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Fábrica de soteropolitanos: CMS já propôs concessão de 43 títulos de Cidadãos de Salvador

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Fábrica de soteropolitanos: CMS já propôs concessão de 43 títulos de Cidadãos de Salvador

Se continuar nesse rendimento, ao final da legislatura serão cerca de 250 novos soteropolitanos “colocados” na terrinha apenas pelo trabalho dos vereadores

Fábrica de soteropolitanos: CMS já propôs concessão de 43 títulos de Cidadãos de Salvador

Foto: CMS/Reginaldo Ipê

Por: Mariana Bamberg e Vitor Bahia no dia 04 de setembro de 2025 às 07:47

Materia publicada originalmente no Jornal Metropole em 4 de setembro de 2025

Salvador pode até estar registrando queda populacional, menos nascimentos e mais mortes, como apontou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na última semana. Mas calma: há um grupo de 43 pessoas empenhadas em fazer novos soteropolitanos (não pelas vias naturais, diga-se de passagem). São os vereadores de Salvador, que só nestes primeiros oito meses do ano já propuseram a concessão de 43 títulos de soteropolitanos.

Se continuar nesse rendimento, ao final da legislatura serão cerca de 250 novos soteropolitanos “colocados” na terrinha apenas pelo trabalho dos vereadores. Vejam só: 43 que em 4 anos se multiplicam em mais 250 sem a espera dos nove meses. Só não será mais do que isso porque o Regimento da Câmara Municipal estabelece que cada vereador pode sugerir até seis projetos de concessão de honrarias por legislatura. Uma brecha maior e os vereadores conseguiriam sozinhos “substituir” os cerca de 5 mil moradores que Salvador perde por ano.

Sim, substituir entre aspas, porque esses novos cidadãos não necessariamente precisam morar em Salvador ou viver as lamúrias e satisfações da cidade. É o caso do ainda deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL), que hoje é muito mais cidadão norte-americano, mas que, em 2022, já recebeu o título de Cidadão de Salvador por “sua atuação como parlamentar” (hoje cumprida à distância, direto dos Estados Unidos) e por “nunca ter medido esforços para vir a Salvador participar de discussões do interesse da cidade” – isso tudo segundo as palavras do vereador Alexandre Aleluia, que propôs a honraria.

Líderes na procriação

Só naquela legislatura, entre 2021 e 2024, Alexandre Aleluia propôs outras cinco homenagens, a nomes como Ronaldo Ramos Caiado, governador de Goiás; Mário Frias, ex-secretário de Cultura do governo Bolsonaro; e o ex-ministro Anderson Gustavo, integrante do "núcleo 1" da investigação sobre os atos de 8 de janeiro. Apesar do esforço, ele não está entre os maiores contribuidores para o crescimento da população soteropolitana nesse novo ciclo. Ele fica atrás de Anderson Ninho e Aladilce, cada um com três propostas já nos primeiros oito meses de legislatura.

Conectados a agendas

A procriação tem classe. Médicos, advogados, artistas, esportistas (como Everton Ribeiro, capitão do Bahia), jornalistas (de televisão), cônsules, empresários. Se dependesse desses cidadãos soteropolitanos, Salvador seria um pouquinho diferente. E o período de gestação é planejado. No caso dos artistas, por exemplo, o projeto é apresentado, passa pelos colegiados, é votado – tempo necessário para posteriormente o artista vir a Salvador em agenda de apresentação e, por coincidência ou não, dar um pulinho para receber o título na Câmara. Com Fafá de Belém foi assim, o projeto foi sancionado em julho e em agosto ela se apresentou nas celebrações do aniversário de Irmã Dulce.

Ainda bem que há quem se preocupa com o volume da população soteropolitana. Se dependêssemos apenas do Ibge…

Mais honrarias

Os títulos de soteropolitano não são um mero caso isolado. Tem ainda Medalha Irmã Dulce, Medalha do Mérito Cultural, Medalha de Mérito Ambiental Mário Leal Ferreira, Medalha Zumbi dos Palmares, Comenda Maria Quitéria e a Medalha Thomé de Souza, que é exatamente a mesma proposta do Título de Cidadão Soteropolitano, muda apenas os autores do texto. Em apenas duas sessões, de abril e junho, houve 25 propostas dos mais diversos títulos e honrarias para pessoas que “tiveram ações em prol do desenvolvimento da cidade”. Enquanto isso, no mesmo período, servidores municipais protestavam na Câmara por soluções para reajustes salariais.