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Projeto de Lei ameaça cortar com avenidas o último grande respiro de Mata Atlântica em Salvador

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Projeto de Lei ameaça cortar com avenidas o último grande respiro de Mata Atlântica em Salvador

Com trechos de restinga, zonas úmidas, espécies raras, Vale Encantado fica às margens da Avenida Paralela

Projeto de Lei ameaça cortar com avenidas o último grande respiro de Mata Atlântica em Salvador

Foto: Divulgação/SOS Vale Encantado

Por: Daniela Gonzalez no dia 18 de setembro de 2025 às 06:53

Atualizado: no dia 18 de setembro de 2025 às 18:03

Matéria publicada originalmente no Jornal Metropole em 18 de setembro de 2025

Se depender de um projeto de lei que tramita na Câmara Municipal de Salvador, a bruxa está solta no Vale Encantado — e desta vez não há final feliz de Xuxa e seus duendes. Um dos últimos respiros de Mata Atlântica da capital, com mais de 1 milhão de metros quadrados de floresta nativa às margens da Avenida Paralela, pode ser atravessado por um sistema viário.
A tal bruxa atende pelo nome de Projeto de Lei nº 175/2024, enviado pela Prefeitura. A proposta autoriza a abertura de um sistema viário dentro da área de preservação e já percorre corredores políticos na Câmara Municipal de Salvador, enquanto ambientalistas e moradores denunciam o feitiço contra a cidade.

Para o Coletivo SOS Vale Encantado, o PL ameaça diretamente o equilíbrio ecológico da região: desmatamento em áreas de proteção rigorosa, degradação de nascentes, rios e lagoas, além de agravar as já tradicionais enchentes e ilhas de calor da cidade. A ironia apontada pelo grupo é que estudos técnicos indicam não haver necessidade da obra: as vias já existentes — a Avenida Tamburugy e a Rua Geraldo Del Rey — dariam conta do recado.

Da compensação ao castigo ambiental

O projeto é de autoria do Executivo Municipal, mas a coordenadora do coletivo, Carol Lorenzo, aponta um “detalhe” desconsiderado por ele: o parque foi estabelecido como compensação ambiental na implantação de condomínios vizinhos. Ou seja, ele foi apontado pela própria gestão municipal como uma forma de compensar os impactos negativos desses empreendimentos imobiliários e agora é colocado em risco pela mesma administração.

Mas não foi só esse “detalhe”: o diálogo e a transparência também foram esquecidos, aponta a coordenadora do coletivo. “Não houve nenhum diálogo, nem consulta, nem nada. Nós não sabíamos da existência dessa PL. A gente só soube depois da segunda audiência pública. A gente foi pego de surpresa. O Projeto não citava o nome do Vale Encantado, mas a gente viu que estava dentro da poligonal”, afirmou.

O PDDU vira letra morta

Na Comissão de Constituição e Justiça, apenas a vereadora Aladilce Souza (PCdoB) votou contra o projeto. Em seu parecer, ela aponta que o PL atropela o PDDU (Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano), criando Zonas de Uso Especial não previstas. “E isso abre mais uma vez um precedente para alterações fragmentadas do PDDU sem observância do rito especial”. 

Um feitiço contra o último rio livre de Salvador

O Vale Encantado não é só floresta. Ali resistem trechos de restinga, zonas úmidas, espécies raras e ameaçadas, além de corredores ecológicos que mantêm a fauna viva. Mas o tesouro maior talvez seja o Rio Passa Vaca, último curso d’água da cidade que corre livre, sem canalização, guardando sua mata ciliar. Se o projeto avançar, ele pode ser a primeira vítima da bruxa urbanística que insiste em rondar Salvador.