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Baiano vence campeonato nacional de batalhas de rima e reafirma protagonismo da Bahia no freestyle

Cultura

Baiano vence campeonato nacional de batalhas de rima e reafirma protagonismo da Bahia no freestyle

Título conquistado em Belo Horizonte coloca a Bahia novamente no topo e acompanha a evolução da modalidade no território baiano

Baiano vence campeonato nacional de batalhas de rima e reafirma protagonismo da Bahia no freestyle

Foto: Cadu Passos

Por: Vitor Bahia no dia 24 de novembro de 2025 às 17:22

Atualizado: no dia 24 de novembro de 2025 às 17:30

O Duelo Nacional de MC’s, a maior competição das batalhas de rima do Brasil, conheceu seu mais novo campeão no último domingo (23), em Belo Horizonte. Baiano de Águas Claras, Caio Lima da Silva, o Japa MC, recolocou a Bahia no topo do cenário e reivindicou o posto de um dos maiores da história. Mesmo após o vice-campeonato do ano passado, o MC deu a volta por cima e, numa final eletrizante contra o Barreto MC, levou o troféu do Viaduto Santa Tereza e os R$ 35 mil para Salvador.

Japa, o maior campeão estadual da história, com cinco títulos, viajou por todo o Brasil em 2025 e foi campeão por onde passou. No mês de julho, conquistou a Batalha da Aldeia de Aniversário, um dos eventos mais importantes das batalhas de rima, e recebeu a premiação de R$ 30 mil. O MC é um dos contratados pela Freestyle Master Series (FMS), uma organização internacional que contrata MC’s para serem atletas profissionais e receberem salário fixo.

A Bahia também é Hip-hop

O movimento é celeiro de grandes artistas da música nacional, a exemplo de Emicida, Xamã, Marechal e Orochi. Mesmo o cantor de “Resenha do Arrocha”, J. Eskine, era organizador da Batalha do Dendê, na Cidade Baixa. As batalhas são uma oportunidade de ascensão social, de acesso ao conhecimento e diversidade cultural. E de rimas em rimas, a Bahia constrói versos, estrofes e poesias que contam histórias dos artistas de rua, postulantes à artistas de palco.

O baiano passou boa parte do ano em São Paulo, onde enfrentou barreiras regionais, xenofobia e vaias, para alçar seu nome no estado mais midiático das batalhas. Em todos os lugares que pisou, levou o nome do seu estado, a bandeira dos "Foras do Eixo" e a camisa do seu clube do coração: o Vitória.

Profissionalização 

Cada vez mais esta cultura tem o cenário profissionalizado, com premiações em dinheiro por edições semanais e grandes eventos com valores que ultrapassam os R$ 10 mil. A Bahia é um dos estados mais tradicionais, com o título nacional de Larício, em 2014; MC’s lendários como Mirapotira, Nad, JayA, Yoga, Slah, Monarka, Pitbull, Black e Azêh; rodas culturais históricas como a Batalha da Torre, a Batalha do CH e o 3º round. Quase todo ano, eventos nacionais e internacionais, como a FMS, são sediados em solo baiano e culminaram, para Japa, na inevitável conclusão: “é possível viver de rima na Bahia”.

O que são as batalhas de rima?

Uma simbiose entre os quatro elementos do Hip-hop (Breakdance, Grafite, DJ e MC) deu à luz às batalhas: um movimento de rimas improvisadas, que transforma vidas e tem ganhado todo o Brasil. Os duelos são realizados em dois rounds em que um artista ataca e o outro responde, com possibilidade de um terceiro round, em caso de empate. O critério para vencer é construir uma narrativa melhor que a do adversário, por meio da argumentação com rimas improvisadas, o chamado “estilo livre” ou “freestyle”.

Mas as batalhas são muito mais que ataques mútuos, Japa as enxerga como uma nova forma de ascensão social para os jovens periféricos, uma alternativa para meios mais consolidados no Brasil, como o futebol. Elas são  espaços para produzir e disseminar conhecimento, questionamento, debates de pautas importantes e causas sociais. “Para você rimar, tem que ter o conhecimento, não adianta ter só o dom da rima, tem que estudar, tem que ter a vivência”, afirma o campeão.

Seja em forma de desabafo ou de protesto, a rima improvisada tem um poder transformador sobre o indivíduo. No caso de Japa, ela acabou sendo a única forma de expressão para um jovem retraído e introvertido. “A batalha era o único jeito que eu tinha de me expressar, eu rimava porque queria gritar, queria que alguém me ouvisse falando alguma coisa que não conseguiria falar normalmente. Mesmo ganhando 90% do que eu sonhei, se eu ficar um mês sem rimar, eu fico louco, é o único jeito que eu consigo falar com as pessoas no geral”, disse.