
Cultura
'Eu ando na frente, a realidade vem atrás de mim', diz Ignácio de Loyola Brandão
Em entrevista à Rádio Metrópole, escritor e imortal da Academia Brasileira de Letras falou sobre suas obras mais recentes e relatou suas impressões a respeito do isolamento social

Foto: Reprodução
O escritor, jornalista e imortal da Academia Brasileira de Letras, Ignácio de Loyola Brandão, falou, em entrevista à Rádio Metrópole, na manhã de hoje (23), sobre seu mais recente livro. Lançado em março, pouco antes da crise causada pela pandemia do novo coronavírus, "O Não Não é Resposta", biografia da renomada cirurgiã paraense Angelita Gama, de 88 anos, não chegou às prateleiras das livrarias devido às medidas de isolamento social. A própria médica contraiu o novo coronavírus e foi internada na UTI do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em são Paulo.
"Ela é uma das maiores cirurgiãs cancerologistas do Brasil, trouxe o colonoscópio pra cá, criou uma nova técnica para câncer colorretal. Ela tem 88 anos e ainda opera. É uma mulher fantástica, que combateu o machismo dentro da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Não queriam deixar ela ser uma cirurgiã, e ela disse 'eu vou ser'. Essas pessoas me encantam, por isso faço esses livros assim, fora os meus livros normais. É outro Brasil que existe", contou.
O escritor de 83 anos também leu em primeira mão alguns trechos da crônica que publicará amanhã (24) no jornal O Estado de S. Paulo e comentou passagens do livro "Desta Terra Nada Vai Sobrar, A Não Ser O Vento Que Sopra Sobre Ela", publicado em 2018. "O curioso desse livro é que as pessoas perguntam 'você é vidente?', e eu digo 'não, eu ando na frente, a realidade vem atrás de mim'. Porque nesse livro tem a eleição do primeiro presidente sem cérebro do Brasil. Como é que eu adivinhei? É só projetar as coisas. Eu olho pela janela e exagero. Mais exagerada do que a vida é, não existe. Só que a literatura vai na frente. E esse livro fez um panorama que infelizmente acabou acontecendo. (...) Isso vem da minha loucura, ou da minha superlucidez", analisou.
Loyola ainda relatou a Mário Kertész suas impressões sobre o isolamento social em São Paulo, onde vive. "Uma coisa muito curiosa é que é um silêncio nessa cidade de São Paulo. Não tem um congestionamento, um barulho de buzina, e você vê o céu limpo à noite e durante o dia. Infelizmente foi preciso uma peste dessa, tenebrosa, pra limpar a poluição. Mas por que a gente não muda o nosso modo de viver? (...) Eu arrumei minha biblioteca inteirinha, estava um horror", disse.
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