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“O melhor presente que o seu pai pode te dar”; leia o artigo de Maiara Liberato
Ser pai não é tarefa fácil. Por variados motivos. Não há nenhum manual que ensine o que é ser pai ou como ser um bom pai. E, muitas das vezes, não tivemos um exemplo positivo dentro de casa, o que torna as coisas mais difíceis ainda de administrar. [Leia mais...]

Foto: Agência Brasil
Ser pai não é tarefa fácil. Por variados motivos. Não há nenhum manual que ensine o que é ser pai ou como ser um bom pai. E, muitas das vezes, não tivemos um exemplo positivo dentro de casa, o que torna as coisas mais difíceis ainda de administrar.
Quando a família se configura conforme o esperado, fica mais leve conduzir o dia a dia. Mas nem sempre o filho foi desejado, nem sempre foi planejado e nem sempre se está preparado. Mas, aconteceu. E agora existe um novo ser que precisa de amor, de cuidado e de atenção, que demanda um olhar mais apurado e constante. Ouço muitos pais falarem que, ao mesmo tempo que um filho os amedronta – por serem tão frágeis e, assim, quase impossível de pegá-los no colo –, também os desafiam e felicitam, pois faz com que queiram ser pessoas melhores.
A exposição de Gustavo Ban, psicólogo, aclara bastante o que os homens tentam, mas não conseguem dizer: “há uma ressignificação do amor, do afeto, da atenção aos detalhes da vida. Além disso, eu como pai, sou responsável por fornecer os pilares da alma dessa nova pessoa, pela educação dela, por auxiliá-la a transitar pela vida. É como se eu me sentisse convocado para uma missão espiritual, finaliza”.
O psicanalista Claudio Carvalho dá continuidade à fala acima, trazendo a tomada de consciência da finitude, com a chegada de um filho: “O que um filho muda na vida de um homem é ele se sentir mortal. Ter essa dimensão que fica esquecida até ele conhecer a paternidade. Então, ele quer viver mais, para garantir essa transmissão para o seu filho”.
Função Paterna
Existe uma diferença entre ser pai, ou seja, aquele que geneticamente possibilitou a existência dos filhos, e exercer a função paterna, que é o que culturalmente define o que um pai deve ser. Nem sempre aquele que originou um novo indivíduo é a pessoa que cuida dele como um pai deveria fazer.
O impacto da presença paterna na vida do(a) filho(a) se dá, sobretudo, na construção da sua personalidade, do seu afeto e de como essa pessoa vai crescer ou não estruturada, pela presença ou ausência do pai, não só física, mas também pela disponibilidade emocional em querer cumprir bem seu papel e sua função. Uma amiga que tem duas filhas e é separada relatou que há conflitos frequentes entre as meninas e o pai, quando as mesmas, que moram com ela, vão dormir na casa dele. Ao acordarem, a mesa está posta com muitas frutas e alimentos saudáveis, preparados por ele, que entende que elas devem comê-los no café da manhã, por fazerem bem à saúde. Porém, as filhas gostam de comer frutas à tarde e, aí, os conflitos têm início, deixando-o nervoso e a elas impacientes. Ele se desnorteia e essa amiga relata que pede compreensão às meninas, devido à história de vida do pai delas, que só teve a mãe na convivência diária.
O ser humano aprende através do exemplo. E exemplo começa em casa. Os filhos, geralmente, copiam os comportamentos e atitudes do pai, da mãe, das pessoas que representam essas funções e também dos irmãos e entes mais próximos, sobretudo. Quando o exemplo é negativo, muitas vezes, aquela situação se perpetua na formação de um novo núcleo familiar.
Ser de família
Contrariamente ao senso comum feminino, o homem é um ser de família, mesmo aqueles que “pulam a cerca”. Em janeiro de 2014, fiz uma enquete com 30 homens sobre o que é mais importante na vida deles, entre sexo, trabalho, amigos, poder e família, e fui surpreendida, achando ter chegado a um equívoco, que foi posteriormente confirmado pela historiadora e pesquisadora Mary del Priori em pelo menos dois de seus livros. Por exemplo, na obra “Histórias e Conversas de Mulher”, ela entrevistou 20 casais e fez a seguinte pergunta: “O que é um casamento?”. Enquanto 95% das mulheres respondeu que era uma relação de amor, 100% dos homens disse que era a constituição de uma família.
Ter o seu clã, ter a possibilidade e oportunidade de passar aos seus descendentes tudo o que aprendeu, lutou e conquistou, confere uma significação especial à vida de um homem. O pai é importante para dar limite, transmitir segurança e proteção mais firme para esse novo indivíduo se lançar ao mundo.
Mas, o pai precisa assegurar o seu espaço e ter ele assegurado. Para Claudio Carvalho, a “existência” do pai depende de três condições: 1) existir um lugar para ele no social, na cultura, uma vez que antigamente não se ligava à cópula à gestação; 2) estar presente no discurso da mulher, seja ele presidiário, morto, morando próximo ou no Japão, pois é a mãe que chega e diz: “esse é seu pai”; 3) estar à altura de representar a função paterna, pois ele não é essa função.
O pai é o primeiro estranho na vida da criança, que é tão ligada à mãe, já que até cerca de 18 meses não percebe que ela e sua genitora são dois seres distintos. O pai vem colocar um limite, fazer um corte nessa fusão e na relação dual entre mãe e filho, para permitir que o filho comece a desejar. Ao pai cabe dizer: “aqui pode, aqui não pode”.
Qualidade da relação
Quantidade e qualidade são conceitos diferentes. Quando se tem os dois, ótimo. Mas que fique claro que o segundo se sobrepõe ao primeiro, sobretudo quando falamos em relacionamentos. Há muitos pais que por estarem ali, vendo o filho todo dia, ao acordar e ao dormir, acham que estão presentes na vida dos filhos. Mas uma coisa é a presença física e outra, bem diferente e bem melhor, é estar com seus pequenos “de alma”.
Portanto, morar junto ou separado não é o mais importante. E sim a troca de amor, de confidências, o ensinar, dar apoio, dar colo, dar orientação e limite, acolhimento e inspiração. Muitas situações da vida separam pais e filhos, mas deixam um buraco emocional tão grande, que mesmo sendo invisível aos olhos, é quase maior que o pedaço de céu que conseguimos contemplar diariamente.
Por tudo isso e pelo bem que vocês, pais, podem fazer por si e por seus filhos, resgatem a relação, caso ela tenha se desgastado. Com propriedade, bem disse Maurício Magalhães: ser pai ausente no conceito do amor, não é pai. Pai é incondicional, é querer que o filho seja ele mesmo e apoiá-lo. Toda paternidade é construída sobre três pilares: amor (dizer sim e não), valor (mostrar o que é certo e errado) e conhecimento (colocar seu filho no mundo, dar educação e possibilitar a ele “experienciar”). Existem casos de pessoas que tiveram maus exemplos e foram para a vida de outra forma, linda e positiva.
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