
Internacional
Doador de sêmen transmite mutação ligada a câncer grave na Europa
Crianças concebidas com espermatozoides afetados podem ter herdado a mutação e transmiti-la às próximas gerações

Foto: Freepik
Uma investigação da EBU Investigative Journalism Network revelou um caso sem precedentes na reprodução assistida. O sêmen de um único doador dinamarquês foi usado por 17 anos em 67 clínicas de 14 países, resultando em pelo menos 197 crianças. O uso excessivo ultrapassou limites nacionais e expôs famílias ao risco de uma mutação genética grave ligada a cânceres agressivos. Em novembro de 2023, após confirmar a mutação em amostras ainda armazenadas, a European Sperm Bank bloqueou o doador e notificou autoridades pelo sistema europeu de alerta para materiais humanos.
Apesar disso, muitas famílias só foram informadas muito tempo depois. Em alguns casos, clínicas perderam registros durante mudanças de sistema e localizaram pacientes manualmente. Em outros, pais descobriram a conexão apenas ao encontrar famílias semelhantes em grupos de redes sociais. A Autoridade Dinamarquesa de Segurança do Paciente acredita que algumas famílias ainda desconhecem o risco.
O doador, identificado como “Doador 7069” ou “Kjeld”, teve seu material distribuído a partir de 2005. Ele havia passado nos testes exigidos à época, mas parte de seus espermatozoides tinha uma mutação inédita no gene TP53, associada à síndrome de Li-Fraumeni, que aumenta de forma significativa o risco de tumores, inclusive na infância. Como a alteração estava presente apenas em alguns gametas, ela não aparecia em exames comuns.
Crianças concebidas com espermatozoides afetados podem ter herdado a mutação e transmiti-la às próximas gerações. Quando uma família é identificada, o acompanhamento envolve exames periódicos, como ressonâncias e ultrassons, além de avaliações frequentes para detectar sinais iniciais de tumores, um monitoramento contínuo que pode durar toda a vida.
Documentos obtidos pela EBU mostram que o material do doador circulou em escala incomum. Na Dinamarca, foram 99 crianças, o dobro do limite recomendado. Na Bélgica, houve 53 nascimentos, quase dez vezes o máximo permitido. Na Espanha, foram 35 crianças, apesar do limite de seis. Alemanha, Grécia e Suécia também registraram casos, incluindo crianças afetadas. Houve ainda envios para Irlanda, Polônia, Albânia e Kosovo, onde não há registros de nascimentos.
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