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Artigo de Sebastião Nery: O turbante e o camisolão

Internacional

Artigo de Sebastião Nery: O turbante e o camisolão

Artigo de Sebastião Nery: O turbante e o camisolão

Foto: Tácio Moreira/Metropress

Por: Sebastião Nery no dia 01 de julho de 2015 às 12:47

Atualizado: no dia 06 de julho de 2015 às 10:46

RIO - Na frente, um árabe com seu turbante. Atrás, um africano com seu camisolão. No meio, eu e a namorada com nosso medo. Impossível não ter medo aéreo naquele final da década de 1980. Os aeroportos da Europa tinham virado campos humanos minados.Todos desconfiando de todos. Cada um imaginando onde o outro estava escondendo a bomba, a granada, que daí a pouco poderia explodir, lá no céu, o avião e todos.              

Nós na fila do voo da Alitália para Atenas e, ao lado, a fila para a Tunísia, homens com turbantes, barbas cerradas e caras fechadas e mulheres de longos vestidos negros e negros véus na cabeça, A fila deles começou a andar, ficamos olhando, calados. O pensamento coletivo boiava indisfarçado no ar. Quantos iranianos haveria ali? E se um fosse terrorista? 

A centopeia do medo foi andando devagar, desapareceu. 

Era nossa vez. O policial do controle pega o passaporte do árabe do turbante que está à nossa frente, olha, esmiúça, confere, desconfiado. Vai ao computador, dedilha, espera, nada consta, deixa passar. Os nossos passaportes ele mal olhou. Só perguntou: - Brasile? Carimbou e passamos. 

O africano do camisolão, atrás de nós, empacou. O mesmo rito da desconfiança. Conferem tudo, digitam o computador, nada consta. Olham agressivamente para o rosto negro, árido, escalavrado, do africano tenso, mandam sair da fila, chamam um chefe, saiu com ele. E a fila medrosa. 

Depois do passaporte, outro obstáculo: o controle de bagagens, bolsas, objetos pessoais, o corpo. Vem o detector de metais, que apita quando flagra. O árabe do turbante passa tranquilo. Não tinha um ninho de metralhadora ali dentro. O africano do camisolão ficara lá com o chefe. 

E vem um apito fino, estirado, “piiiii”! Todo mundo olha. É ela, a terrorista. E bem disfarçada. Alta, elegante, cara de italiana, chapéu italiano, óculos italianos, botas italianas. Aparecem três policiais femininas, olhos aflitos, levam-na ao lado como se já estivessem acusando: - “Abra o jogo e a arma!” Não era. Apenas o isqueiro. Entregou, passou. Sem apito. O medo do terrorismo tinha virado racismo e paranoia. 

A BOMBA

Afinal, estávamos na sala de embarque. Chamam. Vamos de ônibus para o avião, um “Air-bus” da Alitalia, lá longe no campo úmido, na manhã de 10 graus. O ônibus pára, mas ninguém salta, ninguém entra. Vamos esperar. “Houve um pequeno problema”, explicam os funcionários. Era ela. 

Só podia ser ela. A bomba. Estariam tentando desativar? 

Embarcamos. Um leve, lindo, macio voo sobre o azulado Adriático. A aeromoça, com enormes óculos redondos, servia vinho para o almoço, quando o comandante pede atenção: 

- “A partir deste instante é proibido fumar. Apaguem seus cigarros, até que o sinal de proibição também se apague. É uma pequena emergência. Espero que dentro de quinze minutos já voltemos à normalidade”. 

Só podia ser ela, a bomba terrorista, afinal flagrada e acuada pelos comissários, como uma onça enlouquecida. Acender cigarro era acender a bomba e voar tudo pelos ares. Iam desativar. O murmúrio foi crescendo e absolutamente nada aconteceu. Não havia bomba nenhuma.  

A aeromoça de óculos redondos deixou comigo uma oportuna garrafinha de vinho e logo comecei a ver, lá embaixo, as escarpadas colinas da Grécia, como o chão crespo do céu.

MARQUETEIROS

O advogado Airton Soares foi um grande deputado. Dias atrás, no jornal da TV-Cultura, de São Paulo, onde debate assuntos nacionais com o também brilhante historiador Marco Antonio Villa, mostrava que o “marketing político” transformou as eleições em autentica farsa. O debate público foi substituído pelos textos escritos pelos marqueteiros, com os candidatos lendo nos “teleprompter”, como “bonecos falantes”. 

É preciso restaurar o sentido verdadeiro do horário político, eliminando a maquiagem eletrônica que consagra a mentira e o despreparo. 

O “marketing político” só pensa em enganar o eleitor. O “marketing público” pensa no cidadão e debate as políticas públicas, começando por enquadrar o “marketing político” no Código de Defesa do Consumidor, que no artigo 37 diz que “é proibida toda publicidade enganosa ou abusiva”. 

O Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária define: 

- “Todo anuncio deve ser honesto e verdadeiro e respeitar as leis”.      

Os marqueteiros políticos atropelam a Lei, com a conivência do Tribunal Superior Eleitoral e dos Tribunais Regionais Eleitorais. 

Continuam iludindo multidões, como fizeram nas últimas eleições presidenciais, com os truques do marqueteiro João Santana. 

Na Velha Grécia, Sócrates já alertava com ironia: 

- Para construir uma casa ou um navio as pessoas escolhem gente competente, já o Estado, pode ser entregue a qualquer um? 

www.sebastiaonery.com   nerysebastiao@gmail.com