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Carro do ovo ignora crise e muda nome de rua, mas mantém polêmica

O cheiro característico no ar não deixa dúvida: chegamos à Rua do Ovo, no bairro de Valéria, em Salvador. O local se chama Rua George Bonete, mas após as antigas oficinas e residências se transformarem em depósitos de ovos, a via foi rebatizada para fazer jus ao produto mais famoso da região [Leia mais...]

Carro do ovo ignora crise e muda nome de rua, mas mantém polêmica

Foto: Tácio Moreira/Metropress

Por: Bárbara Silveira no dia 25 de janeiro de 2017 às 20:15

O cheiro característico no ar não deixa dúvida: chegamos à Rua do Ovo, no bairro de Valéria, em Salvador. O local se chama Rua George Bonete, mas após as antigas oficinas e residências se transformarem em depósitos de ovos, a via foi rebatizada para fazer jus ao produto mais famoso da região. 

No trecho de pouco menos de 1 km, funcionam cinco distribuidoras de ovos. Os grandes caminhões que trazem a carga da cidade de Entre Rios, a 140 km de Salvador, descarregam diariamente por volta das 5h30 e chegam a causar engarrafamentos nas imediações. “Todo dia tem carro aqui. Tem carro pequeno, caminhão...”, afirma Paulo César Silva, morador da região., 

Com preços até 30% menores, não resta dúvida que o carro do ovo caiu na graça do povo em Salvador e Região Metropolitana. A iniciativa trouxe de volta a antiga prática da venda de porta em porta e fez com que a produção de ovo aumentasse quase 6% em cinco meses, segundo levantamento da Associação Baiana de Avicultura. 

Retrô: carro do ovo retomou antiga prática e virou febre em Salvador
Com a vinheta do plantão da TV Globo, o sucesso do pagode do momento ou alguma música gospel, não há quem nunca tenha ouvido as musiquinhas do carro do ovo nas ruas de Salvador. Apesar de a modalidade  de venda de porta em porta ser antiga, ela voltou a ganhar força na capital baiana em 2016.

“Eu fico ligada no carro do ovo. Quando não compro, deixo o dinheiro com o porteiro do prédio. É bem prático, eu não me incomodo”, afirmou a professora aposentada Mirian Souza, moradora do Imbuí.

Fornecedora é acusada de usar trabalho escravo
A maior fornecedora das distribuidoras da Rua do Ovo é a Granja Sossego, de Entre Rios. O problema é que a empresa é acusada pelo Ministério Público do Trabalho  (MPT) de manter trabalhadores em condições análogas à escravidão. “Em 2013, a Granja já havia sido fiscalizada e foi encontrado trabalho escravo lá. Após o resgate dos trabalhadores, a empresa fez um acordo extrajudicial se comprometendo a não manter trabalhadores naquelas condições. Retornamos em 2015 e, para nossa surpresa, as condições continuavam as mesmas”, contou o procurador do MPT Ilan Fonseca.

MPT: prática ilegal justifica preço
O procurador do MPT não tem dúvidas em afirmar que o uso do trabalho escravo explica o preço tão em conta dos ovos. “As empresas que praticam trabalho análogo a escravo têm menores custos. Não assinam carteiras de trabalho, não dão equipamentos de segurança. Todos esses fatores fazem com que o custo caia drasticamente. Há uma ligação direta entre o barateamento da mercadoria oferecida ao consumidor e as péssimas condições de trabalho dos trabalhadores”, afirmou Fonseca.

Granja alega “mal entendido”
Apesar das duas autuações do Ministério Público, o gerente operacional da Granja Sossego, Washington Bittencourt, negou que o preço bem abaixo do mercado tenha relação com as denúncias de trabalho escravo. “Foi um mal entendido. Resolvemos nossos problemas porque foi uma empresa terceirizada que não foi fiscalizada por nós (...) Pegou muito mal porque tudo levou o nome da empresa e ela era conivente, claro, porque não teve uma fiscalização”, argumentou.