
Cultura
Há um ano, o mundo perdia Gal Costa: "Ainda não admiti", diz Caetano
A cantora tinha 77 anos e fez o país inteiro chorar com a notícia repentina

Foto: Manuela Scarpa/Brazil News
Gal Costa morreu no dia 9 de novembro de 2022, aos 77 anos. Há, portanto, exatamente um ano. Ficará para sempre escrita, marcada a data fatal. A notícia triste pegou todo mundo de surpresa, já que a cantora não estava sequer internada num hospital, como Rita Lee, por exemplo. De repente, Gal morreu. O país inteiro, ainda chorando as excessivas mortes da pandemia de coronavírus, chorou. "Puxa, já faz um ano? Ainda não admiti então", surpreendeu-se Caetano Veloso, em conversa com o Metro1.
Ainda no dia da morte, Maria Bethânia, que é um pouco mais nova que a amiga, declarou: “Em choque, triste demais, difícil demais. Eu nunca pensei um dia chegar a vocês para falar sobre a dor de perder Gal. O Brasil que ela sempre encantou com sua voz única, magistral, hoje, inteiro, chora. Como eu”. Traduziu e encarnou a sensação geral, coletiva.
Caetano, que dividiu com Gal o primeiro disco de ambos, sempre a tratou por “a maior cantora do Brasil”. Filha direta e dileta de João Gilberto, ela injetou, no momento oportuno, em seu canto preciso e cristalino, as fagulhas que a tornaram voz símbolo da Tropicália.
“A voz dela é um fio de radium luminoso”, definiu o poeta Haroldo de Campos.
Na coluna Geleia Geral, que manteve no jornal Última Hora, Torquato Neto escreveu, no dia 16 de outubro de 1971, falando do show “Fa-Tal”, que tinha assistido no Teatro Siqueira Campos, no Rio: “Disse e repito: Gal é a maior cantora. E garanto. E você, bobão tropicalista, não venha me falar em épocas: todo mundo sabe que existem cantoras maiores em cada época, para todas as épocas e que Araci é a maior cantora e que Ângela e Dalva também são as maiores e que Elizeth, ainda, é a maior cantora. Mas se você quer saber mesmo da maior cantora, a que sintetiza melhor e mais profundamente todas as épocas no recado desta época aqui, a mais quente, presente, perfeita e livre e eu lhe digo: Gal”.
Soteropolitana, natural do bairro da Graça, Gracinha já encantava Deus e o mundo antes mesmo de o empresário Guilherme Araújo a rebatizar como Gal. Nome em princípio rechaçado pelos colegas-amigos-irmãos, Caetano à frente, mas depois consagrado no samba-rock (?) “Meu Nome é Gal”, de Roberto e Erasmo Carlos.
João Gilberto sempre a chamou de Gracinha. “Cantora, cantora mesmo é Gracinha. Cantora para dar aquele tom certo, cantora é mesmo Gracinha”, disse o pai da bossa nova a Augusto de Campos, em New Jersey, 1968.
E Antonio Risério escreveu: “Quando em algum lugar escuto alguém falar de Gal Costa, ou simplesmente dizer seu nome, duas observações costumam me ocorrer quase de imediato. A primeira é que, para lembrar o verso do poeta chileno Vicente Huidobro, ela parece ter feito um pacto secreto na garganta com algum rouxinol-uirapuru. Daí que eu leia o seu nome até na palavra inglesa para rouxinol: nightingale, nightingal. A segunda observação diz respeito justamente a uma consequência desse pacto secreto: a qualidade – meraviglia – do timbre de sua voz. E é por isso que sempre digo que o canto de Gal é ecológico, num sentido muito preciso. Vale dizer: quando Gal canta, quando sua voz ondula na pele do ar, o ambiente à sua volta, qualquer que seja, se transfigura. Gal, o canto de Gal, é qualidade de vida”.
Há um ano Gal ainda nos surpreende com sua morte (a certidão de óbito disse, com atraso: infarto fulminante) como em vida nos surpreendia com seu canto, suas escolhas, suas atitudes. Está nos cinemas, vivida por Sophie Charlotte: “Meu Nome é Gal”, de Dandara Ferreira e Lô Politi. Está nas plataformas digitais, nos LPs, vídeos no YouTube, nas saudades, nas atitudes mais ousadas dos artistas mais jovens. Está em nós. Viva, Gal! Viva Gal!
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