Faça parte do canal da Metropole no WhatsApp >>

Sexta-feira, 26 de abril de 2024

Home

/

Notícias

/

Cultura

/

'Murro em Faca de Ponta': livro comprova monitoramento a arcebispo na ditadura

Cultura

'Murro em Faca de Ponta': livro comprova monitoramento a arcebispo na ditadura

Obra produzida em conjunto pelos escritores Biaggio Talento e Helenita Hollanda

'Murro em Faca de Ponta': livro comprova monitoramento a arcebispo na ditadura

Foto: Metropress

Por: Matheus Simoni no dia 25 de setembro de 2020 às 13:20


O jornalista e escritor Biaggio Talento e sua esposa, a médica e também escritora Helenita Hollanda, lançaram o livro “Murro em Faca de Ponta”, que traz provas de que o Arcebispo de Natal, Dom Nivaldo Monte, como tantos outros no Brasil, era mais um dos monitorados pela ditadura militar. "Tentei construir a história de como foi esse conflito e como foi essa história em Natal sobre como ele conseguiu desenvolver os programas sociais que a Igreja tinha, nesse estilo de dar murro em faca de ponta ao invés de dar murro em ponta de faca. Com jogo de cintura, ele conseguiu levar. Os problemas que ele teve com a ditadura, ele conseguiu contornar em função desse estilo. Ele engabelou, na verdade, os militares", disse, entrevista a Mário Kertész na Rádio Metrópole hoje (25). 

Dom Nivaldo nasceu em Natal, em 1918. Foi professor de disciplinas que iam do Grego à Psicologia, tinha experiência em jornalismo e comunicação. Foi a favor do golpe militar diante da “ameaça comunista” em 1964, mas nem isso foi suficiente para impedir que fosse monitorado de perto pelos agentes da ditadura. 

O livro, que possui 80 páginas, relata como Dom Nivaldo passou a ser vigiado, graças a arquivos que vieram à público com a promulgação da Lei de Acesso à Informação, em 2011. 

Entre pesquisa e redação, o livro demorou quase dois anos para ser concluído pelo casal. Biaggio conta que os documentos evidenciaram até mesmo uma vigilância após o período da ditadura militar no Brasil.

"A governança dele na arquidiocese coincide com o período mais duro da ditadura. Começou em 1967 e foi até o fim da ditadura. Os documentos mostram que ele foi monitorado pelo SNI até depois da ditadura, sete meses depois. Existia e ainda estava seguindo as pessoas. A grande virada da CNBB e da igreja em relação ao regime foi a função de ter assumido a presidência D. Aloísio Lorscheider e na importante arquidiocese de São Paulo d. Paulo Evaristo Arns. Ele mudou completamente o jogo e o equilíbrio na CNBB. Passaram a denunciar tortura e prisão de padres. A partir daí, o governo que tinha feito um acordo com a igreja para não prender padres em 1964, a coisa mudou", declarou.

Helenita tratou de exaltar as qualidades de Dom Nivaldo. "Uma das figuras mais generosas que já conheci. Um homem eruditíssimo. Tinha um amor e um zelo pelo conhecimento muito grande. A igreja foi sua casa desde sempre. Foi de uma doação enorme para a igreja, não só foi templo, mas tudo o que ele construiu em termos materiais foi herdado pela igreja. Herdei uma mania de família, que são diários desses padres", contou a escritora, que é sobrinha-neta de Dom Nivaldo.