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Esvaziamento da orla soteropolitana causada pela derrubada das barracas assombra barraqueiros da RMS
Em um movimento carregado de elitismo, as barracas que ocupavam a faixa de areia da orla soteropolitana foram derrubadas em 2010
Foto: Preftura Camaçari/Thiago Pacheco
Matéria publicada originalmente no Jornal Metropole em 23 de janeiro de 2025
Na areia das praias de Camaçari e Lauro de Freitas o fantasma da derrubada das barracas vêm assombrando e causando preocupação nos comerciantes. E não é para menos, afinal a referência que se tem há 15 anos é a orla soteropolitana, onde as barracas foram retiradas da areia por uma decisão judicial e, desde então, nenhum projeto conseguiu recuperar a força da praia como espaço de renda e de lazer.
Em um movimento carregado de elitismo, as barracas que ocupavam a faixa de areia da orla soteropolitana foram derrubadas em 2010. Descrevendo os equipamentos como “favelas na areia”, o juiz Carlos D’Ávila Teixeira, da 13ª Vara da Justiça Federal, determinou, em decisão liminar que até hoje não teve o mérito julgado, a retirada de 352 barracas da praia - junto com elas, foram abaixo a renda e o lazer de muitos soteropolitanos. Desde então, banhistas fogem para as praias de Lauro e Camaçari e barraqueiros soteropolitanos perderam 90% do faturamento.
Salvos pela fronteira
O primeiro alvo dessa derrubada em massa seria Ipitanga, que marca a divisa entre Salvador e Lauro de Freitas. Depois de muita resistência e barulho, em 2011, 35 barracas foram ao chão, mesmo diante da disputa de CEP, afinal até hoje há uma confusão sobre onde de fato termina a capital e começa a cidade vizinha. Anos depois, em 2017, o mesmo juiz notificou a prefeitura de Lauro de Freitas para que as outras barracas da região fossem também derrubadas.
Paraíso gourmet
Naquele mesmo ano, em 2017, a prefeitura apresentou ao juiz um projeto de requalificação que retirava as barracas da areia de Ipitanga. A proposta, no entanto, só foi aprovada pelo magistrado em 2024. Agora, a região já vem sendo ocupada por máquinas e tapumes, enquanto as obras dão indícios de que um ‘paraíso gourmet’. A previsão é que o mesmo aconteça nas outras praias do município.
Dona de um quiosque na praia de Ipitanga, Rita de Cássia revela que até queria que a região fosse reorganizada, mas não esconde o receio do impacto da saída da faixa de areia, como aconteceu em Salvador. “Ainda não sei como vai ser, cada um fala uma coisa […] e eu não tenho outra forma de ganhar dinheiro”, lamenta.
Em Camaçari, onde o fantasma da derrubada também assombra, a prefeitura chegou a negociar a retirada de 172 barracas em 2010, por meio de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). No entanto, o cenário dos últimos dois anos foi de turbulência para os barraqueiros do município. Com a gestão de Elinaldo Araújo (União), a ordem era de retirada imediata das barracas, sem pensar em uma requalificação ou realocação dos trabalhadores.
A advogada Nubia Carvalho, representante da categoria, destaca que a intenção não é lutar desrespeitando a Justiça, mas garantir condições dignas de trabalho. Ela é mais uma que tem a orla soteropolitana como referência do que não pode acontecer, em especial, em Camaçari, município com forte apelo turístico justamente pelas praias. “[Em Salvador] retiraram as pessoas de um ambiente de empreendedorismo e as submeteram, de repente, a uma situação de suposta empregabilidade”.
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