Faça parte do canal da Metropole no WhatsApp >>

Sábado, 27 de abril de 2024

Home

/

Notícias

/

Cultura

/

"Negro aqui só Grande Otelo, que faz palhaçada", Alaíde Costa lembra caso de racismo no Copacabana Palace

Cultura

"Negro aqui só Grande Otelo, que faz palhaçada", Alaíde Costa lembra caso de racismo no Copacabana Palace

Aos 88 anos, a cantora que é uma das vozes marcantes da bossa nova vê, finalmente, sua importância sendo reconhecida

"Negro aqui só Grande Otelo, que faz palhaçada", Alaíde Costa lembra caso de racismo no Copacabana Palace

Foto: Reprodução TV Cultura

Por: James Martins no dia 26 de março de 2024 às 13:33

No centro do programa Roda Viva, exibido nesta segunda-feira (25), na TV Cultura, a cantora Alaíde Costa lembrou o caso de racismo que sofreu no hotel Copacabana Palace, um dos mais elegantes do Rio de Janeiro. Questionada sobre algum possível episódio que lhe tenha despertado a conciência de enfrentar dificuldades por sua condição racial, ela iniciou a história, vivida certamente nos anos 1950: "Não havia televisão, né? E daí o Grande Otelo me ouviu na Rádio Nacional, no programa César de Alencar. Ele me indicou para o diretor do Copacabana Palace, que precisava de uma croonner. (...)". 

E continua, falando do diretor do hotel: "Ele me ouviu, gostou e me pediu que eu fosse lá no dia seguinte, pra conversar e, de repente, assinar um contrato. Quando eu cheguei lá, já teve aquela história de que não podia entrar pela frente, tinha que dar a volta, não sei o que... mas eu não... não caiu a ficha [da discriminação]... e lá fui eu. E, quando ele me viu, ele olhou assim e falou 'Ah, me desculpa ter feito você vir, pois meu sócio já contratou outra pessoa. De um dia pro outro!!!".

Aos 88 anos, a artista narra o desfecho da história: "Aí, quando eu saí, uma camareira perguntou como foi e, quando eu falei que não deu certo ela disse: 'Eu sabia!'. Eu falei: 'Como você sabia?'. E ela: 'É porque negro aqui só Grande Otelo, que faz palhaçada'".

Alaíde admite, por fim, que mesmo esse episódio não foi suficiente para fazê-la notar o quanto era discriminada por ser negra. "Só vim perceber mesmo, décadas depois", concluiu.

Iniciando a carreira precocemente, chegando mesmo a gravar em 78RPM, Alaíde Costa é uma das vozes marcantes da bossa nova. Porém, em grande parte por ser negra, enfrentou muitas dificuldades em firmar sua carreira no Brasil. Nos últimos anos, o estranho silêncio em torno ao seu nome vem se dissipando. Ela lançou em 2022    o álbum "O que meus calos dizem sobre mim", produzido por Emicida, Pupillo e Marcus Preto. O trabalho foi eleito o melhor lançamento fonográfico de MPB no 30º Prêmio da Música Brasileira.