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Um tiro no peito do golpe: Série do Jornal Metropole relembra suicídio de Getúlio Vargas

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Um tiro no peito do golpe: Série do Jornal Metropole relembra suicídio de Getúlio Vargas

O suicídio de Getúlio Vargas, em agosto de 1954, adiou os planos dos militares golpistas que acabaram tomando o poder em 64 no Brasil

Um tiro no peito do golpe: Série do Jornal Metropole relembra suicídio de Getúlio Vargas

Foto: Reprodução/Arquivo Nacional

Por: Nardele Gomes no dia 17 de agosto de 2023 às 11:21

Atualizado: no dia 17 de agosto de 2023 às 11:49

Reportagem publicada originalmente no Jornal Metropole em 17 de agosto de 2023

Agosto de 1954. O Brasil atravessava uma das crises políticas mais sérias de sua história recente. Como se não bastassem a divisão política entre governo e oposição, a crise econômica e até mesmo os atritos entre o país e os interesses estrangeiros, o atentado da Rua Tonelero levou a situação a níveis insustentáveis.

No dia 5 daquele mês, Carlos Lacerda, ferrenho opositor do governo de Getúlio Vargas, foi vítima de emboscada armada na porta de sua casa pela guarda pessoal do presidente e acabou ferido no pé. Seu guarda-costas, o Major da Aeronáutica, Rubens Vaz, acabou morto. Somava-se à crise política, social, econômica e institucional, uma crise militar.

Depois que a placa do carro usado pelo pistoleiro foi divulgada pelas rádios, o motorista se entregou à polícia e deu o nome de quem o contratou: Climério Euribes de Almeida, membro da guarda pessoal de Vargas. Estava feita a ligação entre o crime e o Palácio do Catete.

Àquela altura, Vargas admitia a possibilidade de renunciar, mas seu ministro Oswaldo Aranha o aconselhou a exercer o mandato até o fim. Outro ministro de Vargas, Tancredo Neves, também levou ao presidente um conselho, a extinção da guarda pessoal. “Não era possível que ele mantivesse a guarda, quando sobre ela caíam suspeitas com tantos indícios de veracidade”, disse em entrevista, anos depois. O presidente acabou cedendo e extinguiu a guarda.

Lacerda exigia a renúncia em seu jornal Tribuna da Imprensa. Na Câmara, o líder das minorias, Afonso Arinos de Melo Franco, fez um discurso feroz. “Será mentira o sangue que rolou na sarjeta da Rua Tonelero? Lembre-se homem, dos homens deste país e tenha coragem de ser um desses homens, não permanecendo no governo se não for digno deste governo que tão indignamente exerce”. Depois do desfecho trágico daquela sequência de eventos, Afonso Arinos conta que se arrependeu do discurso.

O nome de Gregório Fortunato, chefe da antiga guarda pessoal de Getúlio, já era citado como o mentor da ideia de assassinar Carlos Lacerda. O pistoleiro foi preso em 13 de agosto. As manifestações de rua tomaram o Brasil.

Dois dias depois, o próprio Getúlio Vargas determinou a prisão de Gregório Fortunato. O jornalista Samuel Weiner, em entrevista ao programa Globo Repórter, numa edição de 1980, disse que Gregório era um primitivo, e portanto agia em função das suas paixões. Para ele, “Gregório tinha assumido uma tal projeção junto a Getúlio que já era quase que a segunda pessoa da República”.

A caçada a Climério Euribes chegou ao fim, e ele deu o nome que faltava. Gregório Fortunato era mesmo o mentor da tentativa de matar Carlos Lacerda. Café Filho, vice-presidente, sugere a Vargas a renúncia dos dois. Vargas resiste.

Na noite de 23 de agosto, Getúlio se encontra com seu ministério numa reunião dramática que entrou pela madrugada. Após a reunião, o presidente se recolhe.

Na manhã seguinte, as rádios anunciavam em edição extraordinária: “o presidente Getúlio Vargas acaba de se suicidar no Palácio do Catete.”

Com o suicídio do presidente, a crise no país seguiu outro rumo. As rádios liam a todo instante a carta testamento. A população vai às ruas, agora em direção aos opositores do presidente, o “Pai do povo”. Os militares, que estavam prontos para derrubar o presidente, não esperavam a atitude drástica de Vargas. O golpe acabou sendo adiado por 10 anos, e aconteceu em 1964. E isso não é outra história. É outro episódio da mesma história. A história do Brasil.