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Quinta-feira, 28 de março de 2024

Cultura

"A grande beleza da Bahia está nessa reinvenção da África", diz Laurentino Gomes

Escritor e jornalista lançou o volume II do livro Escravidão: Da corrida do ouro em Minas Gerais até a chegada da corte de Dom João

"A grande beleza da Bahia está nessa reinvenção da África", diz Laurentino Gomes

Foto: Reprodução Rádio Metropole

Por: André Uzêda no dia 21 de junho de 2021 às 09:21

O jornalista e escritor Laurentino Gomes conversou com Mário Kertész nesta segunda-feira (21) e falou sobre o lançamento o volume II do seu best seller 'A Escravidão'. Nesta nova publicação, chamada de "Da corrida do ouro em Minas Gerais até a chegada da corte de Dom João", o autor aborda como o continente africano foi destruído com a descoberta de pedras preciosas no sudeste do Brasil. 

"A África foi distorcida pela busca de mão de obra especializada na busca pelo ouro", disse o autor. Laurentino falou ainda sobre como o século XVIII foi marcado por muitas revoluções no mundo branco (Inconfidência Mineira, Revolução Francesa, Revolução Industrial), mas os ideais não se estendiam aos negros e escravizados. "Esta é uma contradição curiosa nas revoluções brancas. Existia o desejo igualdade, fraternidade e liberdade para os brancos. Mas não para os negros", diz.

Questionado por Kertész sobre as diferentes religiosidades dos povos africanos, Laurentino Gomes defendeu a importância da Bahia na constituição e reinvenção de uma nova África.

"Cada parte da África tinha uma prática religiosa diversa. Da alta Guiné até a África subsaariana. Na Bahia, duas etnias diferentes constituíram o candomblé. Os iorubás e Jeje-Mahi. Os orixás na Bahia, esse enorme panteão de orixás que cada terreiro tem, não acontece desta forma na África. Cada povo tem devoção  a um orixá. Aqui houve esse encontro de vários povos e nasce uma nova África. A grande beleza da Bahia está nessa reinvenção da África", disse.

Laurentino Gomes ainda falou sobre os dois grandes legados da escravidão que ainda persistem no país: a desigualdade social e o racismo. E criticou a condução da Fundação Palmares no governo Bolsonaro, sob o comando de Sérgio Camargo. "De todas as coisas do governo Bolsonaro o que mais me compadece é ter um homem negro à frente da Fundação Palmares que reverbera as ideias da supremacia branca. É como se dissesse: 'Olha só o que vocês são no fundo. Não é só o branco que pensa desse jeito. Os negros também'. Isso é terrível", completou.

O escritor também falou sobre o que classifica de "um DNA escravista" que acredita a humanidade possuir. "Onde teve civilização humana teve escravidão. É só analisar a história. E a escravidão acaba quando começa a Revolução Industrial, que produz os novos escravos modernos, como o computador, o avião, o foguete. Nós passamos a escravizar as máquinas. Isso faz a gente pensar que, se houver uma grande crise tecnológica, vamos voltar a ser escravistas, porque isso parece que tá no nosso DNA", conclui.