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Xavier Informa reativa Tábuas da Lei em tempo de comunicação digital e viraliza em Salvador
O líder comunitário Paulo Xavier, da Federação, chama atenção com suas tábuas de reivindicação espalhadas pela cidade

Foto: Tácio Moreira / Metropress
Em tempos de comunicação digital, WhatsApp e afins, o líder comunitário Paulo Xavier, mais conhecido como Xavier Faz, reinventou as Tábuas da Lei. Engana-se, porém, quem acreditar que a opção torna a comunicação obsoleta.
Ao contrário: nascido e criado na Federação, ele reaproveita portas velhas para reivindicar melhorias para o bairro, deixar recados em pontos estratégicos que passaram a atrair atenção da população e dos poderes públicos a ponto de, para usarmos um termo típico da internet, viralizar.
"Eu comecei pintando faixas, mas cada uma custa entre R$ 80 e R$ 100, e a prefeitura retirava. Então, o prejuízo era grande. Foi aí que, ao ver uma divisória velha, jogada no lixo pelo pessoal da TVE, me bateu o estalo e surgiu o Xavier Informa", explica.
Xavier usa seu "site" (é bom lembrar que a palavra significa sítio = lugar demarcado) para reivindicar ações como podas de árvores, reformas de passeios, trocas de lâmpadas, corrimões para escadas etc. Coisas pequenas, mas que fazem muita diferença no dia-a-dia do cidadão comum.
Antes da queixa pública, porém, o líder comunitário protocola os pedidos oficialmente e faz questão de fixar o número de cada um deles nos informes. "Sei os ofícios de cor. O que cobra a ultrassom na Upa dos Barris, por exemplo, é 099/2016. Já teve gente que questionou a autenticidade dos documentos, mas é tudo correto, até porque, falsidade ideológica é crime e eu não sou moleque", diz.
O alambrado serve de suporte para o informe, com direito ao endereço de sua página no Facebook
As ações, que começaram em 2013, não podem ser caracterizadas como pichação, por exemplo, mas têm incomodado a prefeitura. "Eles retiram, mas eu coloco de novo. Aliás, eles estão lenhados, porque eu tenho mais de 50 portas guardadas. E ontem mesmo peguei mais duas no lixo. As reivindicações não vão parar", garante Xavier.
Sem interesse em concorrer a cargo político (embora já tenha sido candidato a vereador pelo PCdoB), ele explica que a atividade dele começou após se decepcionar com outros líderes comunitários locais: "Tô cansado de ouvir falar mal de meu bairro. Minha vida é aqui, tenho imóveis aqui, familiares e amigos, quero apenas a melhora para o meu lugar".
O aspecto rústico e a tecnologia primitiva de cada informe não impedem o sucesso na internet, em um caso lapidar de relação intermidiática. “Eu posto várias coisas no Facebook e envio a grupos no WhatsApp. As pessoas compartilham. Meus vídeos não passam de 59 segundos, para não cansar", explica ele, ao revelar surpreendente consciência dos meios.
O sucesso das portas do "Professor Xavier" é tal que outras comunidades já pedem socorro ao "Xavier Informa". "Pessoas de Cajazeiras, Mussurunga e outros lugares já me pediram para colocar as portas, vou atendendo na medida do possível", diz.
E, para quem pensa que as reivindicações ficam só da porta para fora, o homem cita alguns exemplos de pedidos atendidos, entre os quais, o abrigo de ônibus em frente à Escola de Belas Artes da Ufba, no Canela.
"Quando mandei o ofício, a prefeitura respondeu que era inviável, por causa do tamanho. Mas aí eu fui lá, medi e mostrei que dava para fazer. Está lá. Foi uma conquista. E eu botei uma porta informando que a insistência valeu a pena, para incentivar o cidadão a crer no protesto", conclui.
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