Emagrecimento à mão armada: assaltos a farmácias expõem caos que acompanha busca pelo corpo perfeito

Parecia cena de filme: homens fortemente armados invadindo farmácias e saindo com caixas e mais caixas de um único medicamento. Um enredo digno de ficção científica apocalíptica — não fosse a realidade.

Só mesmo o “apocalíptica” para explicar o episódio (ou a série de episódios) de assalto a farmácias com o alvo em medicamentos originalmente criados para o tratamento de diabetes e depois desvirtuados para o uso de quem quer perder quatro ou cinco quilinhos com rapidez e facilidade - as famosas canetas emagrecedoras. Deve ser realmente o fim do mundo, como anunciado por Baby do Brasil no Carnaval deste ano.

“Bora, passa as canetas”, devem ter ordenado os assaltantes.

Só no período entre janeiro e setembro deste ano, a Polícia Civil registrou 209 assaltos a farmácias em Salvador e Região Metropolitana. Mas o número já é muito maior: em 24h, no último final de semana, cinco farmácias foram assaltadas entre Salvador e Lauro de Freitas. Na segunda, mais uma, com direito a bandidos fortemente armados e troca de tiros: tudo isso para levar caixas de Ozempic e Monjauro, os mais famosos desses medicamentos que podem chegar a R$ 3 mil.

Farmácia virou cofre

Não é à toa que os cenários desses episódios são, em sua maioria, bairros de classe média alta - Pituba, Horto Florestal, Corredor da Vitória. Lá, por conta do poder aquisitivo de seus moradores, as farmácias têm estoques maiores desses medicamentos.

Foi preciso até uma operação específica da Polícia Civil com nome chique (Apotheke) e mais de 200 agentes na rua para combater o roubo de canetas emagrecedoras. Ela mirava um quadrilha que atuava de forma organizada nesse tipo de assalto.

Baby avisou

Aos roteiristas de plantão, preparem as canetas (não as emagrecedoras), porque o plot twist do filme vem aqui: toda essa corrida, inclusive armada, é porque obviamente tem gente desespera por esses produtos que prometem emagrecimento em uma picadinha. Mas, no final das contas, eles entregam também, de brinde, uma série de efeitos colaterais, como insônia, taquicardia, pressão alta, risco de câncer de tireoide, de pancreatite, de problemas renais e gastrointestinais. Coisa dessas narrativas futuristas em que o ser humano já alcançou de tudo e agora perde tudo (até mesmo a saúde) por futilidades.

E o fio narrativo não para por aqui, porque além de assalto, essa febre vem desencadeando ainda falsificação, contrabando e até venda irregular em clínicas. Pois é. Parece que Baby estava certa.