
Cultura
Conhecer a história de Samuel Wainer ajuda a entender o Brasil, diz biógrafa
Em entrevista à Rádio Metrópole, Karla Monteiro repassou episódios da trajetória do empresário e jornalista, fundador do revolucionário jornal Última Hora

Foto: Metropress
Fundador do Última Hora, jornal considerado revolucionário, o jornalista e empresário Samuel Wainer esteve presente nos momentos mais importantes da história política brasileira no século XX, segundo a biógrafa Karla Monteiro. Em entrevista a Mário Kertész, na Rádio Metrópole, na manhã de hoje (2), a autora do livro "Samuel Wainer - O Homem que Estava Lá" afirmou que compreender a trajetória do jornalista russo-brasileiro é "fundamental" para saber porque o Brasil é como é.
"Eu li a autobiografia 'Minha Razão de Viver' quando jovem, depois fui trabalhar em grandes redações. Em 2013, 2014, o Brasil virou de cabeça pra baixo e eu comecei a sentir uma necessidade muito grande de entender a história do Brasil, como chegamos até aqui, o que aconteceu no século XX para chegarmos até esse caos. Comecei a ter uma crise pessoal como jornalista, questionar as coberturas da imprensa e querer entender muito como a imprensa se coloca nos momentos de crise aguda do país. Aí o personagem Samuel Wainer voltou à minha cabeça, sendo alguém que me ajudaria a compreender a imprensa, minha profissão e o Brasil. Acho que me ajudou. O livro passa da Revolução de 1930 até 1980, cobrindo golpes, contragolpes, tentativas de golpe, duas ditaduras, duas guerras, e o Samuel era o homem que estava lá, estava presente em todos os momentos. (...) Acho fundamental que as pessoas conheçam essa história, porque ela diz muito do Brasil, de como as forças se organizam para desorganizar tudo no país", explicou.
O livro de Karla aborda episódios como a aproximação de Wainer com o presidente Getúlio Vargas e a inimizade pública com o político Carlos Lacerda, que levou à abertura de uma CPI contra o jornalista. Mesmo nascido na Rússia, o que impediria que ele fosse dono de um jornal no Brasil, o fundador de "Última Hora" dizia ser brasileiro nato. "O Lacerda tinha sido amigo dele e sabia de coisas que Samuel não queria que as pessoas soubessem, então ele sabia onde dar rasteira. E como dono de jornal não podia ser estrangeiro, Lacerda achou várias indicações de que samuel não era brasileiro. Foi uma guerra épica. Lacerda tentou eliminar Samuel de qualquer forma, com o objetivo de atingir o Getúlio, o que acabou conseguindo", disse a biógrafa.
Karla também destacou a importância do trabalho de Wainer para a imprensa com o lançamento do jornal Última Hora, em 1951, com projeto gráfico inovador e orientação política trabalhista: "A gente tem que levar em consideração que a Última Hora foi lançada em um momento que a imprensa estava estagnada, vindo do Estado Novo, muitos anos de censura. Os jornais não tinham fotografia, diagramação, nada. O Samuel vem com um jornal extremamente moderno, que traz várias inovações de diagramação e fotografia. Foi imageticamente uma grande revolução. Ele também revoluciona nos assuntos. Ele traz o futebol e a polícia para a capa, traz os assuntos que não eram tratados pela imprensa séria. Ele revoluciona até na distribuição, entregando os jornais nas bancas. Na época os jornaleiros pegavam o jornal na gráfica. Ele também dignifica o trabalho do jornalista, pagando bons salários. Mas acho que a maior contribuição dele foi introduzir um jornal de orientação trabalhista, nacionalista, no seio de uma grande imprensa muito liberal e conservadora. Ele era o contraponto".
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