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Falsas polêmicas e politicamente correto atestam chatice do futebol
O título desta matéria é autoexplicativo. Quem acompanha futebol ou dedica alguns minutos para a ver a bola rolando nos gramados sente falta dos tempos em que Bahia e Vitória paravam a cidade nos Ba-Vis. No último final de semana, os dois clubes da capital se enfrentaram pelo torneio estadual já classificados. [Leia mais...]

Foto: Reprodução/PremiereFC
O título desta matéria é autoexplicativo. Quem acompanha futebol ou dedica alguns minutos para a ver a bola rolando nos gramados sente falta dos tempos em que Bahia e Vitória paravam a cidade nos Ba-Vis. No último final de semana, os dois clubes da capital se enfrentaram pelo torneio estadual já classificados. O alento para quem compareceu ao estádio foi a possibilidade de retomar um antigo costume dos torcedores que frequentavam a velha Fonte Nova: a torcida mista. Muitos tricolores e rubro-negros viram o clássico lado a lado, numa condição que favoreceria a velha “resenha” sadia entre os torcedores.
Mas até isso tentaram estragar: fora do estádio, membros de torcidas organizadas dos dois clubes protagonizaram verdadeiras cenas de guerra, com uma morte — que acabou ofuscando a iniciativa da torcida mista.
Querem acabar até com as provocações
No último Ba-Vi, domingo (9), foi possível ver um sopro do antigo futebol da era da velha Fonte. Em lance na área rubro-negra, os zagueiros Lucas Fonseca e Kanu, de Bahia e Vitória, tiveram uma discussão acalorada. Em determinado momento, o defensor tricolor acusou o rival de estar com bafo, provocação que teve repercussão nacional por conta da espontaneidade e do ineditismo. Porém, a quase folclórica postura de Lucas Fonseca chegou a ser vista como atitude de racismo por parte da
imprensa — o que claramente não foi o caso.
\'A chatice vai afastar o público\'
Para o jornalista esportivo e pesquisador Paulo Leandro, autor do livro “Negô! Baêa! - A invenção da torcida baiana”, a atual cultura do futebol descaracteriza o esporte. “Provavelmente, no próximo passo histórico, à medida em que o mercado for percebendo que a chatice vai afastar o público — e, portanto, seu cliente —, é provável que esse mercado reaja e possa voltar a soltar um pouco o torcedor. Na reinauguração da Fonte Nova, há quatro anos, era possível ao jogador subir as escadinhas e abraçar o torcedor. Ela não foi feita para isso, mas o jogador e o torcedor reinventaram a escadinha com o propósito do encontro. Mas então veio o poder ordenador do estado e da empresa e determinou que a escadinha ficasse proibida para isso”, lamentou Paulo Leandro.
Em meio à tentativa de unir as torcidas, também colabora com a chatice do futebol a tentativa de podar a personalidade de atletas mais polêmicos. Recentemente, o atacante Hernane, do Bahia, declarou que faria um gol no clássico Ba-Vi. Bastou isso para que ele fosse repreendido pela diretoria do clube — o que o presidente Marcelo Sant’Ana admitiu em recente entrevista à Rádio Metrópole. Bom mesmo deve ser aquele jogador que fala que “vai colocar o que o professor treinou durante a semana, para conquistar os três pontos, que são o mais importante”, né?
Sem acarajé
Paulo Leandro também critica a descaracterização dos estádios baianos. “Não tem mais acarajé ou abará. O torcedor tem que comer um ou outro sanduíche de R$ 13, que ninguém sabe há quanto tempo está lá”, diz.
Fim da tradição
No Mineirão, causou polêmica em 2016 o aumento do preço e a “gourmetização” do tradicional feijão tropeiro, que era servido no prato de plástico e passou a ser vendido em insossas quentinhas de isopor.
\'Tudo o que a civilização sufoca leva ao tédio\'
“Tudo o que a civilização sufoca demais nos torna chato e leva ao suicídio e leva ao tédio. Entre o desejo e o tédio, buscamos um jeito de não se matar. O futebol é ótimo para isso e se divertir bastante com as coisas curiosas e divertidas, além das inesperadas”, analisa o pesquisador.
Próximo clássico
O próximo Ba-Vi está marcado para 27 de abril, no Barradão, pela semifinal da Copa do Nordeste. A partida de volta acontece na Arena Fonte Nova, três dias depois, um sábado, para definir o classificado à final.
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