Segunda-feira, 30 de junho de 2025

Faça parte do canal da Metropole no WhatsApp

Home

/

Notícias

/

Cultura

/

Cineasta avalia crise e fuga de investimentos internacionais: 'Ninguém mais confia na gente'

Cultura

Cineasta avalia crise e fuga de investimentos internacionais: 'Ninguém mais confia na gente'

Para Cláudio Marques, momento de 'ingovernabilidade' da gestão de Bolsonaro é prejudicial ao país

Cineasta avalia crise e fuga de investimentos internacionais: 'Ninguém mais confia na gente'

Foto: Metropress

Por: Matheus Simoni no dia 09 de junho de 2020 às 12:51

Cineasta, crítico de cinema e diretor do Espaço Itaú de Cinema Glauber Rocha, em Salvador, Cláudio Marques comentou a atual situação da categoria artística em meio à pandemia de coronavírus. Em entrevista a Mário Kertész hoje (9), durante o Jornal da Metrópole no Ar da Rádio Metrópole, ele comentou a falta que faz a circulação do público nos espaços culturais.

"Essa coisa única que é sair da sua casa, se dirigir para um espaço, comungar daquele mesmo filme e sair comentando se gostou ou não gostou. Não dá para comparar com a experiência de ver em casa, no computador. Espero que, quando a gente saia em breve, a gente saia de uma maneira melhor e que as pessoas estejam com muita saudade da cidade, estar nos espaços culturais e encontrar as outras pessoas", disse o cineasta, que também é comentarista de Cinema da Metrópole.

Em avaliação do panorama do cinema durante a crise no país, Cláudio Marques aponta a falta de rumo do governo de Jair Bolsonaro como prejudicial ao país. "Pela primeira vez estava tudo certo para ter uma coprodução internacional. Mas a gente está perdendo credibilidade internacional. Ganhei editais, era para eu estar com os recursos garantidos, mas a Ancine está completamente paralisada. Recebi uma carta de nossos coprodutores falando que respeitam muito minha trajetória, adora o projeto, mas o dinheiro tem que investir em outro lugar porque não tem segurança jurídica com o Brasil", disse o cineasta. 

"A gente está deixando de trazer muito dinheiro para cá. No momento de depressão que era para estar trazendo recursos, que toda minha geração de cineastas cada vez mais está se projetando para fora do Brasil, é o momento de trazer recursos para cá, mas estamos vivendo esse momento. O momento que a gente está no governo Bolsonaro é terrível pela pandemia e por essa sensação de ingovernabilidade. Estamos num momento em que ninguém mais confia na gente", acrescentou. 

Marques ainda comentou os primeiros passos na área e a fundação do Espaço Itaú de Cinema, que conta com mais de dez anos de fundação. "Comecei a viajar muito para os festivais de cinema como crítico e falei que queria esses filmes exibidos em Salvador. Aqui não passava quase nunca. Em 2003, a gente tinha um circuito comercial que não exibia filme brasileiro nenhum. Tínhamos uma média de dez filmes brasileiros sendo exibidos no circuito brasileiro de um total de 40 que eram feitos e realizados no Brasil. Hoje temos um total de 140 exibidos no circuito", afirmou o diretor. 

Cláudio Marques também falou do contato que teve com os diversos estilos de cinema, a exemplo de Glauber Rocha. Ele citou um episódio envolvendo o filme "Terra em Transe", que estava sendo exibido em Paris, na França. "Eu tinha assistido Terra em Transe em VHS e dizia que esse filme não era bom. Adolescente, vi Deus e o Diabo na Terra do Sol e dizia que não prestava. Quando fui para a França pela primeira vez e passei um pouco lá, teve um dia no Centro Georges Pompidou, um centro maravilhoso de literatura e cinema, eu passava e ia direto para a seção de literatura. Eu me sentia preso e ligado à literatura", narra o cineasta.

"Um dia eu passei e tinha uma fila gigantesca para o cinema. Estava acontecendo algo forte. Desci para minha seção e vi que a fila estava muito maior. Fui ver o que estava vendo e era Terra em Transe. Humildemente fiquei duas horas na fila para conseguir entrar. Foi aquele impacto que muda a vida da gente. Eu não tinha visto nada disso no filme e fala tudo o que eu deveria ter aprendido na ditadura e no Brasil dos anos 60", comentou.