manifestação de Deus. Foi a sua resistência em não negar a sua fé que a fez santa na igreja católica.
E a relação de Santa Bárbara com raios e trovões fez com ela fosse, no Brasil, sincretizada com Iansã.
A devoção a Santa Bárbara tem uma longa história em Salvador. A imagem já esteve no Morgado de Santa Bárbara, no sopé da Ladeira da Montanha, de onde precisou ser retirada após um incêndio. Depois, foi acolhida na Igreja do Corpo Santo, até ser transferida para o Rosário dos Pretos, de onde partem os cortejos.
O cortejo
O trajeto também carrega momentos emblemáticos, como a passagem em frente à sede do Afoxé Filhos de Gandhy, quando os atabaques ecoam no Pelourinho, criando uma sinfonia que se mistura com o canto dos devotos. De lá, o cortejo segue para a Catedral Basílica de Salvador, passa pelo Museu da Misericórdia e continua até o 1º Grupamento de Bombeiros Militar, na Barroquinha.
É no quartel dos bombeiros que ocorre um dos momentos mais aguardados: o tradicional banho de mangueira, gesto que simboliza bênçãos, renovação e proteção. Para muitos, é a representação física da força de Iansã, senhora das tempestades, cujas saudações ecoam entre trovões imaginados e tambores reais.
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