Faça parte do canal da Metropole no WhatsApp >>

Segunda-feira, 22 de abril de 2024

Home

/

Notícias

/

Jornal da Metropole

/

Vinte anos após Lei Antimanicomial, governo federal injeta recursos em hospitais psiquiátricos

Jornal Metropole

Vinte anos após Lei Antimanicomial, governo federal injeta recursos em hospitais psiquiátricos

Ao mesmo tempo, Centros de Atenção Psicossocial são ignorados e enfrentam dificuldades

Vinte anos após Lei Antimanicomial, governo federal injeta recursos em hospitais psiquiátricos

Foto: Reprodução/Freepik

Por: Adele Robichez no dia 04 de agosto de 2022 às 16:30

Reportagem publicada originalmente no Jornal da Metropole em 4 de agosto de 2022

O Ministério da Cidadania publicou um edital para distribuir R$ 5,7 milhões a 19 hospitais psiquiátricos. A medida acontece 20 anos após a Lei da Reforma Antimanicomial, que defende o tratamento de pessoas com transtornos mentais fora de lugares como estes.

A injeção de recursos também contrataria a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que avalia, desde os anos 70, como contrário aos princípios dos Direitos Humanos o isolamento de pacientes psiquiátricos da sociedade.

A lei fez com que o Ministério da Saúde determinasse, em 2002, a substituição dos chamados “manicômios” por Centros de Atenção Psicossocial (Caps) – que hoje enfrentam dificuldades pela falta de recursos.

Em comentário na Rádio Metropole, o psiquiatra Marcelo Veras classificou a ação como uma “contrarreforma antimanicomial”.

“Como tratar algo como a doença mental, que é uma perda do contato com a realidade, com menos realidade ainda, dentro de uma internação?”, questiona Veras, em trecho do comentário.

Na mesma linha, o também psiquiatra Antônio Nery repudiou o retrocesso do governo de Jair Bolsonaro (PL). A fala foi feita em entrevista na Rádio Metropole.

“Não há bom manicômio, não há como cuidar de alguém [...] enchendo a pessoa de remédios, destituindo a pessoa da sua dignidade”, afirmou.

Sobre a apelidada “contrarreforma”, o médico espera que não seja consolidada pela resistência do movimento antimanicomial. “Acho que as famílias e os pacientes usuários dos Caps vão resistir a isso, como já resistiram”, declarou.

A Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas (Senapred), do Ministério da Cidadania, responsável pela publicação do edital, foi procurada, mas não respondeu.

Já a Associação Psiquiátrica da Bahia (APB) reforçou que é favorável ao investimento, considerando a “falta de leitos para internação psiquiátrica”

 

Os Insênicos

 

Enquanto o governo federal favorece os hospitais psiquiátricos, projetos buscam a emancipação das pessoas com transtornos mentais. Em Salvador, o grupo teatral ‘Os Insênicos’ reúne, há 12 anos, pacientes do sistema de saúde mental no Pelourinho.

A psicóloga e diretora teatral Renata Berenstein diz que a iniciativa surgiu como uma “forma de cuidado que não seja o modelo manicomial”.

Uma das participantes do projeto viveu 30 anos isolada em um manicômio, dos 14 aos 34 anos. Após a sua primeira apresentação, Renata relembra que a mulher revelou que tem muito medo de morrer. Questionada, ela afirmou que a sua vida só tinha começado naquele momento, depois que saiu do hospital psiquiátrico.

“O que produz vida está fora do muro”, observa Renata.